domingo, 14 de dezembro de 2008

Sem as cortinas

Faz uma semana que meu professor favorito, Luiz Augusto Crispim, faleceu. Eu não pude ir ao velório porque estou a muitos kms de distância, mas confesso que mesmo se estivesse em João Pessoa não teria ido. Não faria sentido ver alguém, que me ensinou sobre transcendência, estático na minha frente.
Crispim não me ensinou muita coisa de Ética Jurídica, nem sobre o que cairia desta matéria no exame de ordem. Mas me ensinou a viver poeticamente. Com os textos que ele escrevia todos os dias no jornal local (e que, infelizmente, não tinha mais acesso há alguns meses) eu me sentia como Sancho Pança, que sentia sua ignorância e racionalidade dissipar-se com os devaneios de Dom Quixote.
A aula da saudade que ele proferiu na minha turma, há quase 2 anos, sempre ecoa na minha mente como uma lembrança que me faz chorar, pela transitoriedade das coisas. Ainda me lembro daquela frase: "Estranho esse sentimento que me restou. Aqui alegre e logo ali, tão triste." Foi exatamente assim que me senti quando fui chamada a vir morar em Brasília. A beleza dos poetas está, em justamente, saber definir sentimentos indeléveis. Crispim continuou me ensinando mesmo depois das minhas aulas acabarem. E vai continuar me ensinando durante todo o tempo que me restar.
E fico pensando nesse mistério da continuidade. Como as pessoas deixam reflexos em nós, como elas conseguem estar presentes mesmo quando ausentes.
Acho que isso acontece através do amor. O amor faz com que nossos atos, nossa fala, nossa personalidade sejam ecos daqueles que amamos.
Nesta semana eu escrevi uma cartinha para um menino que escreveu para o Papai Noel pedindo a roupa do homem-aranha. Na carta, ele dizia que comia mingau de fubá todos os dias e não via a hora de crescer para ajudar sua mãe,"botando dinheiro em casa". Mandei o presente e respondi a carta dizendo que era Papai Noel, mas que ele podia me chamar também de Papai do Céu.
Me lembrei muito de Crispim ao escrever a carta. Porque de algum jeito, o que ele escrevia ressuscitava algo em mim todos os dias. Eu gostaria muito de fazer com que aquele menino aprendesse a não desacreditar da vida - embora isso pareça tão difícil na situação dele- como um dia Crispim me ensinou.Da mesma forma que aquele meu professor um dia me ressuscitou dos dias em que a tristeza parecia me consumir, eu gostaria de devolver esta ressuição para alguém.
Acho que o sentido da vida está justamente na capacidade de ressuição que temos, seja de nós mesmos, seja de outro alguém, a quem nos cabe ressuscitar, tirar do sepulcro e mostrar que a vida ultrapassa um momento.
Quando respondi a Wenêdiom (o menininho da carta), quis imbuí-lo de um sentimento de esperança e da certeza de um amor escondido, que quase ninguém vê, mas que ele podia sentir a cada dia em que, mesmo triste, ele sonhava com um futuro melhor.
A gente consegue sonhar porque tem fé em alguma coisa. E acho que a tarefa mais urgente que temos na vida é de ter fé e de restaurar a fé que se perde a cada dia em que as coisas dão errado. Fé em si mesmo, fé na vida, fé em Deus.
Eu ando perdendo minha fé. Mas quando a perco, lembro da aura de Crispim, que parecia viver em um plano mais alto,mais claro,mais vivo. Como se a vida cotidiana fosse o pano, através do qual a verdadeira vida se escondesse. E essa vida tinha palavras lindas, cheiros, cores, personagens...Acho que Crispim anda feliz, porque agora não precisa mais do pano. O que resta é a Saudade. E como você mesmo dizia, professor:

"Deus quando insuflou o amor no coração dos homens, já combinou com a Saudade:
-Vais morar com o Amor, porém, só revelarás a tua face nos instantes em que os olhos já não puderem enxergar o que sente o coração.
Esse é o destino da Saudade.
Morar com o Amor, a vida inteira, e só mostrar o rosto na hora da partida."

sábado, 22 de novembro de 2008


Eu vou ser sincera. Eu amo o dia 22 de novembro. Não só porque é meu aniversário, mas porque os números diferentes repetidos parecem um pouco comigo: meio igual, meio diferente, mas só um. E também porque, desde pequena, sempre esperei o dia 22/11 pra ganhar uma festinha, pra cantar parabéns e essas coisas todas. Nesse ponto, eu continuei criança. Passo o ano inteiro meio que esperando o dia 22 pra agradecer a Deus os presentes que recebi durante o ano inteiro. Este sábado é singular pra mim, porque foi o primeiro aniversário que passei longe do meu lar, precisamente em Caldas Novas (Um Boqueirão quente!). Meus pais vieram pra tentar amenizar minha solidão, ao lado de Dan. Confesso que foi um dia bom, mas agora há pouco desatei a chorar. Estava com saudade(pra variar)...Saudades dos meus amigos, dos meus irmãos, e principalmente senti falta da minha avó. Mas como eu não sou de esmorecer, ainda mais no dia em que vim ao mundo, decidi vir atrás de uma lan house pra sentir a presença das pessoas na minha vida, mesmo pelo orkut.

E digo que agora, estou com um baita sorriso no rosto e muita vontade de dizer a cada um a importância que cada voto de felicidade tem pra mim.É por isso que eu acredito em Deus. Ele está sempre por ali, ouvindo nosso coração e tentando dar um jeito de melhorar as coisas. Ele faz a parte dele, e nós a nossa. Ele deu poder a cada pessoa pra fazer diferença na vida de alguém. E eu posso garantir que vocês fazem diferença- a grande diferença- na minha vida, que faz com que eu tenha muitos e ao mesmo tempo um único motivo pra comemorar, tendo a mais absoluta certeza que o dia 22 de novembro de 1983 valeu a pena.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Em agradecimento a Fabiano, e com uma mensagem especial para Luana, aí vai o soneto da transformação...E como Deus é pai, mãe, irmão, amigo e tudo mais e Ele me dá a cada dia mais motivos para acreditar na vida e na sua sincronicidade, as coisas estão caminhando bem, enfim. Aliás, mui bien, como diria Nora. Tudo parece fazer sentido com o passar do tempo, até mesmo as saudades. As descobertas e as encobertas. Esse soneto deveria ter o título: "Calma, tudo acaba bem..." ;)


O verbo no infinito
(Vinícius de Moraes)

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

sábado, 1 de novembro de 2008

Hoje sonhei com Sofia me acordando, e Vovó me chamando pra tomar café. Meu pai escutava a música Michele, dos Beatles (que durou o sonho inteiro) e minha mãe, com meus irmãos, brincavam com Renan. Eu estava numa casa à beira-mar e quando me toquei que "casa à beira-mar" era meu sonho, senti que estava sonhando. Quando acordei, vi que estava só. E chorei. Chorei muito. Pela gradação dos posts, amanhã vai ser melhor...

Soneto de Separação
(Vinícius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008


Estou feliz. "Ainda que D.Sebastião não volte", como diria Dom Quixote, ainda que eu esteja longe de tanta gente que eu amo, ainda que eu esteja me adaptando a uma cidade e pessoas novas, ainda que existam tantos aindas, eu estou feliz. E não é por eu ter motivos para tanto (e ainda bem que eu tenho...), mas é pelo fato de não mais me preocupar em satisfazer absolutamente ninguém antes de mim mesma.

Quando decidi ser feliz, fiz escolhas diferentes, tentei caminhos diferentes e hoje sinto que consegui um resultado diferente do que sempre tive. Por algum motivo que só Deus sabe, vivi até hoje sonhando com uma "vida perfeita". Mas a "vida perfeita" nunca foi perfeita para mim. Fui descobrindo isso aos poucos. E, ao mesmo tempo, fui me descobrindo. Vendo o que me fazia bem efetivamente, diferente do que eu achava que me fazia bem e não era verdade. Aliás, eu acho que vale a pena buscar a verdade. Tirar tudo o que não for nosso, tudo o que sobra, tudo o que envaidece, tudo que for além do que deve ser.

