terça-feira, 23 de novembro de 2010


Meu melhor amigo é aquele que consegue retirar de dentro de mim o que existe de melhor.

(Fred Britts)


domingo, 21 de novembro de 2010


Ontem foi show de Vanessa da Mata aqui em João Pessoa. Quem estava lá deve saber que não foi apenas um show de música, mas sobretudo, de sensações. E o que seria da vida sem as emoções que nos fazem ir além, tremer o queixo, chorar ao ouvir uma música sem que nada de racional venha à mente. Antes do show começar, não acreditei o quão perto do palco ficava meu lugar e agradeci secretamente por ter decidido comprar o ingresso logo que as vendas começaram. De cara, fiz amizade com um párea,louco pela Vanessa como eu, chamado Igor, que tinha (e eu senti inveja) todos os encartes de Cd´s e Dvd´s autografados pela nossa "amiga confidente". Engraçado que nós nem precisaríamos saber o nome um do outro para sabermos que temos ao menos uma coisa em comum: Com a lente da sensibilidade extremada, só vemos aquilo que nos toca. E Vanessa é mestre nisso.

Quando as luzes apagaram-se e logo depois apenas um feixe delas focou a cantora, ela estava cantando "Amado" e depois disso qualquer lembrança que eu tenho me remete à sensações tão fortes que chego a duvidar se realmente eu estava lá. Tremia o queixo, não segurava o choro, cantei todas as músicas que eu conhecia (as que eu não conhecia eu fechava os olhos e ouvia), vibrei, tirei foto, pulei, segurei a mão da Vanessa e quis dizer que ela fazia parte da minha vida, da minha história, que ela cantava tudo aquilo que eu sentia. Se todo poeta é um fingidor e "finge a dor que deveras sente", Vanessa da Mata deve fingir a dor do mundo.

Ouvir a música "Palavras" cantada quase ao pé do ouvido pela própria compositora vai entrar na minha história como um dos momentos mais emocionantes da minha vida (ouvir Cranberries tocar "Ode to my Family" ao vivo, há um mês, também está neste capítulo), e posso jurar que Vanessa me viu chorando e piscou pra mim, mesmo que ninguém tenha visto. Não importa. Nossa intimidade não é da conta de ninguém. Saí de alma lavada, como se tivesse acabado de pisar em um "céu claro de estrelas".


As palavras saem quase sem querer,
rezam por nós dois.
Tome conta do que vai dizer.
Elas estão dentro dos meus olhos,
da minha boca, dos meus ombros.
Se quiser ouvir é fácil perceber.

Não me acerte, não me seque,
me dê absolvição.
Faça luz onde há involução.
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu não.
Reabilite o meu coração.

Tentei, rasguei sua alma e pus no fogo.
Não assoprei, não relutei.
Os buracos que eu cavei não quis rever
Mas o amargo delas, resvalou em mim.
Não deu direito de viver em paz
Estou aqui para te pedir perdão

Não me acerte, não me seque,
me dê absolvição.
Faça luz onde há involução.
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu não.
Reabilite o meu coração.

As palavras fogem se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem não me fazem dormir
Adoece e curam, não me dão limites
Vá com carinho, no que vai dizer

Não me acerte, não me seque,
me dê absolvição.
Faça luz onde há involução.
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu não.
Reabilite o meu coração.



segunda-feira, 15 de novembro de 2010


O POETA E A ROSA - E com direito a passarinho
(Vinicius de Moraes)

"Ao ver uma rosa branca
O poeta disse: Que linda!
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda!

Qual não é sua surpresa
Ao ver, à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação.

É que a rosa, além de branca
(Diga-se isso a bem da rosa...)
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa.

– Que foi? – balbucia o poeta
E a rosa; – Calhorda que és!
Pára de olhar para cima!
Mira o que tens a teus pés!

E o poeta vê uma criança
Suja, esquálida, andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência à rosa.

– São milhões! – a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu, na tua vaidade
Querendo usar do meu nome!...

E num acesso de ira
Arranca as pétalas, lança-as
Fora, como a dar comida
A todas essas crianças.

O poeta baixa a cabeça.
– É aqui que a rosa respira...
Geme o vento. Morre a rosa.
E um passarinho que ouvira

Quietinho toda a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda faz um cocozinho
Na cabeça do poeta."

p.s: Apesar da imagem remeter ao Fernando Pessoa, o poema é do Vinicius de Moraes.

sábado, 13 de novembro de 2010



"Uns acharam bom, outros acharam ruim, e assim é a vida, todos opinam aqui e ali, e eu serei apenas mais uma a palpitar sobre o recente filme de Woody Allen. É possível que você concorde comigo e estaremos em sintonia, ou você irá discordar, engrossando a turma dos que acham que Woody Allen não é mais o mesmo, ou você talvez sempre tenha considerado Woody Allen um chato de galochas, ou vai ver nem sabe quem é esse tal de Woody Allen, e nada disso mudará uma única fagulha no curso do universo.

