
Eu parei e tentei observar mais atentamente se ela estava tentando sair e não conseguia, se ela não tinha casa ou qualquer outra explicação plausível para alguém sentir a chuva voraz a lhe estragar o cabelo, a roupa e ameaçar sua saúde com água gelada sobre o corpo, mas nada fazia muito sentido. Nem a atitude daquela senhora (ou menina?) nem minhas dúvidas lúcidas( existe dúvida lúcida?). Fiquei parada ali, olhando o balanço como se ele fosse um pêndulo a nos avisar da brevidade das coisas. Antes que minhas lágrimas caíssem por achar que aquela criança idosa estava sem razão, preferi sorrir e entender que em cada mente humana, há um mundo secreto, em que tempestades podem virar bençãos, balanços podem virar pontes, e o tempo é algo que pode parar.
Fiquei por mais alguns instantes olhando o sorriso daquela menina que, contrariando São Pedro, ousava brincar na chuva, ali, sozinha, no seu 'infinito particular'. Aquela cena ficou arquivada nas minhas memórias eternas, essas que a gente inclui no nosso mundo imaginário, e que, por alguma razão nos remete para muito além do que vemos, e que nos faz ter certeza de que a poesia existe em tudo e esse olhar para as entrelinhas faz com que a vida pareça fazer todo o sentido. Fui embora me sentindo cúmplice da felicidade daquela minha amiga infantil, e em sua homenagem cantarolei na chuva (sem o estilo de Gene Kelly) aquela música...
"Há um menino,
há um moleque
há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
Caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solitário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração..."
2 comentários:
Ai, ai...Dá vontade de não fazer mais nada...apenas ficar aqui, fuçando seu blog...que texto lindo! Realmente há poesia em tudo.Mas há algumas coisas que contém em doses maiores...seu texto é repleto de poesia.
Ah...quanto à sua pergunta, se sou poeta: gosto muito de escrever e amo poesia. Não sei bem se o que escrevo é poesia, mas percebo poesia em tudo.A vida é poesia, é metáfora, é possibilidade...
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