Hoje me mudei para meu novo "apertamento" (aqui em Brasília, não existem apês com metros, e sim com milímetros quadrados...). Depois de tanta busca, enfim, achei um lugar do lado do Parque da Cidade, lugar que eu mais gosto aqui. No ap não tinha mobília. Antes que eu gastasse meu primeiro salário antes mesmo de tomar posse, fiquei constrangida em comprar algo além do necessário. Não apenas porque a gente vai aprendendo a se desprender de tanta "matéria", mas também porque nunca tinha visto problemas de cidade grande tão de perto. Aqui os meninos moram embaixo das grandes avenidas, em um cubículo entre um concreto e outro, e quase sempre há fumaça de crack e sinal de fome. Eles ficam perto dos tonéis de lixo e já vi muitos, logo cedo, catando o café-da-manhã.

Então, fico me perguntando se há mesmo algo a pedir, se já tenho tudo de sobra. Só comprei a cama, levei minhas roupas e com o frigobar e o fogão de 2 bocas, acho que não preciso mais de muita coisa. Quero aprender a ser mais simples, a desejar menos, consumir menos, a viver feliz com o que eu tenho, com o que eu sou.

Acho que precisei "sentir Brasília na pele", ver que aqui quase tudo gira em torno de dinheiro e status, pra perceber que,definitivamente, não é isso que eu busco. Claro que dinheiro é importante (e muito), mas a gente tem que saber ser dono e não escravo dele. E status é algo que aboli da minha vida há algum tempo. Status de relacionamento, de profissão, de endereço,de carro, de msn! Status serve mais pros outros que pra nós. Por muito tempo, vivi na pele aquela frase de Clarice Lispector: "é incômodo ser dois. Eu pra mim e eu para os outros." Agora não. A única coisa em que me preocupo hoje é ser feliz. Sendo só uma mesmo. E isso dá um trabalho...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Paraibanas x Paraibanas


Ainda estou no curso de formação do concurso e confesso que hoje minha paciência,meu ânimo, meu ritmo, minha alegria,minha disposição esgotaram-se. Apesar de estar meio doente, não me esgotei por causa da rotina, e sim pelas pessoas que tive o desprazer de conhecer aqui em Brasília. E por incrível que pareça, apesar dos brasilienses serem o povo mais esquisito (eufemismo p/ fdp,frise-se) que já vi na vida ( sabe aquela música do aprendiz que só fala: money,money,mone-y...? acho que deveria ser o hino daqui), a pessoa mais desagradável que já tive o desprazer de conhecer é, por mais irônico que possa parecer, uma paraibana.

Já me explico: ela é uma professora do curso (ah, por favor, nunca façam cursos na FGV. São os piores professores que já tive na vida. Se o curso envolver políticas públicas, gestão de pessoas, ESTATÍSTICA, por favor,fujam correndo!) e começou a ensinar(????????x 99) métodos quantitativos, a começar pela parte de estatística.

Eu, como uma boa aluna da Faculdade de Direito, sou uma ameba completa em cálculos e fórmulas. E nessa aula, como não poderia deixar de ser, eu simplesmente não entendi bulhufas do que a digníssima senhora dizia. A única coisa que eu entendia era o sotaque dela, e confesso que, num primeiro momento, até pensei que as origens de alguém determinam muitas de suas características. Meus colegas de curso já se animavam em conhecer a Paraíba por tanta coisa que eu sempre falo, até chegar a bruxa paraibana e acabar com toda a fama do meu estado querido em ter gente acolhedora e simpática como um de seus patrimônios culturais.

Pois bem. A minha digníssima conterrânea começou a falar besteira. Muitos dos alunos da turma são matemáticos, engenheiros, contadores e começaram a notar que a mulher não sabia de nada. Ela começou a ficar tão insegura, mas tão insegura, que engolia as palavras com rapidez para que não houvesse tempo hábil para alguém formular uma pergunta.

Eu, com a minha boca e coragem grandes, só consegui dizer: "Professora, não estou entendendo nada do que a senhora está falando."

Ela soltou os cachorros. Disse que, se eu não estava entendendo, o "azar era meu"e que eu pedisse minha exoneração antes mesmo da posse. Pra quem me conhece, sabe até que esta é a hora da risada irônica que antecede minhas respostas. Claro que respondi. Respondi sem brigar (muito), e o clima depois ficou aquele de "assistindo aula com o inimigo". Para quem, até uns 15 dias atrás, estava respondendo perguntas como professora, me senti frustrada ao não receber respostas como aluna. Mas, confesso que depois da discussão, o meu lado mulherzinha pediu pra ir ao banheiro e lá chegando, desatei a chorar (nunca na frente da pessoa, claro!).

Senti falta de colo de mãe, de cheiro de pai, de comida de vó, de abraço de irmã, de risada de sobrinho, de ombro de amigo. Senti falta de tudo, assim, ao mesmo tempo, sem distinguir muito bem o que era carência, o que era saudade, ou ecos de infância que teimavam em aparecer, sem escudos ou sombras. Me permiti chorar como um dia chorei, agachada no altar da capela da escola, me escondendo do provável castigo por ter tirado 5,5 em matemática( sempre a matemática...).

Mas ainda bem que o lado bom das coisas sempre aparece e Deus consola a gente através de um telefonema de namorado, de uma conversa de amigo, de um banho quente, de uma respiração profunda. Não há muito como fugir dos embates que aparecem na vida. Acabei pondo na cabeça que a mulher é mal-amada,insegura e frígida. Colocando a figura no rol do povo café-com-leite, fiquei até com pena dela. E acabei perdoando a mágoa que ela tinha me causado. Perdoei, sim.
Mas ela continua sendo uma bruxa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O melhor de mim
(Frejat/Paulinho Moska/Dulce Quental)

O meu coração está feliz por causa de você

Minha vida mudou de vez depois que você chegou
Sou outra pessoa, uma pessoa bem melhor
E se o amor tivesse uma cor, seria a sua
Se fosse branca a cor, seria a mais bela das luas
Toda a beleza que o amor pedir, eu quero pra você
O melhor de mim
Se o amor tivesse um nome, seria o seu
Se fosse flor o seu nome, seria o mais doce jasmim
Você sabe me fazer feliz e eu quero pra você
O melhor de mim
O meu corpo tá mais quente por causa de você
Minha pele mudou de cor depois que você chegou
Você entrou na minha vida como um anjo cheio de luz
Tudo ficou mais claro, tudo ficou azul
Se o amor tivesse uma cor, seria a sua
Se fosse branca a cor, seria a mais bela das luas
Toda a beleza que o amor pedir, eu quero pra você
O melhor de mim

domingo, 12 de outubro de 2008

No Distrito...

"Longe de casa há mais de uma semana...milhas e milhas distante...dos meus amores..."

Eu sei que devia postar aqui que Brasília é uma cidade que definitivamente, não parece pertencer ao Brasil, de tão organizada, verde, perfeita, eu poderia dizer que o céu daqui consegue ser mais lindo que o da Paraíba toda, que meu coração está feliz, que o curso de formação me emociona com o trabalho gratificante e extremamente essencial na construção de um país melhor, através da educação, que os projetos educacionais são lindos, que as pessoas que conheci são bacanas, e que o Parque da Cidade me faz respirar e ter certeza de que a qualidade de vida aqui supera todas as outras cidades.

Mas só o que consigo falar agora é que, quando recebo um e-mail da minha mãe dizendo que tudo faz com que ela lembre de mim, ou quando falo com minha avó e ela diz que todos os dias faz a salada no almoço porque eu gostava, ou quando ouço a voz trêmula do meu pai, pra nào mostrar que está chorando, eu sinto meu coração encolher e ficar do tamanho de um botão.

Eu achava que a transição para a vida adulta seria fácil, e que eu iria pra qualquer lugar sem muito "drama".Sempre me achei durona e independente, do tipo que mata barata e sabe manusear uma furadeira. Mas a verdade é que sinto minhas raízes pulsarem o tempo todo, e me pergunto se não poderia escrever pra aquele programa "De volta à minha terra"...fico pensando porque razão nossas 'terras' nos expulsam pra longe tão drasticamente quando resolvemos ter uma profissão e ser justamente remunerada por isso. Enquanto não acho respostas, tenho que ver as belezas do outro caminho que Deus me mostrou, nunca esquecendo do tesouro escondido na Paraíba, onde eu guardo meu coração. Não sou de lamentar pelas coisas boas que nos acontecem, olhando sempre o lado pior. Mas é inegável que a saudade às vezes chega a sufocar.