O monólogo de abertura de Tudo Pode Dar Certo, com Larry David no papel do mal-humorado Boris, traz esse espírito fatalista. Segundo ele, nada tem muito sentido, a sorte é que manda no jogo, e se ao menos facilitássemos as coisas para tornar nossos dias mais suportáveis, mas fazemos justamente o contrário. “As pessoas tornam a vida pior do que é preciso”, reclama o protagonista.

Na contramão da crítica especializada, para mim Woody Allen está cada vez melhor, se não como cineasta, ao menos como filósofo. Tem se revelado mais debochado e mais leve, como convém a um homem inteligente que está chegando aos 75 anos e que aprendeu que só o que nos cabe nessa vida é não fazer mal aos outros e usufruir da melhor maneira a honra de ter nascido.

Dessa vez, Woody Allen foi fundo na caricatura. Mostra um personagem ranzinza que fracassa em suas duas tentativas de suicídio, uma loirinha desmiolada, uma senhora careta que reavalia seus conceitos e “se reinventa”, um príncipe encantado cujo único atrativo é ser bonitão e um pai de família temente a Deus que descobre que é um gay enrustido. “Às vezes os clichês são a melhor forma de dizer as coisas”, alerta Boris ainda no início do filme.

Quando assisti a Igual a Tudo na Vida, filme de 2003, lembro de ter comentado que Woody Allen havia se dado alta. E sigo com a mesma impressão. Em suas obras anteriores (principalmente as realizadas entre o final dos anos 70 e o início dos 90), todas ricas e consistentes em seus questionamentos existenciais, o diretor parecia dizer: “Não há cura”. Em sua resignada fase atual, ele parece dizer: “Não há doença”. O diretor está apenas confirmando que não temos nenhum domínio sobre os mistérios que nos rondam e sobre experiências nunca testadas. Então, não importa o que façamos, o risco de dar certo é o mesmo de dar errado, e até quando parece que dá errado, funciona. Qualquer coisa funciona. Até um Woody Allen clichê. "

(Martha Medeiros)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"O Tamanho das Pessoas...

Os Tamanhos variam conforme o grau de envolvimento...Uma pessoa é enorme para ti, quando fala do que leu e viveu, quando te trata com carinho e respeito, quando te olha nos olhos e sorri.

É pequena para ti quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade, o carinho, a consideração,o respeito, o zelo e até mesmo o amor.

Uma pessoa é gigante para ti quando se interessa pela tua vida, quando procura alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto contigo. E pequena quando se desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma.

Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos da moda.

Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas.

Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.

É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. O nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e
frustrações.

Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes. Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma
pessoa grande... é a sua sensibilidade."

(Ercilia Ferraz)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


"Não podemos reconhecer a nós mesmos se não nos amamos. E só o amor nos permite penetrar fundo em nós mesmos e reconhecer quem somos em verdade.
Amar-se a si mesmo é diferente de girar em torno de si."

(Anselm Grün, em "O pequeno livro da verdadeira felicidade)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Diferenças

Há três anos escrevi esse texto aqui no blog e continuo comungando da mesma opinião...


Voltaire uma vez falou que a primeira lei da natureza seria perdoar reciprocamente nossas tolices, já que, como seres humanos , estamos sempre empedernidos de debilidade e erros. Seria bom se assim fosse, mas o fato é que, além de não perdoar diferenças, não sabemos conviver com elas. O ato de conviver por si só já é difícil, porque implica em termos que exercitar virtudes não tão comuns, como a paciência e o respeito. Mais do que isso, escutar o outro e desvendá-lo pelo indizível não é tarefa fácil para quem não possui interesse em perceber as belezas indevassáveis de cada um.

O que- sinceramente- sei é que para quem está "no alvo", é quase uma súplica interior que cada julgador implacável do outro lado saiba que não pode tomar o lugar de Deus na hora do julgamento. O que quero dizer com isso é que, ao se formar uma opinião sobre alguém, qualquer que seja, devemos incluir na conta o que não sabemos sobre elas. E talvez, depois dessa soma, não haja resultado a ser comprovado. Porque as pessoas não "devem" ser, elas simplesmente são.

A música do Titãs fala da dor que cada um traz no coração, e eu adicionaria à letra tudo o que ronda esta parte que, metaforicamente, detém todas as emoções do mundo em um só lugar. Meu pai sempre diz que "coração é terra que ninguém anda" e essa frase carrega em si todo o peso da falibilidade que qualquer julgamento apressado pode conter. Não raras as vezes a imagem que alguém transmite de si é totalmente diversa daquilo que realmente é.Ninguém sabe do outro, sequer de si próprio, a não ser do que se sente, pela inevitabilidade do sentir. Assim como as palavras deste texto nem sempre se mostram fiéis à intenção do que pretendo expressar, as pessoas em sua gênese, encontram-se nas entrelinhas, naquele espaço abstrato que ninguém é capaz de alcançar.

