quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Das coisas do Amor


Ela põe um sabonete novo no banheiro
ele prepara uma carne costurada com palitos
Os pais se seguram na mão enquanto o bebê dorme
O cansaço entrelaça os dois
A professora alisa o caderno encapado colorido
O aluno capricha na letra
A avó faz um leite com canela
O neto dá beijo de boa-noite
O irmão ajuda a levantar da queda
A caçula se enche de orgulho
O namorado ri com a piada
Ela se deixa abraçar e retribui o sorriso
O amigo divulga o talento do outro
E esse agradece com amizade
A mãe chora de alegria
O pai sente saudades e liga
A tia compra roupa de super-herói
O sobrinho faz um desenho
A criança sobe no joelho e dá um beijo
O adulto se desconcerta e abraça
São tantos gestos invisíveis,
Tantas palavras não-ditas,
Sentimento fica escondido
Só aparece quando acaba.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Próxima Parada...

Ontem um ex namorado de uma amiga minha veio falar comigo por acaso e mesmo casado e com filho, perguntou por ela com uma ponta (de um iceberg?) de saudade no ar. Assistindo a novela hoje (admito sim, mas vejo porque sou refém do talento do Mateus Solano), vi uma cena em que o antigo namorado da protagonista quer viver novamente o romance passado, exigindo que sua amada devolvesse a ele a parte que lhe fazia falta. Ela argumenta que não dá mais, que já faz muito tempo e eles são outras pessoas...
Fico pensando nos rompimentos e nas saudades que a gente vive na vida. É preciso seguir em frente, dizem. Mas para quem ainda ama, é como se o tempo não passasse. Ou melhor, o tempo passa, mas continuamos na mesma "estação", como diria a música maravilhosa da Adriana Calcanhotto. Aliás, essa música é uma poesia completa:

"Você entrou no trem e eu na estação, vendo um céu fugir... Também não dava mais para tentar lhe convencer a não partir...e agora? Tudo bem... Você partiu para ver outras paisagens e o meu  coração embora finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação..."

Quem continua amando  aquele que "embarcou no trem para ver outras paisagens", fica parado, em 'stand-by', na mesma estação até que o amor se vá junto com o outro. Mas o amor às vezes permanece na mesma estação, 'embora finja' fazer outras moradas. Triste isso. Mais triste ainda é quando o amor se vai com o trem, e o casal continua parado na mesma estação. Não há mais para onde ir, mas por alguma razão, eles permanecem ali, talvez esperando que um trem os atropelem.


Ninguém está a salvo de ver "um céu fugir", de ver planos desfazerem-se num piscar de olhos, e quando isso acontece, acredito que é preciso viver essa dor, organizar o luto, aprontar as malas de lembranças e finalmente, esperar até que um outro trem surja, inundado de perspectivas e esperanças. Algumas vezes esse trem vem logo, outras vezes a espera é bem demorada. Na maioria das vezes, o que acontece é conseguirmos ir apenas de uma estação para outra, em pequenos trajetos de ônibus, de táxi, de carona... são esses pequenos passos que vão nos devolvendo a capacidade de ver que o caminho continua. Mas os tempos, as estações e os bilhetes que compramos são diferentes demais para cada um de nós.

Tem gente que, assim que desembarca em outra estação, esquece logo do companheiro de viagem que ficou para trás, outros os levam no coração mesmo que sejam andarilhos, há outros que só guardam os bilhetes de poucos trens, e há ainda aqueles cujas malas de lembranças são até maiores que suas próprias andanças.

Eu já estive em algumas estações. Parei por muito tempo em algumas, fui ver outras paisagens outras vezes, mas sempre tive a certeza de que cada tempo é importante para moldarmos o tipo de companheiro de viagem que nos tornamos. Creio que a beleza da nossa trajetória não se mede pelo destino que tomamos a partir de cada escolha do bilhete...mas pelo que deixamos na bagagem do outro. Talvez pensar assim torne até a música mais bonita: mesmo que o outro se vá e eu fique ou vice-versa, sabemos que somos bagagem que não pesa um no outro. Bagagem que pesa é mágoa, ressentimento. Lembrança que vale a pena levar na mala são aquelas que nos fazem voltar por um instante ao lugar que um dia fomos felizes. 

Tudo isto me lembra um trecho do livro do Érico Veríssimo em que ele diz: 

"Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia em uma de suas cartas: "Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico e te perguntaste a ti mesmo: ‘Estarei fazendo uma viagem agradável?’. Mas eu te asseguro que o mais decente seria perguntar: ‘Estarei sendo um bom companheiro de viagem?’". 