Enquanto não me falta o ar, pretendo olhar pro céu maravilhoso de Brasília e entender que, quase sempre, o melhor mesmo da vida não é ter que caminhar ,por caminhos longos e árduos, mas é saber que temos pra onde voltar.


"E pergunto ao poeta, pergunto-lhe
(numa esperança que não digo)
para onde vai-a que angra serena,
a que Pasárgada, a que abrigo?


A palavra oscila no espaço
um momento. Eis que, sibilino,
entre as aparências sem rumo,
responde o poeta: Ao meu destino."


(Drummond- O Chamado)

domingo, 28 de setembro de 2008

"De olhos bem abertos"


Um belo dia eu acordei de um jeito diferente. Ao abrir os olhos, tive a certeza de que aquele era o primeiro dia do resto da minha vida. Até aquele momento, parecia que eu nunca tinha aberto os olhos. Quando enxerguei pela primeira vez, vi que a minha cama era macia, e meu travesseiro tinha o meu cheiro, impregnado de sonhos. Naquela manhã, olhei pro céu e vi que o infinito era o limite de tudo, que as nuvens eram moldadas de acordo com o que pensávamos delas, e que o canto dos passarinhos que acordam cedo eram a melodia mais gostosa de se ouvir. No dia em que enxerguei pela primeira vez, vi que o primeiro copo d´água da manhã abria espaço para purificar a minha alma por inteiro. O pão tinha o melhor gosto do mundo e o café parecia o suco que os ursinhos gummy tomavam pra conseguir realizar qualquer tarefa impossível.
Olhei pra minha avó e comecei a chorar por nunca tê-la visto tão linda, cheia de linhas no rosto que denunciavam um tempo bem vivido. A Sabedoria naquele momento para mim, se chamava Vovó Tina. Dei-lhe um beijo na testa e "saí pra ver o sol", como dizia o Zeca Baleiro. Tudo, naquele dia, se tornava claro, como nunca. Eu olhava as pessoas de um jeito diferente, sorria pra elas e de alguma forma, cada sorriso que eu recebia de volta me trazia a perspectiva de que o mundo poderia ser melhor se todo mundo começasse a enxergar o que, naquele momento, eu tinha o privilégio de ver.

Cada conversa que eu escutava era como cenas de um cotidiano secreto, como se eu fosse uma espiã de Deus a observar como as pessoas estão vivendo o melhor presente que qualquer um poderia receber: a vida.

Senti a vida pulsando em cada poro do meu corpo, e as lágrimas sem motivo denunciavam que a vida era o único motivo. Passei a lembrar das inúmeras vezes que acordei sem nenhuma alegria, desperdiçando um dia que nunca mais voltaria a mim, simplesmente porque em algum momento achei que o sentido da vida era acordar e viver aquelas horas pensando em horas futuras, que, a cada dia, ficavam mais distantes. Parecia que eu vivia para um futuro que jamais chegava, enquanto o presente já partia, sem ao menos me dar tempo para me despedir.

No dia em que enxerguei pela primeira vez, parei de reclamar de tudo, da falta de tempo, da montanha de trabalho, do meu cabelo de manhã, da comida que não estava boa. Parei de xingar gente lerda no trânsito, parei de discutir relação e parei de querer sempre algo diferente do que eu tinha. Neste dia, eu simplesmente vi que eu podia respirar, andar, podia abrir os braços e me sentir livre.

Quando eu me vi no espelho, pela primeira vez, gostei de tudo que vi. Não quis mudar nada, e me prometi que nenhuma tpm, por mais braba que fosse, iria me fazer sentir a mulher mais horrorosa do mundo. Não quis mais ter o corpo da Juliana Paes e nem o rosto da Ana Paula Arósio. Eu gostei de mim do jeito que eu era.
No dia em que enxerguei, quis encontrar todo mundo que eu amava na mesma hora. A urgência não era por eu estar indo embora daqui a alguns dias, mas era urgência em viver "tudo o que há pra viver" sem perder um minuto, porque eu já havia desperdiçado tantas horas com tantas bobagens, e tudo agora me parecia urgente e intenso. Comecei a olhar diferente pra minha própria história e ter uma profunda gratidão a todas as pessoas que passaram na minha vida. Cada pessoa me deixou um ensinamento, ainda que eu nem mesmo a conhecesse. Passei a agradecer, em silêncio, àqueles que eu não podia estar perto. E talvez, você que esteja lendo essas palavras agora, tenha tido uma importância na minha vida que você sequer imagina.
Às vezes um sorriso consegue mudar uma vida. Uma palavra no momento certo, uma escolha, um confronto, uma conversa. Tudo isso pode parecer pouco, mas às vezes a profundidade se esconde nos menores diâmetros.

O melhor dia da minha existência foi no dia em que percebi a minha existência. E, depois disso, tudo fez sentido. No dia em que enxerguei pela primeira vez, eu pedi a Deus apenas uma coisa: que eu nunca mais fechasse os olhos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sobre o Ensaio...

Antes de falar da mudança, como prometido, falo do filme "Ensaio sobre a Cegueira", que tentou traduzir no cinema, o livro apocalíptico do Saramago. Perdoem-me os que gostaram, mas acho que, mais uma vez, o filme foi um resumo simplório demais do livro. Fui ao cinema com uma expectativa um pouco menor em comparação com a estréia do "Caçador de Pipas", mas com uma curiosidade mais aguçada do que aquela do "Código da Vinci", ou da "Insustentável Leveza do Ser" (este aqui, filme antigão), mas a semelhança em todas, absolutamente todas elas, é que o o mundo literário produz cenas absurdamente melhores que o mundo cinematográfico.

Depois de ler o "Ensaio", ninguém consegue comer um hambúrguer depois. No livro, sobram sensações humanas, o que, para mim, faltou no filme. Não consegui sofrer com os personagens. Faltou até mesmo tempo para isso, devido à rapidez das cenas. O livro faz com que saibamos, que, no caos, somos apenas animais brutos, em busca da sobrevivência. E que é preciso reconstruir o mundo a partir de uma visão mais humana das coisas. Nesse sentido, gostei muito das cenas do encontro das mãos do 1º cego (japinha) com sua mulher, do banho coletivo da chuva, e principalmente, mas principalmente mesmo, da música do Flávio Venturini (que eu já até comentei aqui no blog), "Céu de Santo Amaro", sendo tocada no piano, na cidade caótica, e que me emocionou muito, por lembrar que o filme era, em sua essência, "brasileiro". E, talvez, brejeiro.
Também é importante ressaltar o papel das mulheres no filme, a começar pela heroína, mulher do médico.Fica claro a força e a coragem de todas elas, que sabem cuidar de criança e até matar se for preciso, e percebe-se o quanto as mulheres sabem, muito mais que os homens, o que é essencial na vida.

No fim, gostei do filme, até porque nos faz pensar se é mesmo necessária uma epidemia de cegueira para que possamos enxergar o que realmente importa. E, cá pra nós, o que é que realmente importa?

sábado, 20 de setembro de 2008

E se "eu" for embora,sabe lá o que será de mim...

Fui chamada em um concurso que tinha feito em Brasília, ano passado.
Em 3 semanas, estarei morando lá. Isso mesmo, morando.
A ficha não caiu, não sei se rio, se choro, se perco a fala ou grito.
O fato é que estou muito feliz e muito triste.
Assim, ao mesmo tempo.
No próximo post vou falar mais...

domingo, 14 de setembro de 2008

No devaneio da tarde

Ultimamente "Há meros devaneios tolos a me torturar", como diria o Zé, em Chão de Giz. Espero que nesta semana eu poste algo que preste por aqui. Tô meio sem saber das coisas. Acho que é pelo fato de eu estar com saudades de tudo aquilo que eu tenho e que, por uma insensata melancolia -palavra que por si só já é triste- penso que vai acabar. Parece estranho,mas nesses dias, fiquei pensando em "tudo que vai". Uma tarde de domingo na minha casa antes algo natural, agora parece um prenúncio das minhas lembranças futuras. E isso me dá uma perspectiva ampla,porém sombria. Ampla porque acabo ligando pros velhos amigos que eu não via, me permitindo dormir além do usual, experimentar ataques de cosquinhas no meu sobrinho. Mas, ao mesmo tempo, logo após me sinto triste em saber que tudo isso que eu vivo agora, amanhã já fará parte da minha população de lembranças. Esquisito,né?
Por isso mesmo é que eu peço a devida licença."Meus vinte anos de boy, that´s over, baby..."

