quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Sertão virou mar.


Eu não tinha escrito ainda sobre as chuvas que assolaram parte do Nordeste porque esse assunto me causa uma revolta que me impede de escrever. As palavras me faltam. Elas escapam, sendo engolidas pelo mar que se alastrou pelo Sertão pernambucano e alagoano. Mas a revolta não é da água, é do Brasil. Sempre que acontecia uma tragédia como a de Santa Catarina, no ano passado, e a do Haiti ou Niterói-RJ, eu ficava pensando: "Deus proteja o Nordeste, porque se isso acontecesse por aqui, a conversa era outra". O destino é mesmo cruel. Aconteceu: "O Sertão virou mar", e segundo minha avó, é o fim-do-mundo. Eu concordo. Mas discordo das datas: o mundo já teve fim faz tempo.
No mundo que teve fim, as pessoas tinham dignidade.

A tragédia que se anuncia só teve destaque porque é algo "sobrenatural" e dá ibope. O que é natural, que é o povo do sertão nordestino passar fome, é natural. É notícia de segunda linha. O que é natural é ver as terras de Renan Calheiros e Fernando Collor serem fábricas de votos, do povo flagelado e mendigando alguma esperança.

Natural é ver Pernambuco arder em terras secas, enquanto verbas do Ministério da Integração Nacional correm todas para a Bahia, onde o Presidente tem aliados políticos. Natural é ver um deputado dizer em um programa de tv (CQC,Band/28/06) que não sabe quais são os Estados atingidos pela calamidade e quando respondido, indagar: "E Pernambuco e Alagoas não são a mesma coisa?". Tudo isso é bem natural para nós. Ver a seca e a falta de trabalho, dignidade e esperança dos sertanejos é coisa ultrapassada, over. O que ninguém esperava mesmo é ver o mar no Sertão. Ninguém esperava que a natureza tivesse a força que imprensa nenhum nunca teve para denunciar tudo o que falta no mundo, e fica embaixo do tapete da hipocrisia.

A Copa do Mundo veio mesmo a calhar: é a desculpa perfeita para a nossa nação de distraídos.




p.s: Quem quiser ajudar as vítimas das enchentes, me mandem um recado, pois estamos reunindo donativos e voluntários para fazer alguma coisa por toda essa gente.
p.s2: A foto aí embaixo não é nova, é da enchente de 1969. Parte dos desabrigados foram alojados em um cadeia pública e lá permanecem até hoje, à espera de casas populares prometidas a cada campanha.




domingo, 20 de junho de 2010


Era uma vez um Jesus que disse a Maria de Magdala, em 'O Evangelho segundo Jesus Cristo': "Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti. Quero estar onde estiver a minha sombra, se lá é que estiverem os teus olhos."

Era uma vez um amigo do escritor que escreveu sobre sua morte:

"Não há palavras, Saramago levou-as todas."

terça-feira, 15 de junho de 2010

A Copa dos que não foram


Não.Eu não vou falar de futebol, até porque todo mundo do mundo só fala nisso e eu acho um tanto massante ter que ouvir o tempo todo que o Brasil tem mais volantes do que precisa, que devia ter feito mais gols para não enfrentar a Espanha nas oitavas de final, etc,etc. O que eu fiquei pensando hoje no tempo em que o jogo estava parado (o primeiro tempo todo, diga-se de passagem) foi naqueles jogadores que, apesar do clamor popular, não foram pra Copa. Fiquei pensando em como Neymar, Ganso, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e tantos outros que tinham chance e não foram escalados, deviam estar pensando: "eu devia estar ali".

Como eu já disse que a postagem não é sobre futebol, vou explicar porque resolvi escrever. JustificarEscrevo justamente por essa frase que ficou na minha mente durante um bom tempo: "eu devia estar ali".

Quantas vezes já vi meus sonhos serem realizados por outras pessoas, ou pior, ver que eu podia estar fazendo a diferença em um determinado lugar, mas para o qual eu não fui escalada. E fico pensando: "e por que eu não estou ali?" Quase sempre, descubro que a culpa não foi do técnico, foi do jogador. Do mesmo modo que Adriano, desperdicei algumas chances de estar onde eu queria estar. Como Ronaldinho, na hora "H" eu não dei o melhor de mim. Semelhante a Ganso e a Neymar, não tive chance de sequer disputar um jogo grande.

Para exemplificar um pouco, eu sempre quis escrever um livro. Mas nunca arrisquei, por me achar inexperiente demais. De repente, vejo uma Thalita Rebouças escrever para adolescentes e virar best seller. E a frase ecoa: "eu devia estar ali".Tenho tanto medo de grandes concursos jurídicos que sequer participo, e quando eu vejo, alguém do mesmo nível que eu é aprovado e empossado. "Eu devia estar ali".Vejo um caos em uma determinada Casa de Acolhimento de crianças e adolescentes de João Pessoa, minha mãe relata como a Diretora se porta e penso, sempre, que devia estar ali.

Mas então, por que eu, Adriano, Ganso, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros milhões de pessoas ficam fora do jogo? Será mesmo que a culpa é do Dunga? Receio que não. Apesar de eu não gostar do time, foram eles que mostraram resultados, que foram pros treinos, que acreditaram em si mesmos, que se superaram. Eu preciso é ter humildade de saber que não sou craque, mas nunca achar que eu não posso sequer ser reserva.

Acreditar em si mesmo deve passear entre esses dois extremos: a estrela da seleção quase sempre fica no meio do campo. E brilha.

Me aguardem em 2014! ;)

terça-feira, 8 de junho de 2010


Neste fim-de-semana, um carro quase atropelou minha avó, buzinou para assustar uma criança, estava com uma velocidade de uns 50km dentro de um estacionamento de um shopping, e xingou um motorista na hora da saída. Atrás do carro, estava escrito, em adesivo: "Eu e minha casa serviremos ao Senhor."

Ah, tá.