Talvez seja exatamente essa a pergunta que deveríamos fazer, todos os dias. Independente da 'estação'. ;)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

"Tu não morrerás"

Quarta-Feira talvez seja o dia das (e dos) donas(os)-de-casa no supermercado. É quando as coisas começam a faltar já no fim-de-semana, e o próximo domingo já se aproxima, fazendo com que uma grande parte dessas pessoas lotem os caixas. Digo isso porque costumo fazer o supermercado nesse dia e, mesmo que eu não pareça nenhum pouco com uma "dona-de-casa" tradicional (estou mais para uma personagem de Almodóvar, sempre " à beira de um ataque de nervos"), estou lá garimpando entre tomates e cenouras, boas histórias para ouvir. Ultimamente tenho ido com Levi, sempre rindo e conversando com todo mundo, e isso tem nos feito bem. Digo "nos" porque ele tem a oportunidade de ver outras pessoas e outros cenários, e eu adoro vê-lo descobrir o mundo...além de eu ter com quem conversar sobre o preço da carne, coisa inimaginável com meus amigos até bem pouco tempo atrás. Enfim, gosto de supermercado, de cozinhar, mas sobretudo, gosto de ouvir.

Hoje eu e Levi conhecemos a Dona Lourdes. Senhora de 82 anos que caminha e aperta bolinhas enquanto anda, porque a mão assim não entreva e ela tem artrite séria. Eu e Levi estávamos rindo um para o outro e ela apareceu para se juntar a nós. Disse que eu tinha ganho um grande presente da vida, e que eu iria agradecer muito por Deus ter confiado a missão de ser mãe. Concordei em tudo e com mais alguns minutos de conversa, Dona Lourdes me confidenciava da sua solidão com seus filhos já fora de casa, e alguns morando bem longe."Sinto muita falta do meu bisneto", disse com os olhos úmidos. Ficou com vergonha, deu um beijo no pé de Levi e sorriu pra mim. "Tchau, Bisa", imitei a voz de Levi e acenei.

Fiquei um tempo pensando naquela senhora que tinha a idade da minha avó, e senti uma saudade imensurável da minha. Liguei pra ela só pra escutar aquela voz antiga, que me acalenta só com um "alô". Falamos uns 3 minutos e eu já me sentia bem por ela ainda poder conversar comigo, quando tanta gente já não pode fazer isso. Perguntei quais os temperos ela usava para fazer guizado de carne, e lá estava ela me explicando tudo e se sentindo viva.

Então, Levi começou a se contorcer para "ir ao banheiro" e eu fiquei sem saber o que fazer direito, "como eu vou te trocar aqui no meio do povo, meu filho?", procurando um banheiro desesperadamente. Aí o Seu Antônio, um senhor que beirava uns 70 anos, percebeu minha conversa com meu bebê de 4 meses e sugeriu: "Eu fico tomando conta do seu carrinho enquanto você troca a fralda dele ali no restaurante. Tome esse saco para jogar a fralda suja..." Fiquei impressionada com a gentileza daquele senhor. Agradeci prontamente, fiz o que ele sugeriu e voltei logo, com Levi devidamente limpo. Não pude deixar de conversar com Seu Antônio e perguntar como ele sabia o que fazer sendo homem! "Ah, o que eu mais sinto falta nessa vida é de trocar fralda do meu filho de madrugada!". Começamos a rir e eu disse que ele tinha conquistado a vaga de babá de Levi terminantemente. "Tchau, Vô", Levi disse pela minha voz e sorriu largamente para seu Antônio, que retribuiu o sorriso, disse "Tchau, Levi, que nome lindo" e saiu contente.

Fiquei olhando para aquelas pessoas ali, catando verduras e alguém para conversar. Fiquei com dó do nosso tempo, em que a gente não se permite ouvir histórias, conversar com desconhecidos, confiar em ninguém. Tanta gente que só vai na feira para se sentir vivo, e não porque falta algum produto em casa. Vi muitos "Antônios" e "Lourdes" ali, perdidos em um passado onde filhos e netos existiam e estavam por perto, dando-lhes sentido para continuar a vida. Em meio a esta certa melancolia, me senti feliz com meu pequeno ali na frente e percebendo que aquele tempo estava sendo, efetivamente, bem vivido. A vida era aquilo. Nada mais e nada menos, só era aquele sorriso do meu guri que me fazia me sentir devidamente no meu lugar no mundo. Voltei feliz para casa, mesmo com Levi perdendo a paciência e dando espetáculo para voltar para a rotina dele. Tudo é bem cansativo e às vezes sinto como se eu nunca mais fosse ter vida própria, mas acho que é exatamente isso que eu aprendo dia após dia: vida própria é impróprio demais. Talvez a vida que valha a pena, seja aquela que vai além de nós mesmos. Não apenas pelas sementes que plantamos, pelos filhos que colocamos no mundo, pelo legado que deixamos. Vida que vale a pena é quando nos tornamos amor para alguém. Quando percebemos que nossa existência
nos faz eternos a partir do amor que compartilhamos, seja como pais ou filhos.