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A goiabada é doce,mas não é mole não...


Ai que saudade de tirar o chinelo e andar descalça aqui no blog. É que os últimos dias têm me consumido ao extremo, a ponto de eu acordar às 6h e ir dormir depois de meia-noite. Sexta-feira era meu dia favorito, mas agora a coitada virou uma segunda-feira genérica. Bom, o fato é que não é apenas o quanto estou trabalhando, mas sobretudo, o quanto eu estava ansiosa e meio que desesperada esta semana,o que me impediu de falar muito, principalmente aqui no blog, onde sempre escrevo mais sobre as conclusões do que propriamente sobre as dúvidas.

Seguindo minha prática de escrever sobre a conclusão, confesso que esta semana começou muitíssimo bem para mim. Consegui avançar mais no campo profissional (que ano bom!) e tive notícias de que a fase boa iria, em breve, ser ótima. Só que, esperar implica paciência. Coisa que eu nunca tive. Aí Deus se meteu no meio da minha confusão mental e me fez observar uma cena, todos os dias. Vou contar.

Sinceramente, sou imediatista demais, quero tudo pra ontem e me desespero se nada acontece no tempo que "eu" acho que deveria acontecer. Já ouvi muito frases que repetem a lição do livro do Eclesiastes ("existe um tempo para cada coisa.."), mas comigo nada disso funcionava. Eu me desesperava com a demora de tudo. E notei que "desesperar" era a conseqüência inevitável de "des-esperar". Não conseguindo esperar,só sobra o desespero.

Até que, todos os dias, eu olhava para a goiabeira do vizinho, que chora na minha parede com suas folhas e goiabas derramadas, e falava com os pequenos projetos de goiaba que eu via:
"-Você ainda está pequena demais, fique maior";
Na outra semana, pegava nas frutinhas verdes e repetia:
"-Você cresceu, mas ainda pode crescer mais";

E, sendo essa atitude insana ou não, semana após semana eu conversava com as goiabinhas. Na sexta-feira passada eu estava desejando comê-las, olhei para os projetos e me aproximei de uma que me parecia já madura. Mas, antes de arrancá-la, pensei que ela já tinha chegado até ali, coitada, e seria muito injusto retirá-la sem que estivesse pronta, antes que ela concluísse o ciclo que ela "nasceu" pra ter. A coitada não ia cumprir sua missão apenas porque eu não esperei o tempo certo. Fiquei com pena e esperei.

Ontem, não apenas a goiaba em questão estava madura, como todas as outras da árvore, fato que me moveu, juntamente com Vovó a colhê-las do pé (escondidas do vizinho,claro). Fizemos um doce maravilhoso e talvez o sabor tenha sido marcante não apenas pelo açúcar dissolvido em mel, mas sobretudo pela lição que eu aprendi, agora de maneira definitiva. Não adianta querermos nada antes do tempo certo. E o tempo certo é aquele em que não precisamos arrancar, destruir, atropelar nada e nem ninguém. O tempo certo chega, e ele nos traz tudo aquilo que é nosso e pelo que esperamos. E nos traz assim, com o vento, sem que seja preciso desespero e esforço hercúleo. O doce de goiaba fez com que meu desespero se dissolvesse numa doce espera. Dessa vez, eu aprendi.

domingo, 17 de agosto de 2008

Minha amiga Magalle me explicou ontem a história da música "Segundo Sol" de Nando Reis. Ele escreveu a música para uma amiga que, diante do fim de um grande amor, tinha certeza que jamais se apaixonaria de novo. Dizia que era mais fácil aparecer "2 sóis num dia" do que ela amar outra pessoa. E ele rebatia falando que certamente aquilo iria acontecer de novo, era apenas uma questão de tempo. Eis que um dia, a amiga telefona, dizendo que o impossível agora era real. E neste dia, ele escreve a música(que,agora, parece fazer todo o sentido) :


Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas
Dos planetas
Derrubando
Com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...


Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão...


Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...


Engraçado como pensamos sempre em definitividade na vida, sem nos darmos conta de que a própria vida também acaba. O mais bonito de pensar na provisoriedade do tempo é que ao sepultarmos alguma coisa, acabamos por abrir espaço para tudo que ainda virá. E é bom saber que não apenas um segundo sol pode existir, mas também uma segunda face de nós mesmos quando a primeira já não nos cabe. Apesar da história falar de relacionamentos(e,acredite, sempre haverá um segundo sol), acho que a gente pode pensar na música de uma maneira mais ampla ou quem sabe, mais restrita, já que podemos olhar pra nós mesmos.


Ontem liguei a TV (tira-visão) na hora em que uma mulher, sorridente e paraplégica, falava pro Luciano Huck: "Quando eu fui atingida por uma bala perdida e perdi meus movimentos,Luciano, eu sabia que Deus iria me prover com tudo o que eu precisasse. Não pedi nada, apenas Saúde, para conseguir criar meus filhos, mesmo com as limitações. Acho que só há duas formas de viver a vida:uma é vivendo bem, a outra é não vivendo."


Aquela frase ecoou na minha mente por muito tempo. Fiquei pensando em quantas vezes achamos que não suportaremos uma situação, que a carga é pesada demais, que não vamos conseguir. Mas o 'segundo sol´existe, e 'sem explicação', descobrimos que o que éramos antes já não existe mais. Ressurgimos mais fortes, mais maduros, mais conscientes de tudo o que temos de bom e que ainda podemos ter. Acho que a criação, definitivamente, não acaba com o nascimento. Ela continua a existir em cada dia, quando nos recriamos, nos reiventamos, nos descobrimos. A Madonna está no topo por se reiventar a cada álbum. Acho que é uma dica sobre como a gente pode ser mais feliz. Nada de pensar no "para sempre" ou 'nunca", tampouco no "jamais". Vamos pensar que em cada momento, a vida nos exige mais de nós mesmos e que essa pode ser a nossa chance de descobrirmos tudo aquilo que a gente ainda pode ser. Quem sabe um dia, contar que vivemos "a vida que ardia sem explicação..."

sábado, 16 de agosto de 2008

Ainda é cedo...

Quando a gente não sabe o que dizer, vem um poeta e resolve o problema.

Ainda é cedo
Composição: Renato Russo

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir

Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar

Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei

Ela falou: - Você tem medo
Aí eu disse: - Quem tem medo é você
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém

Ela me disse:- Eu não sei mais o que eu sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Aberta pra balanço"

Nos últimos dias a chuva caía forte em Campina. Apressada em chegar logo em casa antes que minha sombrinha resolvesse voar, eu mantinha passos firmes e retos, como se remasse contra a maré ( literalmente, a água subia...). Foi então que um buraco no asfalto me fez desviar o olhar da minha rota e olhar pro lado. E eis que vejo uma senhora, de longos cabelos brancos e completamente enxarcada pela chuva, se balançar, ludicamente, no balanço do parque que fica na pracinha perto da minha casa.