Portanto, sejamos mais amenos nas opiniões formadas sobre todos (parafraseando o mestre Raulzito) que despejamos por aí. Cada um sabe quem escolhe para conviver, mas a ninguém é dado o direito de ensinar como viver. Até porque ninguém sabe mesmo...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Eleições


Estou com medo do resultado das eleições do próximo domingo. O cenário é tenebroso. Apesar dos avanços de Lula, ainda não me convenci que Dilma não é um fantoche falante. Nem que Serra não é FHC. Vou votar em Marina, porque ela me parece coerente, correta e acho que vai dar continuidade sem continuísmo. Acredito nela. Mas, apesar de ser o cargo mais importante, não é a eleição de Presidente que me assusta. Porque, lá no fundo, eu quero acreditar que o Brasil ainda terá um futuro em que o governante será importante, mas não "decisivo" para que a gestão pública funcione. Quero acreditar nisso, e por isso escolho candidatos que tenham uma bagagem que lhes permita pensar em modelos de gestão que ultrapassem as velhas políticas coronelistas.

Por isso, vou votar em Ricardo Coutinho para governador. Mas, infelizmente, há milhares de cabos eleitorais comissionados no meu pobre estado da Paraíba, que ainda temem ser demitidos caso seu coronel não seja eleito. Por isso, lotam as cidades de vermelho, na tentativa desesperada de que nada mude, para que o seu pão não seja lhes tomado. Não há como lutar contra isso.

O governador José Maranhão fez mil e um convênios irregulares nestes últimos tempos a fim de garantir a eleição à custa de dinheiro para os prefeitos (leia-se prefeitos, e não municípios). Por sua vez, os prefeitos fazem sua parte, distribuindo favores à população para que, no futuro, mais um lote de dinheiro público lhes socorra, desta vez, nas suas próprias eleições municipais.

O que realmente me assusta não são tais práticas, em um País em que numa eleição boba de uma TV, os brasileiros escolhem "Marcelo Dourado", homofóbico, violento e desrespeitoso, como um ícone que os representa. Também escolhem "Tiririca" para deputado federal sem saber que há o chamado "coeficiente eleitoral", que faz com que o voto no palhaço acabe elegendo aqueles que de palhaço nada tem, como Valdemar da Costa Neto e João Paulo Cunha, ambos mensaleiros corruptos.

O que realmente me assusta é ver como paraibanos, que tem um curso superior, que são letrados, alfabetizados e qualquer outro adjetivo que os coloque em uma posição "superior" à da "massa" (se é que existe tal posição), tem a coragem de votar em José Maranhão. Em um político que já disse inúmeras vezes que não vê razão em se fazer concurso público ( eu no lugar dele, com milhares de apadrinhamentos e comissionados políticos também não veria), que sequer recebeu os professores da UEPB para conversar sobre o fim de uma greve de fome que durou 6 meses (eu era estudante da UEPB na época e senti na pele o que é ter um governador que não prioriza a educação...perdi um semestre inteiro), em um governador que só nomeia concursados por meio de mandados de segurança, que faz empréstimos absurdos ao BNDES sem se preocupar com a conta, um governador despreparado, milionário e semi-analfabeto. Um governador que pensa na política como só e somente só um instrumento de poder e vaidade.Ver pessoas esclarecidas vestidas de vermelho, mas sem avermelhar de vergonha em eleger o mesmo candidato que atrasa a PB há dez anos.É triste.

Por muito tempo eu ainda acreditei que era possível existir uma terceira via na Paraíba, que pusesse fim ao ping-pong dos Cunha Lima x Maranhão. Hoje, eu torço para que essa terceira via ainda exista com a possibilidade de Ricardo ser eleito. Mesmo que haja coligação de tudo que é partido ao redor dessa candidatura, eu não acredito que parcerias políticas possam resumir um candidato. Se assim fosse, Lula, hoje aliado de Collor e Sarney, não teria sido um bom governante.

Alguém pode pensar que certamente eu tenho a promessa de algum cargo, ou de algum familiar que possa "ganhar" um emprego, com essa apologia a uma campanha eleitoral.
Mas não. Eu não estou ganhando nada em falar isso. A única motivação que tenho é que alguém que tenha o poder de mudar alguma coisa (você, leitor e eleitor) possa refletir mais antes de votar domingo.

Gostaria muito que, mesmo que pareça traição com os respectivos parentes apadrinhados do Governo, mesmo que você possa ganhar um emprego, ou sua família possa se beneficiar com a vitória de José Maranhão, pense nas próximas gerações. Pense que a Paraíba poderia mudar. Pense que poderia existir aqui uma gestão pública parecida com a de Eduardo Campos em Pernambuco, que fez concurso para 500 gestores em Adm. Pública, para a Polícia Civil e Militar e com essas e outras soluções simples e eficazes mudaram radicalmente o nosso estado vizinho.