Quando vejo os avôs e bisavós que conheci hoje, percebo que é o amor pelos que estão longe ou perto que os mantém vivos, mesmo que seja pela saudade. É como o grande filósofo Gabriel Marcel escreveu uma vez  sobre amar alguém: "É dizer-lhes ' Tu não morrerás! Venha o que vier, tu e eu permaneceremos juntos". Tal conceito não significa que as pessoas que se amam nunca vão se separar, é claro. Mas é uma segurança que temos, que iremos sim, sobreviver eternamente no coração daqueles que nos amam, e permaneceremos vivos enquanto amarmos alguém. É bom pensar assim. E é claro que quando se fala de amor, eu lembro da Adélia Prado, que fala tudo poeticamente: 

 "O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível."


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Oração da Meia-Noite

Deus me proteja.
Me proteja de mim, porque sou muito forte quando quero me derrubar e muito fraca para me resgatar;
Me guarde dos meus erros, de tudo que em mim não vale a pena e que tantas vezes deixo me dominar;
Que os santos me protejam da minha loucura, e me dêem a sanidade necessária para viver uma vida interior rica, porém simples;
Que Deus me afaste de querer falar o que penso sem me importar com os sentimentos dos outros, como se eu fosse a porta-voz da verdade absoluta;
Que Deus me proteja da minha língua, dos meus pensamentos repetitivos, destrutivos, mesquinhos e egoístas;
Que eu seja protegida da minha vaidade, do meu orgulho, daquela parte de nós que acha, equivocadamente, que somos um modelo para alguma coisa, qualquer que seja ela;
Que o Senhor me blinde contra meus argumentos tão bem construídos que me deixam triste ou me fazem reclamar da vida. Que eu possa reclamar menos e que eu tenha paciência com quem reclama de tudo;
Que eu possa falar menos, ouvir mais, desejar menos sem que isso seja sinônimo de acomodação ou covardia;
Que Deus me proteja da maldade humana e que a minha própria parcela de maldade atinja apenas a mim e a mais ninguém;
Que Deus ao contrário, multiplique a bondade e que eu possa distribuí-la a partir de mim;
Que as pessoas possam escolher ser melhores do que são. E que essa decisão seja sentida pelo amor ao próximo que distribuem, pela tolerância, pela sensibilidade e caridade com o outro. E que eu sempre decida ser um pouco melhor a cada dia, sabendo efetivamente o sentido de "ser melhor";
Que Deus me faça chegar ao destino certo, mesmo que eu tenha pego a estrada errada, pois o que vale é ter caminhado;
Que Ele me faça me levantar do meu conforto e tentar chegar a algum lugar, que a minha preguiça não se disfarce e nem me convença de que eu já conquistei o suficiente;
Que eu possa rir de mim mesma, e ter compaixão com os meus erros;
Que Ele me compreenda mais do que eu o compreendo;
Que me ame, apesar de tudo;
E que eu possa sentir esse amor divino todos os dias através de uma pessoa ou situação real;
Que Ele possa se comunicar comigo pela minha intuição, percepção, sonho, conselho ou estrelas;
Que Deus me proteja da minha falta de fé, mas sempre me faça acreditar na vida antes da morte,
Amém.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Desculpem a ausência, prometo voltar em breve! Assim que o pequeno completar 3 meses, prometo respirar! :*


"Ele é o nó no meu cabelo.
O esmalte descascado na minha unha,
as olheiras no meu rosto.
Ele é o brinquedo na gaveta de roupas,
o amassado nas páginas do meu livro,
o rasgado no meu caderno de anotações.
Ele é o melado no controle remoto,
o canal de televisão,
o filme no DVD.
Ele é o farelo no sofá,
As tesouras no alto.
Ele é o backup no computador,
o mouse escondido,
as cadeiras longe da janela.
Ele é a marca de mão nos móveis,
o embaçado nos vidros,
o desfiado nos tecidos.
Ele é o ventilador desligado,
a porta do banheiro fechada,
a gaveta da cômoda aberta.
Ele é o coque na minha cabeça,
o amarrotado nas roupas,
as frutas fora da fruteira,
os panos de prato amarrando os armários.
Ele é o meu shampoo cheio de água,
a espuma no chão do banheiro,
o brinquedo dentro da privada.
Ele é o interruptor nas tomadas.
Ele é o peixe no aquário,
a árvore de natal,
os "pisca-pisca" de todas as casas.
Ele é o círculo, o susto....
A primeira visão da lua no começo da noite....