Eu parei e tentei observar mais atentamente se ela estava tentando sair e não conseguia, se ela não tinha casa ou qualquer outra explicação plausível para alguém sentir a chuva voraz a lhe estragar o cabelo, a roupa e ameaçar sua saúde com água gelada sobre o corpo, mas nada fazia muito sentido. Nem a atitude daquela senhora (ou menina?) nem minhas dúvidas lúcidas( existe dúvida lúcida?). Fiquei parada ali, olhando o balanço como se ele fosse um pêndulo a nos avisar da brevidade das coisas. Antes que minhas lágrimas caíssem por achar que aquela criança idosa estava sem razão, preferi sorrir e entender que em cada mente humana, há um mundo secreto, em que tempestades podem virar bençãos, balanços podem virar pontes, e o tempo é algo que pode parar.
Fiquei por mais alguns instantes olhando o sorriso daquela menina que, contrariando São Pedro, ousava brincar na chuva, ali, sozinha, no seu 'infinito particular'. Aquela cena ficou arquivada nas minhas memórias eternas, essas que a gente inclui no nosso mundo imaginário, e que, por alguma razão nos remete para muito além do que vemos, e que nos faz ter certeza de que a poesia existe em tudo e esse olhar para as entrelinhas faz com que a vida pareça fazer todo o sentido. Fui embora me sentindo cúmplice da felicidade daquela minha amiga infantil, e em sua homenagem cantarolei na chuva (sem o estilo de Gene Kelly) aquela música...


"Há um menino,
há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solitário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração..."

terça-feira, 29 de julho de 2008

Não acredito que até hoje nunca havia visto "As Pontes de Madison". Particularmente, um dos melhores filmes que já vi. Sobre o filme:

"Em As Pontes de Madison, Clint é Robert Kincaid, um fotógrafo da National Geografic que está no Iowa para fotografar antigas pontes cobertas, famosas na região, para uma reportagem da revista. Meryl Streep é Francesca Johnson, uma dona de casa que trocou a Itália pelo sonho de viver na América. Casou-se com um soldado, e anos depois se vê criando os dois filhos do casal na paisagem bucólica de uma fazenda em que pouca coisa acontece, e vive-se a vida porque se acorda todo o dia, e não porque se têm sonhos. Perdido, o fotógrafo pede informações na fazenda dos Johnsons, mas a família foi para uma feira agropecuária, e apenas Francesca está em casa.


O que acontece após este esbarrão do destino é aquilo que a astrologia resume como "efeito urano": é quando uma pessoa faz uma "burrada" tão grande que detona a sua própria vida e a de outras pessoas. Bem, quase faz, e é neste fragmento do "quase" que reside a beleza deste filme. Nossos dois personagens desse épico romântico moderno passam quatro dias juntos, se apaixonam, descobrem uma certeza que só se tem uma vez na vida, e são obrigados a escolher entre ficar ou fugir. A encruzilhada abre diversas possibilidades e questionamentos. O amor, tal qual o conhecemos, sobrevive a rotina? É possível ser feliz após ter detonado a vida de uma porção de pessoas para alcançar essa felicidade? O passado pode ser esquecido como se queimássemos uma folha de papel e jogássemos as cinzas pela janela? É possível amar e não estar com a pessoa amada? Essa história de alma gêmea é uma brincadeira divina (o homem lá de cima deve ser um cara extremamente divertido) ou podemos, num momento x de nossas vidas, encontrar uma pessoa que nos faça acreditar que caminhamos uma vida toda para chegar a este encontro?



Clint Eastwood abusa do direito de ser comovente em uma cena clássica: na chuva, Robert pára no meio da rua enquanto o marido de Francesca, que voltou com os filhos, faz compras. A cena se arrasta e Francesca segura a maçaneta da porta do carro com tanta força que deve ter sentido o objeto atravessar seu coração. Ela quer deixar o carro. Ela quer correr na chuva para o seu amado. Ela quer deixar a fazenda para trás, seus filhos, uma vida sem sonhos, mas a razão está ali despejando um mundo de motivos para que ela deixe o amor virar a esquina e partir para sempre, para longe de seus olhos, longe de seu corpo, mas não longe da alma. Ela se desespera, chora, e volta a viver porque viver é preciso, afinal, acordamos todos os dias a espera do fim. E com o fim, a crença no reencontro. Injusto? Não. O amor não tem nada a ver com justiça. O amor é maior que a vida. E talvez você entenda isso melhor quando tiver aquela certeza que nós só teremos uma vez na vida. Quando isso acontecer, tudo fará sentido. E amar em silêncio não será tão inconcebível. Porque enquanto o corpo sente falta do toque, a alma está totalmente completa. E, sabemos, um dia todos vamos ser apenas poeira no chão. Ou nos arredores de um ponte.


As Pontes de Madison é uma adaptação do famoso romance The Bridges of Madison County, de Robert James Waller, que supostamente é baseado em uma história real. Mais do que surpreender o espectador, que talvez nunca esperasse uma história de amor contada com tanta soberba e maestria por um dos heróis da classe western, As Pontes de Madison encanta por retratar o amor na idade adulta, quando pouco de nós espera alguma coisa a mais da vida, quando nossos sonhos de adolescência foram esquecidos, e a lembrança de que um dia sonhamos é algo que nos faz analisar e questionar toda uma existência. Quase ao final do filme, quando Francesca pede aos filhos que aceitem seu último desejo, dizendo que deu sua vida à família, e quer deixar para Robert o que restou dela, é impossível não entregar os pontos, as lágrimas, o coração e a alma para Clint Eastwood. Ele conseguiu algo que poucos conseguem: retratar o amor sem ser piegas ou cínico ou vingativo. E com isso, conseguiu filmar uma pequena obra-prima, mais uma de seu excelente currículo como cineasta, um filme que você precisa ver. " (Marcelo Costa)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Conjugando:Deus,Eu,Ele,Ela,Nós,Vós,Eles.


Eis que lendo alguns blogs que eu gosto, vejo no de Eduardo Rabenhorst-www.modosdedizeromundo.blogspot.com- entre uma postagem e outra, uma leitora discutindo sobre um outdoor (vide acima) que a Justiça da PB mandou retirar, sob pena de multa diária. Fiquei pensando no papel que a Religião exerce na nossa vida. Muita gente a usa para se mascarar, outras, como forma de tirar a máscara (pelo menos, perante Deus). Não acredito que haja qualquer 'condenação futura' a ser efetivada por Deus. Não acredito que esta vida é um erro e que só depois é que conheceremos o paraíso, como nos pensamentos de Platão (a idéia da cadeira vêm antes da cadeira?). Também não sou partidária de um niilismo inútil, que não enxerga importância alguma nos valores do alto.


Acredito sim, em condenações reais, que a gente estabelece para si mesmo, construindo, por vezes, infernos e clausuras que, sem interferência nenhuma do alto, transformam nossas vidas em pesadelo. Há uma autocondenação quando temos dois caminhos e escolhemos o da maldade. E maldade não está longe! Está em cada um que olha pro outro e ao mesmo tempo que lhe sorri, lhe amaldiçoa. Maldade em escrachar homossexuais e não ajudar um cego a desviar do poste. Maldade em ir à missa(ou culto,ou reunião) e passar o tempo inteiro olhando as marcas das roupas alheias.Maldade em mim, que digo que não tenho dinheiro para doar uma cesta básica e vou jantar fora.


O paraíso pode existir sim, e às vezes sonho com ele, mais pela possibilidade de reencontrar as pessoas que já se foram, do que pelo que vou usufruir dele. Penso que o Paraíso é a vida bem vivida, conforme nossos valores e a ética, cujo propalador maior foi Jesus. Paraíso é saber que eu existo por algum motivo, e não posso morrer sem descobri-lo. Acredito que a aventura de viver consiste basicamente em descobrir para o quê fomos criados. Nossos talentos nos avisam de que forma nossa existência pode valer à pena, e quando estamos no caminho certo, a vida dá um jeito de facilitar nosso trajeto.

Muitos usam a Bíblia como base para julgamentos vários. Eu prefiro usá-la para ler trechos que me tornem alguém melhor, como aquele em que Jesus diz:“Por que observas o cisco no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou, como podes dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave que está no teu olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mt 7,3-5). Este caminho me mostra a importância da autocrítica, antes da morbidez no julgamento do outro. E de quebra, me abre espaço para a solidariedade e ao ajuste da minha própria conduta.


Sei que Religião significa religar,e nisso está o mais bonito: a possibilidade de estabelecer uma ponte entre Deus e nós (no meu caso,é pela eucaristia). É uma experiência cotidiana, que nos aproxima do sagrado. Homossexualismo ou homossexualidade, ou homoafetividade, só serve mesmo para distinguir uma opção sexual, jamais uma pessoa. Ninguém, absolutamente ninguém neste mundo,tem direito de usar a palavra de Deus como forma de julgar alguém. O amor de Deus é compassivo e não distingue quem está certo ou errado.A linguagem do amor não se baseia em palavras, tampouco em frases soltas da Bíblia, ela é muito mais "tête-à-tête", quando o cérebro não processa e só sobra o coração.