João Pessoa está se tornando mais violenta a cada dia. Não existe policiamento no Estado, vivemos à mercê de bandidos que encontram na Paraíba uma terra sem lei. E não são apenas bandidos armados. São bandidos também de terno e gravata, que pedem nosso voto e nos iludem com promessas de "saúde, educação e renda", sem dizer que é uma promessa restritiva: só para eles próprios.

Cuidado, eleitor. Vote em quem lhe pareça confiável, em quem possa despertá-lhe alguma esperança em mudar o futuro da nossa cidade, do nosso Estado, do nosso País. Não vote em quem você não acredita. Não vote em que lhe promete dinheiro, porque esse dinheiro já é seu.
Espero que todos possam pensar antes de votar, porque, como diria o Gabriel-O Pensador:

"Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente

Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ontem foi meu chá-de-lingerie (substituto da panela!), e foi uma tarde maravilhosa. E o engraçado é que quando lembro o porquê de ter sido tão bom, eu só penso nas amizades verdadeiras que estavam ali, nas meninas rindo e me transmitindo as melhores energias que elas tinham. Não tenho palavras para descrever o que senti ao ouvir cada uma das maravilhosas mulheres presentes falarem tão bem de mim, que muitas vezes nem sei bem como ser mulher. Quase sempre me vejo como uma menina, assustada, confusa e encantada com o mundo.
Gostaria muito de aproveitar este espaço para agradecer a Luana, Cami,Camila, Alessandra,Virgínia,Larisa, Vivi, Luiza, D.Neide,Adriana, Ana Patrícia, Fátima, Lilyane, Aline, Evinha, Tia Jane, Chris, Mayra, Cybelle, Ingrid,Fê, Niedja e Amanda, D.Gena, Marília, Mamãe, (Carol Montenegro, Lidiane e Carol Lavor, que não puderam ir, mas queriam), mulheres únicas que fizeram de um dia comum um dia muito especial para mim, que combina muito com esse texto aqui:

Mulher Despida

"Depois da invenção do photoshop, até a mais insignificante das criaturas vira uma deusa, basta uns retoquezinhos, aqui e ali. Nunca vi tanta mulher nua. Os sites da internet renovam semanalmente seu estoque de gatas vertiginosas. O que não falta é candidata para tirar a roupa. Dá uma grana boa. E o namorado apóia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um acontecimento, as amigas invejam, então pudor pra quê?

Não sei se os homens estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas.Infelizes não devem estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm mais de 14 anos.Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade... emocionalmente.

Nudez pode ter um significado diferente e muito mais intenso. É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história. É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos.

Aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas, e não bonecas de porcelana. Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.Pouco tempo atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas, lembro que esperava-se com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina Sfat, por exemplo - pra citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar além do próprio corpo. Mas agora não há mais charme nem suspense, estamos na era das mulheres coisificadas, que posam nuas porque consideram um degrau na carreira. Até é. Na maioria das vezes, rumo à decadência. Escadas servem para descer também.

Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior. Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro. Não conheço strip-tease mais sedutor."

Martha Medeiros

domingo, 19 de setembro de 2010

Parabéns para Sofia!


ODE AO GATO

Artur da Távola

"Nada é mais incômodo para a arrogância humana que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias de amor. Só as saudáveis.

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Só aceita relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de traiçoeiro, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

“Falso”, porque não aceita a nossa falsidade e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é esperto. O gato é zen. O gato é Tao. Conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem o ama, mas só depois de muito se certificar. Não pede amor, mas se lhe dá, então o exige.

O gato não pede amor. Nem dele depende. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém, sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa a relação sempre precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Vê além, por dentro e avesso. Relaciona-se com a essência.

Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende ao afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando esboça um gesto de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é muito verdadeiro, impulso que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe; significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós).

Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, eles se afastam. Nada dizem, não reclamam. Afastam-se. Quem não os sabe “ler” pensa que “eles não estão ali”, “saíram” ou “sei lá onde o gato se meteu”. Não é isso! É preciso compreender porque o gato não está ali. Presente ou ausente, ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais, vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente ao nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.

Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.

O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precisa de promoção ou explicação os assusta. Ingratos os desgostam. Falastrões os entediam. O gato não quer explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda a natureza, aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato.

Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração e yoga. Ensina a dormir com entrega total e diluição no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase quinze minutos) se aquecendo para entrar em campo. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, ao qual ama e preserva como a um templo.

Lições de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, o escuro e a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.

Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gesto e senso de oportunidade. Lição de vida e elegância, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências ou exageros e incontinências.

O gato é um monge portátil sempre à disposição de quem o saiba perceber."


p.s: Esse texto homenageia minha filhota Sofia, gata que me ensinou a amar os felinos (e a amar melhor), e que faz três anos esta semana.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Tristeza Permitida- Martha Medeiros

Não, hoje eu não estou triste. Mas esse texto (Luana, mais uma vez!) é perfeito para descrever alguns vários dias meus e que ninguém conseguiu explicar- até hoje.

"Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?


Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos."

Martha Medeiros

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Apesar da yoga, muitos leitores anônimos (hehehe) já tinham lido o post anterior e indicado pra outras pessoas lerem. Além disso, Elias ficou triste, e foi aquele auê. Não sei se fiz certo ou não em colocá-lo de volta, mas vai saber! Tenho uns feelings estranhos e talvez alguém esteja precisando lê-lo! Namastê!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Casamento

Demorei a vir aqui. Não por falta de tempo ou porque estava doente, ou alguma outra justificativa, mas, realmente não sabia mais o que escrever. Minha vida tem se transformado lentamente e os dias acabam sem que as lições também terminem no fim da noite. Fico ruminando (a expressão é mesmo essa!) sobre todos os acontecimentos definitivos que estão tomando forma em uma trajetória cuja filosofia, até pouco tempo atrás, é que tudo era mutável, transitório e que um casamento mais atrapalhava meus planos do que os alimentava. Peço licença aos leitores para falar de mim, não para detalhar o que tem acontecido no meu "infinito particular", mas para economizar a terapia e escrever sobre as conclusões (ou falta delas?) a que cheguei nesses últimos dias, e que me fizeram ter medo de vir aqui.

Pois bem. Na semana passada, eu e meu futuro marido (acompanhados das nossas queridas testemunhas, Lavor e Lex) fomos ao Cartório dar entrada nos trâmites do nosso casamento civil. Acrescentei o sobrenome de Elias no meu nome, tiramos fotos, foi aquela festa. Depois, fiquei olhando pra aquele papel com meu nome mudado e não consegui dormir.

Para os desavisados ou ainda leigos na alma feminina, isso poderia soar como se eu não amasse meu "noivo" (não sei porquê, mas acho essa palavra horrorosa), mas, como disse uma vez minha avó, do alto dos seus 82 anos, à minha irmã, que antes do casamento perguntava se era normal uma mulher ter dúvidas a poucas horas da cerimônia: "-Não é normal, não. Só se você for daquelas que tem alguma coisa na cabeça" , digo:Amo o homem com quem vou me casar.

Descubro isso todo dia, quando me pego olhando uma foto dele agarrando meu sobrinho e choro sorrindo, sozinha e sem que ninguém veja. Passei muito tempo pensando que o amor só era "casável" quando o "candidato" a marido me fizesse sentir todas as sensações mais arrebatadoras do mundo. Queria casar não apenas apaixonada, mas obcecada. Nos meus sonhos casamenteiros, o meu marido era uma mistura de Príncipe com Super-Homem, com o charme do Javier Bardem e a inteligência criativa de um Tarantino.

Me apaixonei diversas vezes, cheguei ao fundo do poço em outras, tive poucos, ótimos, ruins, breves e longos relacionamentos, mas confesso que achava perfeita a frase da Clarice Lispector que dizia: "o que eu quero não tem nome." E não tinha mesmo, já que nunca soube direito o que querer. Em cada um dos meus ex-namorados eu encontrava muitas qualidades e outros tantos defeitos, e com o tempo, fui vendo que não apenas a mistura do "Javier-Tarantino" não existia, mas, se existisse, não seria garantia nenhuma de felicidade. Fui aprendendo, lenta e penosamente, a me desgarrar dos meus desejos mais infantis de busca por completude, e aceitando o fato de que jamais alguém irá preencher meus vazios. Eles são meus.

Eu não desejava mais o impossível, apenas o possível. E aqui entenda-se que o possível não é sinônimo de passividade, muito pelo contrário. O possível é tentar encontrar alguém cujas qualidades mais naturais sejam aquelas que para nós são primordiais para mantermos um certo nível de contentamento , e cujos defeitos pudessem ser "suportáveis", ou "contornáveis".
Pedir isso (escrevendo!) não apenas me trouxe mais paz e tranquilidade por saber que se tratava de um desejo sincero, mas me trouxe exatamente quem eu precisava. Depois de muita terapia, livros, orações e um desejo profundo de me conhecer, vi quais eram as virtudes que eu buscava em alguém e quais os defeitos não seriam mais tolerados.

Enfim, em meu coração, pedi um homem que tivesse o poder supremo me fazer rir no meio de uma briga, que não fosse burro nos aspectos mais importantes (um Tarantino eu podia não ter, mas um Tiririca não!) , que me inspirasse alguma credibilidade, que gostasse da minha gata e da minha família, e que, principalmente, " tivesse um abraço afetuoso a me acalentar quando alguma angústia me tirasse o sono". Repeti isso muitas vezes. Para mim, uma carente desnutrida, o afeto era o mais importante. Não suportaria mais frieza, distância ou qualquer outra característica que me lembrasse indiferença ou abandono. Não queria um chiclete, queria um MM´s: doce sem grude. Era esse o ponto-chave.