O valor do trabalho, a vontade de aprender,
a minha força,
a minha fraqueza,
a minha riqueza.
Ele é o aperto no meu peito diante de uma escada,
a ausência de sono diante de uma febre.
Ele é o meu impulso, o meu reflexo, a minha velocidade.
O cheirinho no meu travesseiro,
o barulho,
a metade,
o azul.
Ele é o vazio triste no silêncio de dormir,
o meu sono leve durante a noite.
Ele é o meu ouvido aguçado enquanto durmo.
A minha pressa de levantar da cama,
a minha espera de bom dia.
Ele é o arrepio quando me chama,
a paz quando me abraça,
a emoção quando me olha.
Ele é meu cuidado, a minha fé,
o meu interesse pela vida,
a minha admiração pelas crianças,
o meu respeito pelas pessoas,
o meu amor por Deus.
É o meu ontem,
o meu hoje,
o meu amanhã.
Ele é a vontade,
a inspiração,
a poesia.
A lição, o dever.
Ele é a presença, a surpresa
a esperança.

A minha dedicação.
A minha oração.
A minha gratidão.
O meu amor mais puro e bonito.
A minha vida!" (autor desconhecido)


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Uma rede na varanda

Ufa! Depois de mais de 40 dias de parto, hoje é o primeiro dia em que observo a casa em silêncio. Levi está dormindo, meu marido viajando, minha ajudante de folga, minha mãe em uma reunião, minha gata contemplando o luar. Estou "sozinha" e resolvi escrever aqui depois de ter me situado no novo lugar em que me encontro hoje: o de mãe.

Confesso que meu parto, como já contei no post anterior, foi traumático e bem difícil. Talvez por isso eu tenha saído da maternidade assustada e com medo de qualquer coisa que eu pudesse fazer. Na minha cabeça, eu tinha feito alguma coisa muito errada na gravidez para ter perdido líquido amniótico e ter gerado toda aquela confusão, e tive medo de fazer lambança de novo. Quando cheguei em casa, eu não sabia o que fazer. Não apenas o que fazer diante do choro de um bebê, mas eu não sabia fazer absolutamente nada com a minha própria vida. É desafiador e arriscado dizer isso, mas me senti completamente sem chão e sem rumo diante daquele cenário que a mim se apresentava sem rodeios. Todo o panorama me exigia postura, segurança e equilíbrio, e tudo o que tinha restado de mim após o parto era exatamente o contrário desses sentimentos. Me arrependi de ter me metido naquilo, tive a certeza de que eu não havia nascido para ser mãe a cada choro desesperado de Levi, e tive vontade de correr pelada no meio da rua, de me internar numa clínica psiquiátrica, tive vontade de sumir. Enfim, eu tive a certeza absoluta de que eu não ia dar conta de nada daquilo. 

Achava que eu era a  única louca-psicótica-depressiva que não se sentia feliz por ser mãe, por achar muuuuito, mas muito difícil mesmo amamentar, que não estava no estado pleno de felicidade que todas diziam sentir após gerar um filho. A cada vez que eu sentia essa tristeza, eu chorava, chorava e chorava, sem entender o porquê de eu ter desejado um filho desde a minha infância e não estar feliz com ele nos braços. Me sentia culpada e com vergonha de falar isso para qualquer pessoa. Até que eu não aguentei e decidi pedir ajuda. Comecei a me confessar perante todas as mulheres que eu conhecia e sabe qual foi minha surpresa? Todas diziam que sentiram a mesma coisa...como assim, mesma coisa? "Vc também teve vontade de pular do prédio?" "Sim", "Sim", e "Sim". Eu não acreditava que, mesmo as mulheres 'normais' que não são loucas como eu, também tiveram seus momentos de tristeza, de desespero e de falta de esperança logo após gerar um filho. Ninguém havia me dito nada antes. Todos diziam apenas que ser mãe era maravilhoso, que amavam o filho mais do que tudo, que era uma felicidade só. O pouco que diziam de negativo era de que nunca mais iríamos dormir, e só. 