Fico triste em ver cristãos tornando pior a vida de seus "irmãos". A gente tá no mundo pra fazer alguma diferença, oras! Diferença pra pior, é inacreditável.Fico pensando na pessoa gay que olha o outdoor. Certamente, ela acaba afastando-se de Deus, por se sentir rejeitada, quando o que Deus quer é justamente o oposto. Acho que todo mundo tem não apenas o direito,mas o dever de ser feliz e ir em busca do que lhe faz bem. Cada um tem seu próprio relacionamento com Deus, mesmo que seja um não-relacionamento.E para quem está de fora só resta viver sua vida conforme seus próprios valores,sem ultrapassar o limite do outro. Façamos como os rios : quando suas águas encontram limites, eles não avançam, simplesmente tornam-se mais profundos.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Vida longa aos caçadores!


Desde que eu li a célebre frase de Nietzsche,"Torna-te quem tu és!", há algum tempo (pra não dizer muito tempo) venho tentando me tornar exatamente aquilo que eu sou, ou quem sabe, que eu deveria ser. Nessa viagem "pra dentro", tenho descoberto coisas incríveis, outras,assustadoras.
Na Bíblia há uma parábola que fala do joio e do trigo, que um dia serão separados, e o joio queimado, enquanto o trigo será colhido. Fico pensando se nós realmente somos apenas 'joio" ou "trigo". Me sinto constantemente dividida entre os dois, como se minha personalidade- humana,pra salientar- me fizesse errar e acertar o tempo todo, sem que haja resultado prático a ser efetivado. Como saber se tudo aquilo que fiz certo não foi esquecido em virtude de um grande erro? E como o erro repercute na minha vida? Erro menos ou erro muito mais? Como descobrir quem somos, sem saber quem não somos?

Com o tempo, percebemos realmente a nossa essência, o que deixamos pra trás, o que levamos conosco. Chega aquela hora em que você pensa:" Se eu tivesse a maturidade que tenho hoje, tanta coisa teria mudado...". Acho que é esse o caminho da descoberta de quem a gente é de verdade. Vamos nos tornando quem realmente somos. É quando muita coisa passa, enquanto algo permanece em nós. Pode ser um valor que você acreditava que não mais possuísse, porque era outra época. Pode ser a idéia que você tinha de felicidade e que deixou de lado porque os tempos são outros. E no fim, percebemos que muita coisa que abandonamos, na verdade, não nos abandonaram.Estão escritos em pedra, mesmo que queiramos reescrevê-los sobre a areia.

Do mesmo modo, há valores que definitivamente, não são nossos. No meu caso, perdi um tempão com valores errados, que não eram meus. Todo mundo queria tanto aquilo, que eu achei que querer também era quase um dever. O tempo vai mostrando quem a gente é, e quando isso acontece, tudo se torna tão claro que não dá para entender como um dia, pusemos um peso em nós quando na verdade tínhamos uma pena, que ao menor sinal de vento, voou. O meu lugar era outro ( como diria, poeticamente, o Milton Nascimento..."Vou me encontrar,longe do meu lugar...Eu, caçador de mim").

É importante sabermos exatamente o que nos faz feliz, e não comprar qualquer modelo solto de felicidade. Saber abdicar do "inabdicável", ir em busca do que, definitivamente, nos faz bem. Pode soar mal aos ouvidos de quem ainda não se descobriu, mas é melodia pra quem sabe o que se leva da vida. Com o perdão da propaganda do Pão-de-Açúcar, sempre é bom perguntar a si mesmo: "O que te faz feliz?" e ir atrás da resposta. E rápido!

terça-feira, 15 de julho de 2008

A Saudade dá uma aula...



Acabo de voltar da minha primeira aula da Saudade na UEPB como professora. Ter meu nome na placa, como professora homenageada, na mesma faculdade em que há poucos anos fui aluna, e pela primeira turma em que dei aula na vida...não tem preço!

Me sinto abençoada por Deus de forma especialíssima. Como se ele piscasse o olho pra mim cada vez que me surpreende...

Eis o meu discurso:




"MEUS ETERNOS MESTRES DESTA FACULDADE,
SENHORAS E SENHORES AQUI PRESENTES,
MEUS QUERIDOS ALUNOS,




Com certeza, o convite para participar deste momento hoje, constitui o maior prêmio que uma ex-aluna desta mesma faculdade e agora recém-chegada como professora, pode almejar. É um momento que fala tão alto ao meu coração que, com certeza, ficará gravado entre as minhas mais vivas saudades, essas que não morrem jamais.

Falarei breve palavras, até porque mesmo que fossem muitas, ainda assim não conseguiriam expressar o meu agradecimento sincero a vocês. No entanto, vocês me fizeram o convite errado. Me deram o encargo de ministrar uma aula sobre uma matéria em que ainda sou aprendiz: a Saudade. Não sei FALAR de saudades. Só sei SENTIR saudades.

Neste momento, em particular, nesta faculdade tão insculpida de lembranças, um mundo de saudades revive minha alma. Quando era apenas uma adolescente que gostava de História e Literatura, caí neste Curso de Direito, e, naquele momento, como diria o grande poeta Olavo Bilac, “abriu-se à vida o meu espírito inquieto e ávido, de asas tontas , de vôo indeciso”.

Jamais pensei em estar aqui hoje, embora a resposta para a famosa pergunta que nos fazem quando somos crianças:”O que você quer ser quando crescer?” sempre tenha sido a mesma: “PROFESSORA!”. Nunca imaginei ser professora de Direito Previdenciário, mas o que realmente me surpreende é ter de dar uma aula sobre um sentimento,que talvez seja o mais contraditório,pois está sempre presente nas nossas ausências.
Eu ainda não entendo a rapidez do tempo, que me leva à primeira e à última aula num piscar de olhos. Me recordo que, logo que conheci vocês, pensei: "quando as aulas acabarem, ou essa turma vai me deixar saudades ou alívio". Acho que já deu pra perceber o que vocês me deixaram...

Um dia um querido professor meu, Luiz Augusto Crispim, assim escreveu:

DEUS quando insuflou o amor no coração dos homens, já combinou com a Saudade:

-Vais morar com o Amor, porém, só revelarás a tua face nos instantes em que os olhos já não puderem enxergar o que sente o coração.

Esse é o destino da Saudade. Morar com o Amor, a vida inteira, e só mostrar o rosto na hora da partida
.”

Com a devida licença ao meu mestre, eu diria que a Saudade, tal como Eva, desafiou o Criador e em certas horas,ela, sorrateira, nos surpreende em momentos como este, quando a Saudade toma conta de nós ANTES mesmo da partida. E o pior é que sabemos que toda hora é hora de partir: Para um amanhã diferente, para uma nova estação, para deixarmos de ser o que somos. Assumir uma nova fase da vida requer maestria em sepultar não apenas as aulas mortas, mas dizer adeus a nós mesmos, numa constante descoberta...ou redescoberta.

A Saudade é tão perspicaz que aparece até mesmo quando emitimos sonoras ordens de não lembrar. Mas só de pedir, já lembramos. De vez em quando, ela assume formas diversas: um aroma, uma música, um sabor, até mesmo o cair da tarde, quando as cores já vão se descolorindo, como um epílogo do dia que já se vai.

Nietzsche, o grande filósofo alemão, dizia que a vida apresenta momentos semelhantes ao da criança quando está na praia e ri e pula de alegria quando as ondas trazem as conchas coloridas para a areia, e chora de tristeza quando as ondas levam as conchinhas de volta para o mar.
Esta solenidade trouxe as conchas coloridas de cada um, dando alegria desde a aprovação no vestibular, nas inúmeras provas, na monografia...trazendo então,o tão sonhado diploma. Mas esse mar da vida leva junto com suas ondas, nosso convívio, nossa amizade diária, nossos momentos cotidianos que agora ficarão apenas na nossa bagagem de saudades.