Encontrei Elias. E por esse encontro, subirei ao altar. Como assim? Vou casar?

Não era possível. Depois de anos tentando me desvencilhar completamente da ideia de que para ser feliz é preciso ter um dia de princesa, no qual todos a sua volta podem "atestar" seu valor vendo que você foi "escolhida", depois de tanto tempo de amadurecimento, de saber do meu valor independente de relacionamentos ou cerimônias, após anos de completa reconstrução da ideia do casamento para mim, não era possível nem aceitável que agora eu tivesse voltado àquele ponto inicial, em que eu acrescentava ao meu nome um sobrenome estranho ao dos meus pais, um "Asfora" que não tinha nada a ver com a minha história, com a minha vida. E permaneci ali, madrugada adentro, olhando aquele papel do cartório, sem saber direito quem eu era.

Mas, então, no outro dia, talvez por esses milagres revestidos de cotidiano que nos abençoam, Elias me presenteia com o novo livro da minha querida escritora Elizabeth Gilbert, autora do meu livro de cabeceira "Comer,Rezar,Amar", que eu já havia pedido mas nem sabia direito qual era o tema. No primeiro livro, Liz decide se conhecer, ter um ano sabático em três países diferentes e reestruturar-se após um divórcio. No último país (Indonésia) conhece "Felipe", o brasileiro José Lauro Nunes, com quem inicia um relacionamento cujo "desfecho" é exatamente o que ela mais temia: um casamento. O segundo livro, portanto, fala da pesquisa que a autora fez sobre o matrimônio, não apenas uma pesquisa bibliográfica, mas sobretudo, emocional.

Nem preciso dizer o quanto a leitura deste livro (Comprometida- Ed.Objetiva) me fez bem. Eis alguns trechos que grifei:


"...hoje, ser uma pessoa de caráter é importante para mim, e quanto mais envelheço mais importante é. Naquele momento, então, fiz a única coisa certa ao lado desse homem que adorava. Prometi a ele que não o deixaria (...). No último instante, Felipe me cochichou:

-Eu te amo tanto que até me caso com você.
-E eu te amo tanto- prometi- que até me caso com você".

"Observar a interação das mulheres hmong me fez pensar que a evolução da família ocidental, cada vez menor e mais nuclear, pode ter exercido uma pressão específica sobre os casamentos modernos. A mulher hmong não espera, necessariamente, que o marido seja o seu melhor amigo, o confidente mais íntimo, o conselheiro emocional, o par intelectual, o consolo em tempos de tristeza. Em vez disso, elas recebem boa parte desse sustento e apoio emocional de outras mulheres: irmãs, tias, mães, avós." " É tarde demais para eu ser hmong."

"No mundo ocidental, moderno e industrializado de onde venho, a pessoa com quem resolvemos nos casar talvez seja a representação mais viva da nossa própria personalidade. (...) Não existe escolha mais íntima do que a pessoa com quem vamos nos casar; em grande parte, essa escolha nos diz quem somos."

"As ocasiões em que realmente optamos e depois sentimos ter assassinado algum aspecto do nosso ser ao tomar aquela única decisão concreta são igualmente inquietantes. (...) O filósofo Odo Marquard observou na língua alemã uma correlação entre a palavra zwei (dois) e zweifel (dúvida), indicando que dois de tudo trazem à nossa vida a possibilidade da incerteza."

"...e era isso que agora me preparava para esperar outra vez com Felipe: que, de certa forma, fôssemos responsáveis por todos os aspectos da alegria e da felicidade um do outro. Que a descrição do cargo de esposo fosse ser tudo um do outro. (...) Pela primeira vez na vida, me ocorreu que talvez eu pedisse demais do amor. Ou, talvez, eu estivesse pedindo demais do casamento."

"Basta observar a minha relação com Felipe e o fio finíssimo que nos mantém juntos.(...) Por que preciso desse homem? Só preciso porque, por acaso, o adoro, porque a sua companhia me traz alegria e consolo e porque, como me disse o avô de um amigo, ´às vezes a vida é dura demais para ficar sozinho, e às vezes a vida é boa demais para ficar sozinho´. O mesmo acontece com Felipe: ele também só precisa de mim pela minha companhia. Parece muito, mas não é: é apenas amor. Pela própria e irritante definição, tudo o que o coração escolhe por razões misteriosas pode ser desecolhido depois-por razões misteriosas. (...) Sabendo disso tudo, entrarei no meu segundo casamento com muito mais humildade."

"Durante nosso período de corte, fiquei intacta dentro da minha personalidade e me permiti aceitar Felipe como ele era."