Ninguém me falou do outro lado da história. Que além de não dormir, a gente não iria mais comer, tomar banho, ir ao banheiro, escovar os dentes, o cabelo. Que a gente ia precisar de muita ajuda para que o bebê pegasse o seio corretamente, e que quando ele finalmente o fizesse, a dor seria quase insuportável. Eu, no meu mundo cor-de-rosa (aliás, azul), achava que ia amamentar livremente e sempre, até muito mais que os seis meses, porque sempre gostei de uma coisa natureba e achava que tudo seria "naturalmente" fácil. Tudo foi "naturalmente" difícil! Meu filho não tinha forças de sugar o seio, meu leite era abundante e meus seios "empedraram"; quando ele aprendeu a sugar, meu leite secou; quando meu leite voltou, ele começou a ter refluxo e a chorar para não mamar; quando pensei que o problema era só o refluxo, descobri um sopro no coração; quando me desesperei pensando que ele não iria jogar futebol, descobri que muitos bebês tem sopro e que isso era comum e não lhe traria prejuízo; que havia horas em que ele chorava e eu não entendia nada do que ele queria; que na maior parte do tempo eu me sentia esgotada e sem forças... Os primeiros quinze dias para mim foram simplesmente devastadores. Além de todas as dificuldades, adquiri uma "síndrome do músculo piriforme" que não me deixava andar por um período do dia ou da noite (ainda hoje tenho as crises mais agudas, mas estou me tratando). Eu me sentia o cocô do cavalo do bandido, me sentia a pior mãe do mundo.

Mas os dias foram passando, e o "blues puerperal" também. O primeiro mês como mãe passou. E com ele o medo foi dando lugar à esperança, a angústia foi perdendo espaço para a respiração, e fui começando a "tomar pé" no meu novo lugar. Não sei explicar como aconteceu uma mudança, mas lentamente tudo foi se encaixando. Talvez os hormônios tenham voltado ao lugar, ou o remédio homeopático que estou tomando ou a acupuntura para a dor no quadril tenha ajudado, ou quem sabe, talvez seja porque Levi a cada dia está mais lindo, mas o fato é que nessas últimas semanas tenho sentido um amor pelo meu filho que não cabe em mim. Todo dia olho para os olhinhos dele e fico me perguntando como eu pude gerar um ser tão perfeito e tão gracioso, como Deus pôde ter me presenteado com um filho...um filho! Uma continuação de mim, do pai dele, a concretização do amor que sentimos um pelo outro...não sei explicar e se soubesse, não conseguiria definir com palavras. O que sei é que hoje eu realmente entendo porque ninguém me disse que tudo seria tão desesperador no começo (e como continua sendo tantas vezes) : simplesmente a gente esquece do tamanho da dificuldade ao perceber a graça que é gerar um ser e vê-lo crescer. Nunca, em toda minha vida, me senti tão feliz e tão realizada. Não imaginava que pudesse ser assim, tão bonito que chega a doer. É claro que tudo ainda é novo, cansativo, e ainda não durmo nem faço outra coisa que não seja cuidar dele. Mas, por mais contraditório que seja, é um cansaço que me restaura. Parece resgatar tudo o que é bom em mim. 

Hoje, mais uma vez balançando Levi na rede, comecei a cantar aquela música "Eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher...ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela só pra ver o sol nascer...". Aí prestei atenção na letra da música, e mudei a  composição...Comecei a cantar: "Eu só quis ter na vida simplesmente um lugar como esse, pra amar e pra viver...ter uma redinha branca na varanda, um marido e um filhote, só pra ver o amor crescer..." olhei pro céu e agradeci emocionada a Deus por estar vivendo aquele momento. Senti como se a felicidade estivesse ali, em pé, nos embalando. Olhei para o meu filho e ele sorriu pra mim. Sorri de volta e de repente, o mundo começou a fazer sentido. ;)



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Le-vi-da


Há uma semana vivi o maior milagre da minha vida: meu filho nasceu. Isso por si só já é um milagre da vida, gerar um novo ser, mas no meu caso o milagre foi literal.