É estranha essa sensação que agora experimento. Aqui alegre e logo ali tão triste. Mas a Saudade não nos quer tristes. Ela quer ver brotar em nós a sensação de dever cumprido, de momentos bem vividos e felizes.A saudade quer nos acompanhar a vida toda, fazer parte de nós, do que somos, carregando todas as nossas ausências e presenças, porque a saudade não morre jamais.

Antes que eu faça como a Cecília Meireles e diga que quando “penso em vocês, fecho os olhos de saudade”...eu prefiro encerrar desejando a vocês todo o sucesso para o qual vocês foram criados e desafiar a Saudade com as palavras do nosso saudoso Vinícius de Moraes:
"Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais..."



Muito obrigada!!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

"O casamento da nossa melhor amiga"


No sábado passado,Vanusa casou e nós (Eu,Cami,Anna e Milena, amigas de 8ª série) aproveitamos pra botar o papo em dia. Entre um champagne e outro, falamos- novidade!- de relacionamentos. Engraçado que antes do casório, eu e Camila comentávamos sobre a descrença que tínhamos em relação ao amor eterno, e mais precisamente, ao amor. Eu, particularmente, dizia que não acreditava em palavra ditas ao sabor do vento, quanto mais em juras de "até que a morte nos separe". Freud dizia que a mulher é ensinada a amar o ritual,e o homem, a amar o sexo. Nessa descrença toda e depois de uma mágoa, desacreditei do amor.Acho que a vida me forçou a desacreditar.

Já no carro, com Anna, essa frieza toda começou a dissipar-se, com ela dizendo que iria casar no fim do ano. Começou a dizer o porquê e achei bonito. Quando chegamos à igreja, e o noivo entrou, ao som de "Olho para o céu...Tantas estrelas dizendo da imensidão/Do universo em nós/A força desse amor nos invadiu..." comecei a sentir um 'trem' estranho, como se uma luz tivesse acendido dentro de um porão escuro e esquecido.

Assim que Vanusa entrou, lágrimas vieram borrar minha maquiagem e aumentar meu nariz, não só porque era minha amiga (que já foi tão descrente de amores) casando, mas sobretudo por eu saber que a cumplicidade entre duas pessoas pode ser tão forte que elas, definitivamente, têm que ficar juntas. Tornaram-se partes um do outro, e a tão propalada individualidade, como sinônimo de auto-suficiência, foi para o espaço. O que faz tudo isso acontecer só pode ser um sentimento verdadeiro, e por ser verdade, se torna forte. E essa força realmente invade. Invade até mesmo as mais descrentes.

A Rita Lee escreveu "Ai de mim que sou romântico" e eu, sendo uma adepta da frase, há algum tempo havia decidido mudar, e tentar ser mais fria, insensível. Até que anestesiei meu romatismo durante muito tempo, mas confesso que quando aquela música tocou, eu ouvi "a força do amor me invadiu...". Ouvi as palavras "na saúde e na doença", ditas da forma mais sincera, que é aquela em os olhos falam, e depois de ter bancado a São Tomé, vi e acreditei novamente no amor.
Mais uma vez, descubro que a gente não pode "achar nada de nada" porque a vida está aí para desmentir tudo o que a gente fala sem saber.O que eu posso dizer hoje, é que vale a pena buscar ser feliz. Sobretudo, com alguém que possa acender muito mais que nossos hormônios,nossa gula ou nossa preguiça (afinal, tem tanta gente que está num relacionamento por estar...) e sim acender o que existe de melhor em nós, capaz de nos fazer melhores, mais puros, mais felizes. Para isso, temos de escolher antes, sentir o que o outro provoca em nós. Se nos trouxer sorrisos e paz, talvez o futuro seja bom. Se, no entanto, nos faz chorar de madrugada, nos traz angústia e confusão, melhor não insistir.Não sei se é impossível ser feliz sozinho, mas acredito que é melhor estar sozinho do que infeliz.

A conclusão disso tudo é que o amor de Phillipe e Vanusa "me invadiu" e hoje eu acredito, de novo, no amor. E isso transforma tudo.

domingo, 29 de junho de 2008

Carta para Mari


Como ela disse que eu nunca escrevo pra contar de mim e tal, e assim fica difícil manter a amizade atualizada, vou escrever aqui, Mari, pra vc, e aproveitar pra postar algo novo, já que ultimamente, a inspiração está suspirando...


"Amiga,




Eu bem queria te dizer que desde que vc foi embora, tudo está muito melhor, mais alegre e divertido, que as flores explodem numa beleza vertiginosa e que o céu do Brasil a cada dia se torna mais azul. Na verdade, há dias em que tudo isto é verdade mesmo (que bom!) , mas em outros tempos a vida parece estanque, e tudo fica meio parado e sem sentido. Pode parecer até melancólico, mas eu acho que a amizade dá cor a dias cinzas, e às vezes, num domingo à noite, isso se torna tão evidente que a sua falta chega a ter voz.

Minha vida mudou muito, pra melhor, e continua num ciclo de mudanças que parecem não parar. Isso tudo me assusta porque ainda que o tempo consuma os dias, não me sinto preparada para lidar com tanta velocidade,com tanta pressa, e na tentativa de avançar com o tempo, eu me vejo presa a certos passados que me obrigam a olhar pra trás. Quando olho, tropeço, porque parece que a vida não admite que percamos tempo com conjecturas acerca do que poderia ter sido.

Parece que nossas escolhas moldam nossa vida a ponto da gente ficar biruta se for levar tudo pro lado da teoria do caos (lembra que a gente assistiu Efeito Borboleta juntas?). O que poderia ter sido e não foi, o que foi e não poderia ter sido, entre tantas outras milhares de hipóteses . Só te digo que, as nossas escolhas sempre se basearam no oráculo maior, no coração. E acho que decisões que levam o coração junto, são sempre as mais sábias. Não são, necessariamente, as que não nos fazem sofrer, mas são aquelas em que escutamos a voz de Deus dizendo pra seguir em frente, porque Ele sim, deve saber o melhor caminho.
Hoje mesmo estava apreensiva sobre uma decisão que havia tomado,e antes que aquela sensação me tomasse por completo, resolvi desapegar, ver o que o destino havia tramado. E eis que a vida nos dá a verdade, ali, bem posta, como se não houvesse nada a escolher. Parece um papo etéreo, mas o que quero dizer é bem prático. Veja sua vida agora e relembre as decisões que teve que tomar para estar aí, deste jeito, neste lugar. Parece até aquela música do Paralamas "hoje joguei tanta coisa fora...".

No fim, amiga, eu me sinto feliz com as minhas escolhas. Acho que paguei o preço de algumas, lucrei com outras...e por aí, a fraqueza foi se tornando fortaleza e hoje me sinto um pouco do "Super-Homem" de Nietzsche, que superou os conflitos de seu tempo sem pôr a culpa em ninguém. Esse homem que o filósofo fala não é aquele do desenho, indestrutível (exceto pela criptonita), mas aquele homem humano, real, fraco e que decide reiventar-se no presente sem esperar pela morte que traga um paraíso, ou um futuro ideal, onde tudo é perfeito.

Por fim, vamos parar de devanear porque já está tarde e eu tenho que dormir. O tempo corta nossa cara com uma faca, e já já estamos enrugadas, velhas e caducas. Portanto, vamos vivendo da melhor forma possível e vamos tentar driblar a saudade com as armas mais humanas. Como este post, por exemplo. Foi só pra te dizer que me sinto extremamente feliz por um dia ter feito a escolha de ser sua amiga. Desafiando o tempo, a distância, e quem sabe, a vida.

Amo você, Maricotinha!


Beijos,

Vi."

O maridão da minha amigona Mari tá bombando no exterior. Harrisson é um exemplo de talento precoce que não teve medo de desbravar novos lugares- junto com um empurrãozão de Maricota, que também é um trator ambulante! Sorte pra vcs, meus queridos, muitas saudades e sobretudo, um desejo enorme de que tudo continue dando certo pra vcs dois!!! Isso é que é dupla!
Na íntegra a reportagem:

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Canteiros

Fagner usou o poema de Cecília Meireles para fazer essa música...linda.