"Buda ensinou que a maioria dos problemas, se lhe dermos tempo e espaço suficientes, acaba se desgastando. Mas, novamente, tive realcionamentos no passado em que os problemas jamais se desgastariam, nem em cinco vidas consecutivas, então o que eu sabia sobre isso? Só o que eu sei é que parece que eu e Felipe nos damos muito bem. O que não sei dizer é por quê. Mas seja como for, a compatibilidade humana é mesmo um troço misterioso."

"Amo esse homem. Amo-o por incontáveis razões ridículas. (...) Amo-o e portanto, quero protegê-lo, até mesmo de mim, se é que isso faz sentido." "Algumas coisas que não podemos mudar em nós mesmos são feias de se ver. Assim, ser visto por inteiro por alguém e ainda assim ser amado é uma dádiva humana que pode ser quase um milagre."

"Bauman acredita que os casais modernos foram ludibriados quando lhes disseram que podiam e deviam ter as duas coisas- que na vida deveríamos ter partes iguais de intimidade e autonomia. Diz que, na nossa cultura, passamos a acreditar erroneamente que, se conseguirmos administrar direito a vida emocional, seremos capazes de vivenciar toda a constância tranquilizadora do casamento sem jamais nos sentirmos confinados ou limitados."

"Como explicou o filósofo David Hume, em todas as sociedades são necessárias testemunhas na hora de promessas importantes." "Veja bem, estudei Joseph Campbell, li ' O Ramo de Ouro´, e entendi. Reconheço plenamente que a cerimônia é essencial para os seres humanos: é um círculo que desenhamos em torno de fatos importantes para separar o grandioso do ordinário".

"Mount sugere que todos os casamentos são atos automáticos de subversão contra a autoridade. (...) Assim, talvez eu tenha entendido essa história deliciosamente ao contrário. Dizer que a sociedade inventou o casamento e depois obrigou os seres humanos a se unirem talvez seja absurdo. Nós inventamos o casamento. Os casais inventaram o casamento."

"Por isso, me desculpem se, no fim dessa história, parece que estou me agarrando a qualquer bobagem para chegar a conclusões confortadoras sobre matrimônio. (...) Preciso desse conforto. Sem dúvida, precisei da teoria tranquilizadora de Ferndinand Mount de que, quando se olha o casamento sob certa luz, dá para defender que a instituição é intrinsecamente subversiva. Recebi essa teoria como um ótimo bálsamo calmante."

Ufa! Depois de transcrever quase o livro todo (exageros à parte, claro) , só posso agradecer imensamente a Deus por ter me dado um homem maravilhoso como parceiro, que me presenteia com o que eu preciso ouvir quando ele não sabe dizer, e que, enfim, tem o melhor " abraço afetuoso a me acalentar quando alguma angústia me tira o sono"...

"Finalmente, sozinha naquele canto com o meu querido, tudo dará certo, tudo dará certo, e todo tipo de coisa dará certo."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sou suspeita pra falar deste autor (Anselm Grün), já que ele fala de Deus de uma forma profunda e ao mesmo tempo cheia de leveza, mas quando li esse trecho, achei que devia postar aqui, por obrigação:

"O maior anseio do homem, hoje, é alcançar tranquilidade, não apenas exterior como também interior. Ele sofre com a intranquilidade de nossa época, com o barulho circundante, com a agitação que o empurra para a morte. Mas, em seu anseio por tranquilidade verdadeira, o ser humano sofre ao mesmo tempo de uma incapacidade de realmente se acalmar. Os poucos momentos que tem para se desligar de tudo não lhe dão tranquilidade, mas o confrontam com o ruído interior, com seus pensamentos, preocupações, medo, sentimentos de culpa e o pressentimento de que sua vida não corre do modo que sonhou um dia. E, dessa maneira, ele corre da calma nesses momentos desagradáveis e se entorpece de novo com o barulho que lhe aflui de todos os lados. Ele foge de novo para a atividade, para se esquivar de sua tão incômoda verdade.
Os pensamentos deste livro mostraram que o caminho para a verdadeira tranquilidade passa pela verdade própria, e é altamente exigente; um caminho que leva para longe de mim e minhas preocupações e desemboca em Deus. As palavras de Santo Agostinho sobre nosso coração que vive inquieto enquanto não repousar em Deus correspondem à nossa experiência mais profunda. Nós mesmos não podemos aplacar nossos medos, debilitar nossos sentimentos de culpa, não podemos fugir de nossa sombra. Precisamos da árvore em cuja sombra podemos descansar, sem nos amedrontarmos com nossa própria sombra. Precisamos de Deus, em cuja proteção nos sentimos salvos, em cujo amor podemos pressentir que somos incondicionalmente aceitos, que tudo pode ser em nós, até mesmo a intranquilidade, as preocupações e os temores dolorosos. Na proximidade de Deus pode cessar a fuga mortal de nós mesmos, porque diante de Deus tudo pode ser e podemos mostrar tudo o que está em nós. Podemos, então, nos sentar à sombra de sua árvore e encontrar a verdadeira tranquilidade pela qual tanto ansiamos."
****
do livro: "Tranquilidade do Coração - em harmonia consigo mesmo"- Anselm Grün
Ed. Loyola

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Texto lindo que encontrei do Caio F. Abreu:


"Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em vc.
Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança.Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você.
Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro.
Quis tanto dar, tanto receber.
Quis precisar, sem exigências.
E sem solicitações, aceitar o que me era dado.
Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana.
Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê.
Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então.
Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas.
Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.
De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento.
Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa.
Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro.
Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis...
E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura."