Na quarta-feira passada, minha grande amiga Alessandra se despedia da vida mundana e se entregava à vida comunitária, na Comunidade de Pe.George. Eu estava com dor de cabeça e muito calor, mas aos 9 meses de gravidez lá fui eu me despedir da minha amiga, entregar uma carta a ela dizendo o quanto eu sentiria sua falta. Chegando na comunidade, eu e Elias encontramos nossa "anjo-da-guarda" D.Luiza, uma santa na terra que temos o prazer de conviver, e que é uma mulher cheia do Espírito Santo. Tão cheia que por muitas vezes Deus cochicha em seu ouvido coisas que ninguém ainda sabe. Sentei do lado de Dona Luiza naquele dia. Rezei muito, chorei muito com saudade de Alessandra, nos abraçamos, choramos juntas, e o tempo todo eu pedia a Deus que protegesse meu filho e lhe desse saúde. Era quarta-feira de cinzas, início da quaresma. Período de quarenta dias de reflexão e penitência. Eu me sentia bem, apesar do calor. Mas notei que Dona Luiza segurava minha mão de vez em quando com uma intensidade maior.

Saí de lá e fui para casa com muita dor de cabeça. Demorei a dormir. Algo me inquietava e eu não sabia bem distinguir o quê. O parto de Levi estava marcado para hoje, dia 21, quando eu completaria 39 semanas de gestação. Tudo estava tranquilo e eu tinha feito uma ultrassonografia há poucos dias que indicava que meu filho iria nascer em um estado perfeito de normalidade. Iria pesar uns 3,6kg e já estava com 48cm. Fui dormir com uma sensação de que eu estava doente, mas que Levi estava bem e saudável.

Às 7h30 da quinta-feira, dia 14/02, eu tive uma intuição fortíssima de que algo de errado estava prestes a acontecer. Não sabia explicar, mas insisti para meu marido me levar junto para o trabalho dele e de lá eu tentaria fazer uma ultrassonografia. Ele tentou me impedir dizendo que a próxima já seria no outro dia, me falou para não ficar ansiosa e que tudo estava bem. Mas não estava. E eu sabia. Quem me conhece sabe que quando coloco algo na mente é impossível eu não ir até o fim. Mas não havia nessa cidade, vaga para se fazer uma ultrassom. Tentei de tudo e por fim, consegui convencer o médico que sempre realizava meus exames a me atender na última hora da manhã. A secretária ainda insistiu: "Por que você não vem à tarde?" e eu respondi, incisivamente: "Não, tem que ser agora de manhã". Ainda bem.

Quando eu e meu marido começamos a ver as imagens, Dr.Eudes perguntou: “Ele estava pesando quanto na última USG?” Eu respondi: “3kg”. Ele disse: “Estranho, ele emagreceu... está com 2 quilos e pouco”, com um tom apreensivo na voz. Comecei a chorar. Eu sabia que minha intuição não havia falhado. E o médico completou: “Seu líquido amniótico reduziu demais. Vou ligar para Inez (minha obstetra)”. Saí de lá aos prantos. Eu iria ter meu filho naquela tarde e não sabia o que iria acontecer. Chorei durante todo o trajeto, e fazendo minha mala, eu continuava com aquela maldita sensação de que algo não estava bem. Convoquei toda minha equipe de fé (hehe) e pedi para todos rezarem. Quando falei com Vovó Tina ela me disse que tinha sonhado com ela e mamãe impedindo que Levi fosse atropelado. Chorei ainda mais.

Ao chegar na sala de parto, minha pressão estava 13/9. Eu ardia de suor e tensão, estava nervosa e com o maior medo que já senti em toda minha vida. Ao tomar a anestesia, pedi para meu marido colocar uma música para eu ouvir. Primeiro ouvi “Yellow” do Coldplay e quando a médica abria meu abdômen, eu ouvia “Como é grande o meu amor por você” de Roberto Carlos. Até que ouvi minha obstetra gritando: “Meu Deus, vamos tirar ele logo, não tem mais líquido nenhum!”. Nesse momento (o pior da minha vida, sem dúvida), eu chorava e tinha certeza de que eu e Levi iríamos morrer. (Pausa para o choro...)

Vi a cara branca do meu marido olhando minha pressão na tela e lá estava 8/5...e baixava.... nesse momento entre o mundo daqui e o de lá, eu senti uma paz momentânea que me fez dizer: “Minha Nossa Senhora, salva pelo menos meu filho e segura na minha mão...” (Nova pausa...)

