domingo, 17 de agosto de 2008

Minha amiga Magalle me explicou ontem a história da música "Segundo Sol" de Nando Reis. Ele escreveu a música para uma amiga que, diante do fim de um grande amor, tinha certeza que jamais se apaixonaria de novo. Dizia que era mais fácil aparecer "2 sóis num dia" do que ela amar outra pessoa. E ele rebatia falando que certamente aquilo iria acontecer de novo, era apenas uma questão de tempo. Eis que um dia, a amiga telefona, dizendo que o impossível agora era real. E neste dia, ele escreve a música(que,agora, parece fazer todo o sentido) :


Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas
Dos planetas
Derrubando
Com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...


Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse
E eu não pude acreditar
Mas você pode ter certeza
De que seu telefone irá tocar
Em sua nova casa
Que abriga agora a trilha
Incluída nessa minha conversão...


Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...


Engraçado como pensamos sempre em definitividade na vida, sem nos darmos conta de que a própria vida também acaba. O mais bonito de pensar na provisoriedade do tempo é que ao sepultarmos alguma coisa, acabamos por abrir espaço para tudo que ainda virá. E é bom saber que não apenas um segundo sol pode existir, mas também uma segunda face de nós mesmos quando a primeira já não nos cabe. Apesar da história falar de relacionamentos(e,acredite, sempre haverá um segundo sol), acho que a gente pode pensar na música de uma maneira mais ampla ou quem sabe, mais restrita, já que podemos olhar pra nós mesmos.


Ontem liguei a TV (tira-visão) na hora em que uma mulher, sorridente e paraplégica, falava pro Luciano Huck: "Quando eu fui atingida por uma bala perdida e perdi meus movimentos,Luciano, eu sabia que Deus iria me prover com tudo o que eu precisasse. Não pedi nada, apenas Saúde, para conseguir criar meus filhos, mesmo com as limitações. Acho que só há duas formas de viver a vida:uma é vivendo bem, a outra é não vivendo."


Aquela frase ecoou na minha mente por muito tempo. Fiquei pensando em quantas vezes achamos que não suportaremos uma situação, que a carga é pesada demais, que não vamos conseguir. Mas o 'segundo sol´existe, e 'sem explicação', descobrimos que o que éramos antes já não existe mais. Ressurgimos mais fortes, mais maduros, mais conscientes de tudo o que temos de bom e que ainda podemos ter. Acho que a criação, definitivamente, não acaba com o nascimento. Ela continua a existir em cada dia, quando nos recriamos, nos reiventamos, nos descobrimos. A Madonna está no topo por se reiventar a cada álbum. Acho que é uma dica sobre como a gente pode ser mais feliz. Nada de pensar no "para sempre" ou 'nunca", tampouco no "jamais". Vamos pensar que em cada momento, a vida nos exige mais de nós mesmos e que essa pode ser a nossa chance de descobrirmos tudo aquilo que a gente ainda pode ser. Quem sabe um dia, contar que vivemos "a vida que ardia sem explicação..."

sábado, 16 de agosto de 2008

Ainda é cedo...

Quando a gente não sabe o que dizer, vem um poeta e resolve o problema.

Ainda é cedo
Composição: Renato Russo

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir

Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar

Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei

Ela falou: - Você tem medo
Aí eu disse: - Quem tem medo é você
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém

Ela me disse:- Eu não sei mais o que eu sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Aberta pra balanço"

Nos últimos dias a chuva caía forte em Campina. Apressada em chegar logo em casa antes que minha sombrinha resolvesse voar, eu mantinha passos firmes e retos, como se remasse contra a maré ( literalmente, a água subia...). Foi então que um buraco no asfalto me fez desviar o olhar da minha rota e olhar pro lado. E eis que vejo uma senhora, de longos cabelos brancos e completamente enxarcada pela chuva, se balançar, ludicamente, no balanço do parque que fica na pracinha perto da minha casa.

Eu parei e tentei observar mais atentamente se ela estava tentando sair e não conseguia, se ela não tinha casa ou qualquer outra explicação plausível para alguém sentir a chuva voraz a lhe estragar o cabelo, a roupa e ameaçar sua saúde com água gelada sobre o corpo, mas nada fazia muito sentido. Nem a atitude daquela senhora (ou menina?) nem minhas dúvidas lúcidas( existe dúvida lúcida?). Fiquei parada ali, olhando o balanço como se ele fosse um pêndulo a nos avisar da brevidade das coisas. Antes que minhas lágrimas caíssem por achar que aquela criança idosa estava sem razão, preferi sorrir e entender que em cada mente humana, há um mundo secreto, em que tempestades podem virar bençãos, balanços podem virar pontes, e o tempo é algo que pode parar.
Fiquei por mais alguns instantes olhando o sorriso daquela menina que, contrariando São Pedro, ousava brincar na chuva, ali, sozinha, no seu 'infinito particular'. Aquela cena ficou arquivada nas minhas memórias eternas, essas que a gente inclui no nosso mundo imaginário, e que, por alguma razão nos remete para muito além do que vemos, e que nos faz ter certeza de que a poesia existe em tudo e esse olhar para as entrelinhas faz com que a vida pareça fazer todo o sentido. Fui embora me sentindo cúmplice da felicidade daquela minha amiga infantil, e em sua homenagem cantarolei na chuva (sem o estilo de Gene Kelly) aquela música...


"Há um menino,
há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solitário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração..."