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento
Pode ser até manhã
Cedo, claro, feito o dia
Mas nada do que me dizem
me faz sentir alegria
Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza
E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza ...
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

sábado, 21 de junho de 2008

Se tem um feriado mais importante que o Natal, é o São João no Nordeste. Eu, como legítima paraibana,e nascida na cidade do Maior São João do Mundo, fico comovida com a união dessa época, onde em cada esquina há pessoas celebrando, dançando forró e comendo delícias do milho. Acho que é um Natal fora de época. E o melhor é ver as fogueiras nas ruas, derretendo os corações, colocando mais brasa no espírito de cada um, que, durante alguns dias, "olha pro céu e vê como ele está lindo"...
Definitivamente, eu amo o São João. E só pelas músicas dessa época já é merecido um feriado. Em homenagem à data e ao grande mestre Luiz Gonzaga, uma das músicas mais lindas dele encerra esse post com o melhor do forró-poesia:
Se a gente lembra
Só por lembrar
Do amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté
Que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu
Porém se a gente
Vive a sonhar
Com alguém
Que se deseja rever
Saudade entonce assim
É ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo louco a sofrer
Ai! Quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
E amarga que nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que me viu triste a chorar
Saudade o meu remédio é cantar
Saudade o meu remédio é cantar

terça-feira, 17 de junho de 2008

Contra-sensos do Brasil

Só para acabar minha inspiração e as postagens desta semana( já que minha atenção volta-se a outros assuntos neste momento), não posso deixar de comentar que terei de rever a minha primeira aula de Seguridade Social, agora no segundo semestre. Isso porque, ao explicar os princípios que regem a Seguridade, falo de um deles, o da Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e Serviços. Eu sempre dizia, como exemplo: "Como não dá para beneficiar todo mundo, o governo seleciona aqueles riscos sociais mais relevantes, e distribui os benefícios para aqueles que mais precisam. O que é mais importante: auxílio-balada, para quem ganha mesada, ou bolsa-família, para quem não tem o que comer?"

Eis que vejo a notícia hoje de um senhor que sofreu um acidente- um bêbado ao volante o atropelou-e a família não mais dispõe de seu ganho- como biscate- para sobreviver. Conseguindo o benefício do LOAS, hoje a família ganha um salário mínimo para as despesas básicas. No entanto, os R$415,00 são suficientes apenas para um dos remédios da paralisia. Fiquei sabendo do caso e telefonei para a família. Perguntei se o posto de saúde não dispunha daquele medicamento. A esposa do Seu José disse:

"-Não,não.Já entramos até com um pedido judicial. A última remessa do SUS para o posto foi de um lote de Viagra."


(...)
p.s: Antes que me acusem de neoliberal,elite pê-esse-debista-fdp, fanfarrona ou coisa do tipo, saliento que esse post é de caráter meramente informativo!

No último sábado, enquanto eu assistia pela primeira vez, "La Dolce Vita", meu Pai me perguntou se já havia passado a cena de Marcelo Mastroianni ( que voz...) e Anita Ekberg (quanta fartura...) no famoso banho na Fontana. Achei o filme atualíssimo, tanto que estranhei o fato dele estar em preto e branco...Mostra a decadência de uma high society vazia e imoral. O coitado do Marcello queria ser escritor e acaba completamente envolvido pela modo frívolo de viver daquela época, cuja falta de sentido faz seu amigo- a quem Marcelo nutria inveja pela vida, aparentemente, perfeita- se suicidar e assassinar os próprios filhos. Também me chamou a atenção os fotógrafos parecerem abutres a clicar os famosos, e soube depois que vem deste filme a expressão "paparazzi", já que um dos fotógrafos é "Paparazzo",amigo de Marcelo. O final é triste- por sinal, o filme é beem longo- à beira mar,com um "monstro" morto. Parece que o fim da "doce vida" é amargo...

segunda-feira, 16 de junho de 2008


Fui visitar uma amiga ontem porque ela tinha levado um fora e estava péssima.

Ela tem um cachorrinho lindo, um yorkshire parecido com o meu saudoso Téo. Eis que fui acariciar o bichano e ele virou-se, arrogante e esnobe que só ele, como se dispensasse qualquer carinho. Um cachorro auto-suficiente, quem sabe. Minha amiga disse: "Ele é assim mesmo, não gosta que ninguém toque nele."

Achei esquisito, mas nem liguei. Sou do tipo contra o amor (ou afago) platônico. Saindo de lá, fui à praia e logo que sentei, pra ver o mar, um cachorrinho veio aos meus pés. Ficou fazendo chamego, e quase pedia pra ser alisado ("-aqui,moça,na nuca..."). Alisei, meio com medo de pulga, confesso, mas fiz um carinho naquele amigo do bêbado que dormia, profundamente, na calçada perto dali. O cachorro não saía mais de perto, Santo Deus! Tive que apelar para a mentira, que a gente só usa quando não tem coragem de falar o que sente (como eu ia falar: "-olha,cãozinho, vc é legal, mas eu não gosto de vc.Eu gosto de outro"?- o outro,no caso, é Sofia,minha gata- de quatro patas, faça-me o favor!).

Depois dessa cena,liguei pra minha amiga, que há esta altura já estava gastando a décima caixa de papel. Falei:"-Larga esse teu cachorro mané, vem ver o mar, que aqui tem um monte de bichano carente que só precisa de um dengo pra ficar caidinho,aos seus pés. E vc ainda pode esnobar, dizendo que tem um gato em casa!"

Bom, ela ficou melhor depois, e eu nem sei dizer exatamente o porquê...

sábado, 14 de junho de 2008

Assisti "O sétimo selo" hoje. Filme antigo, do "famigerado" Bergman. Eu ainda estou pensando sobre o diretor ter colocado Deus, o Diabo,o Homem e o Vazio numa mesma perspectiva. "Não há respostas" foi uma das frases que ainda estão ecoando na minha cabeça, assim como ser melhor morrer de amor. Também tem muito do folclore europeu, que eu não conhecia, e achei muito alentador o final com todos os personagens dançando. Mas confesso que não dá para falar do filme, assim, com poucas horas depois de tê-lo assistido.Preciso digerir os simbolismos...
Mas pensei, ao ver que só os saltimbancos apaixonados do filme sobrevivem, naquela trecho do Eduardo Galeano em que ele diz:

"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar.Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa:É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca."

E é essa gente que vive. E sobrevive.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Quem não tem namorado?


"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namoro de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.


Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora em que passa o filme: de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.


Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo.


Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uam névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira: Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça."



(Artur da Távola)

domingo, 8 de junho de 2008

Hoje um amigo soltou a frase:"Não agüento mais estudar pra concurso, tô infeliz demais."Eu nem ia dizer muita coisa, porque tem horas em que o melhor aconchego é o silêncio, é saber que a gente pode contar nossas angústias sem tanto medo de ser censurado. Mas confesso que não consegui escutar essa frase sem falar nada. Tirei da minha bolsa esta foto aí e falei: "imagina se ela pudesse estudar pra concurso!".

Eu sei que cada dor é única e só a gente sabe do nosso coração. Mas existem coisas que não podemos esquecer: é de que a felicidade não é algo tangível, é uma escolha. A gente pode escolher buscar essa sensação de plenitude, e para isso, é necessário ser grato ao que já temos.
Tem dias em que nada disso parece possível, mas acredite, a gente precisa ser mais simples.Deixar de imaginar um estado alfa em que tudo é lindo e perfeito. E sobretudo, saber apreciar o que já temos e ser feliz com isso.

Há algum tempo eu aprendi essa lição. Achava que, se eu não dependesse mais dos meus pais financeiramente, seria a pessoa mais feliz do mundo. Eis que Deus me concedeu esse pedido, e nada de extraordinário aconteceu com meu estado emocional. Dizem que até ganhadores de mega-sena depois de algum tempo, voltam ao seu "estado normal". E meu salário então, está bem longe de um prêmio de loteria, hehehe!

Por isso hoje, apesar de eu querer muito realizar meus sonhos, não me julgo infeliz com o que tenho. Sabe-se lá o que o futuro me reserva, e posso querer trocar milhões de reais que uma mega-sena me oferece, por uma tarde de domingo com meus pais, que, infelizmente, não são eternos. Vamos parar de sofrer à tôa, gente!