Até eu ouvir o choro de Levi eu não estava nesse mundo. Passei do pior para o melhor momento da minha vida em segundos. Quando ouvi aquele chorinho, experimentei, de novo, a sensação concreta de ter Deus e Maria me segurando e dizendo que tudo estava bem. Não sei mensurar minha gratidão a “Eles” por eu e Levi estarmos chorando juntos naquele momento. Jamais vou esquecer o que senti e o que vivi no dia 14/02/2013. Acho que eu, Elias e Levi já temos muitos milagres para nos convencer, definitivamente, que Deus não é uma energia cósmica e sim uma presença real e magnífica, em quem podemos nos abandonar e confiar, que Maria realmente é uma grande intercessora e não uma simples personagem bíblica, que a fé realmente pode mudar o rumo das coisas.

O médico anestesista exclamou um “como ele é pequeno!” quando Levi nasceu. Eu chorei mais uma vez. Mas Deus me cochichou: “como ele é grande!” (Pausa novamente...).


Dona Luiza, àquela altura não parava de ligar para meu marido. Conversando com ela, soube que ela tinha tido uma visão de morte quando esteve ao meu lado um dia antes de Levi nascer. Passou a noite rezando muito para que Deus não permitisse que aquela imagem se concretizasse. Disse que só parou de pedir de manhã, quando adormeceu. Ela adormeceu e eu acordei com aquela intuição divina que salvou a nossa vida. Choramos juntas hoje, quando após vacinar meu filho, o levei para vê-la.

Levi teve uma pequena restrição de crescimento intra-uterino durante uma semana, ainda não sei porquê. Nasceu pesando 2.755kg e 48 cm. Não era bonitinho nem rosado como eu imaginava. Não tinha dobrinhas nem bochechas gordas. Tinha rugas e parecia um velhinho. Fiquei muito preocupada e temerosa por sua saúde. Mas Deus me deu leite em abundância, saúde e condições para que Levi possa reverter o sofrimento pelo qual passou e crescer forte e saudável. Eu não duvido disso, mas como eu sou uma reles mortal e falível, a pediatra me confirmou tudo isso. Hoje ele já está mais gordinho e rosadinho. Sou suspeita para falar dele. :)

Enfim...A vida, definitivamente, nos mostra a passos largos que não temos o controle de nada, de que tudo pode mudar a qualquer momento, que nossos planos não são absolutamente nada diante de cada possibilidade de mudança, de fatos que alteram absolutamente tudo, sobretudo alteram quem somos. Hoje meu objetivo de vida não é ter mais nada, nem título, nem cargo, nem mais do que eu tenho. É só ser. Ser a melhor mãe que eu puder para Levi. Ser uma pessoa mais humana, tolerante e sensível à dor do outro. Quando qualquer arrogância quiser me visitar, lembrarei do dia 14/02, quando tudo que importava era simplesmente, sobreviver. No meu caso era sobreviver e pedir para Deus salvar a vida daquele pequeno ser.

Estamos sempre salvando alguém. Mas acho que a principal pessoa a ser diariamente salva somos nós mesmos. Que Deus me salve de tudo o que não for bom hoje, que Ele possa só deixar em mim sentimentos que valham à pena. Não é fácil. Principalmente em uma dança hormonal onde me sinto sensível demais, triste demais, feliz demais, tudo ao mesmo tempo. 

Mas quando olho para Levi, sinto um amor inexplicável que supera qualquer sentimento. Nunca amei dessa forma, nunca experimentei essa sensação completamente inexplicável e indelével.

E é com esse amor que te parabenizo hoje, meu filho, pela sua primeira semana de vida. Que Deus esteja sempre te lembrando que por pouco, você não estaria neste mundo. Então você deve fazer sua existência valer à pena. E eu vou estar ao seu lado para te ajudar nessa tarefa tão difícil. Eu te amo com um amor que ultrapassa meus limites. Como diz a música que tocava quando você nasceu: "e não há nada para comparar, para poder lhe explicar como é grande o meu amor por você..."

Beijos, Mamãe.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Saudades e Prelúdios


Este está sendo o último mês da minha antiga vida, e confesso que preciso escrever com uma necessidade quase vital. "Último mês" não porque vou morrer (assim espero), mas de certa maneira a vida que eu conhecia até então está acabando, não apenas pela chegada do meu filho Levi, mas por uma série de novos ciclos que estão em fase de nascimento. Sinto um aperto no peito com esses avisos da nova vida que está por vir. E choro. Choro muito. Além dos meus hormônios estarem dançando como loucos, choro pela saudade de ser criança, de ser filha, de ser neta. Choro de medo de ser mãe. Choro por deixar de ser  a estudante de sempre em busca de seu lugar ao mundo, e agora ter efetivamente, um lugar no mundo. Não sei o que pensar nem o que esperar dessa vida que tanto eu desejei um dia e agora bate à minha porta. 

Hoje eu sonhei com minha avó. E é claro que eu acordei chorando. Graças a Deus ela está bem e com saúde, mas no meu sonho, ela não estava no quarto que sempre foi meu e dela. O quarto estava cheio de crianças que brincavam de roda. Nenhuma das crianças era eu. Nem ela. Acordei e não dormi mais. Parece que, de repente, me tornei adulta hoje. E eu não queria...porque crescer dói muito. Me dói no fundo da alma saber que não posso mais dormir no quarto de vovó. A última vez que tentei, Levi me chutou a noite toda querendo mais espaço. 

Não sei que pessoa estou me tornando. Tenho receio de não ser, nem de longe, aquela que eu esperava me tornar. Mas sei que senti todas as dores e alegrias que a vida me permitiu até então. Senti tudo, com intensidade, e vivi cada momento da minha vida com sabor de quem sabe que tudo é finito. Até mesmo essa angústia que sinto agora. Sei da sua importância. Já vivi sensações parecidas a cada mudança e sei que parar e contemplar essas zonas cinzentas nos ajudam a valorar o que passou e a saber exatamente o que queremos a partir de então. Talvez seja por isso que ando com tantas saudades. Sei que elas me lembram de um tempo que jamais irá voltar. Essa sensação me sufoca e me deixa com vontade de trazer todas as pessoas que me são caras para junto de mim. Mas, infelizmente, eu não posso. 

Mas a vida é tão bonita que mesmo com tantas saudades, mesmo com tempos em que estou tão feliz e de repente tão triste, o Amor resolve desabrochar em mim de uma maneira quase perturbadora. Quando chorei em muitos momentos em que eu escrevia esse texto, Levi se mexeu em alguns deles. Por alguma razão, sinto como se fosse o Amor me chamando para lembrar que é bom sentir saudades, mas talvez seja ainda melhor viver novos  "momentos causadores de saudades futuras"(MCSF). Tenho certeza de que essa nova vida que me aguarda traz inúmeros MCSF. E é bom que eu esteja vivendo esses dias com todas essas saudades reunidas. Isso ao mesmo tempo que me deixa triste, também me faz feliz. É um sinal de que passei pela vida vivendo e sabendo disso. Lembrei de um dos meus filmes favoritos, "Valentín", em que o protagonista, um menininho lindooo de 8 anos, fala em uma das cenas:
"Há pessoas que tem tudo e não aproveitam. Como esse sujeito que vejo, às vezes, na esquina do bar, que toma café e lê o jornal, e só. Há pessoas que parecem que não vivem. Ou que a vida não lhes é útil".

E para coroar essa Esperança que o Amor me dá, lembro de uma frase que escutei uma vez e achei muito bonita: "A vida é feita de prelúdios". Escrevi essa frase no caderno de Levi. E expliquei- "E sabe o que é "prelúdio"? Segundo o dicionário, 'Prelúdio é um gênero musical de obras introdutórias de outras obras maiores'. Ou seja, é apenas a introdução da nossa grande ópera." :)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

2013 começou!

É com MUITA alegria que recomeço este blog hoje, já em 2013, dizendo que Jamyle (lembra dela? A pop-star aqui do blog, a quem vc ajudou?) está de consulta marcada para o dia 18/01/13 no Hospital Sarah Kubitschek de Salvador!!!! É uma grande vitória, pois tudo foi uma grande arquitetura de Deus para dar certo. E deu! Estou muito feliz e esperançosa, e não poderia de deixar de compartilhar esta grande notícia aqui, através do Blog, que teve um importante papel para que tudo acontecesse. Ainda temos um longo caminho para trilhar, mas 2013 começou com um passo, ou melhor, um pulo, na direção certa. E essa notícia nos anima para que possamos acreditar na nossa capacidade de ir em frente, de mudar nossas atitudes para que resultados diferentes (e melhores) possam acontecer. Eu não poderia estar mais feliz hoje. Sinto que Deus, realmente, não para de agir na vida de cada um de nós, mesmo que não acreditemos na intervenção divina. Hoje eu, definitivamente, acredito! Obrigada a cada um que nos ajudou. Essa vitória também é sua. 





ps: E é claro, quem quiser manter contato com a família da nossa querida Jamyle, ou repassar seu contato para pessoas que querem ajudá-la, o telefone é (83) 8775-9640. Os pais dela são Amaury e Joelma.