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Adorei os comentários do último post. Muito obrigada por encherem esse blog de vida, minha gente! Estou indo pro Recife, mas para o Nu Canto não ficar vazio, aí vai endereços de blogues que ensinam a fazer um monte de coisinhas fofas e passei muito tempo neles: http://www.superziper.com/
http://porque-nao-pensei-nisso-antes.blogspot.com/2010/06/o-que-fazer-com-rolos-de-papel.html

E tem esse aqui que só tem apetrechos criativos:
http://www.osegredodovitorio.com/vitrine.aspx

Beijos!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Zona de Conforto


Faz tempo que não escrevo aqui. O tempo anda me consumindo mais do que eu a ele. Mas hoje, resolvi arregaçar as mangas e fazer muita coisa que eu adiava há muito tempo, dentre elas, voltar às aulas de Pilates. Lá, fiquei divagando nas minhas ansiedades e preocupações entre um exercício e outro. Meus pensamentos palpitavam na tentativa de solucionar um grande impasse que estou vivendo e eu mal conseguia executar os movimentos, e respirar do jeito certo.
Até que o professor diz: "Pro exercício ter efeito, vocês precisam sair da zona de conforto!". Esticou mais minha perna e eu senti o músculo, antes adormecido, acordar subitamente.
De algum modo, aquela frase substituiu meus pensamentos e fiquei pensando nela como um mantra: "sair da zona de conforto". Foi a resposta certa pro momento certo.
Cheguei em casa disposta a sair daquilo que me é mais fácil, confortável. Não comi o jantar gordo, que sempre me impede de emagrecer. Tomei um banho demorado e joguei todos os shampoos vencidos no lixo. Arrumei o quarto. Descobri que só uso metade dos sapatos e roupas que tenho e separei tudo para doar. Sentei na escrivaninha e comecei a estudar (sim, numa terça-feira é possível começar muita coisa!).
Sei que tudo isso pode parecer trivial e cotidiano, mas estas pequenas atitudes me fizeram uma grande faxina mental. O problema pelo qual estou passando para mim não é mais um problema, a solução sempre esteve ali à frente: preciso sair da zona de conforto.
Parece clichê, mas notei que eu estava tendo respostas iguais para ações iguais. Se eu continuar a fazer as mesmas coisas, sempre terei os mesmos resultados. Se quero mudar isso, tenho que esticar mais a perna e sentir o músculo doer. Difícil? Bastante. A gente gosta mesmo é de fazer tudo igual, porque tudo aquilo que nos é familiar parece melhor: continuar com a mesma rotina, as mesmas dúvidas e dívidas, o mesmo namorado, a mesma cidade, o mesmo emprego, mesmo que nada disso seja o que a gente queria de verdade. Mudar, qualquer coisa que seja, até nossa aparência, exige esforço e vontade, e quase sempre, é a preguiça e o desânimo os que mais nos acolhem, que nos oferecem um sofá, uma tevê, uma "segunda-feira eu começo".
Mas, como diria o Coldplay, em uma das melhores músicas de todos os tempos (The Scientist):

"Nobody said it was easy" !
(Ninguém disse que era fácil!)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Saúde Mental

"Acabo de saber da existência de um filósofo grego chamado Alcméon, que viveu no século 6 Antes de Cristo e que, certa vez, disse que saúde é o equilíbrio de forças contraditórias. O psicanalista Paulo Sergio Guedes, nosso contemporâneo, reforça a mesma teoria em seu novo livro (A Paixão, Caminhos & Descaminhos, em que ele discute os fundamentos da psicanálise). Escreve Guedes: “A saúde constitui sempre um estado de equilíbrio instável de forças, enquanto a doença traz em si a ilusória sensação de estabilidade e permanência”.

Não sei se entendi direito, mas me pareceu coerente. O sujeito de boa cuca não é aquele que pensa de forma militarizada. Não é o que nunca se contradiz. Não é o cara regido apenas pela lógica e que se agarra firmemente em suas verdades imutáveis. Esse, claro, é o doente.

Do nascimento à morte, há uma longa estrada a ser percorrida. Para atravessá-la, recebemos uma certa munição no reduto familiar, mas nem sempre é a munição que precisávamos: em vez de nos darem conhecimento, nos deram regras rígidas. Em vez de nos ofertarem arte, nos deram apenas futebol e novela. Em vez de nos estimularem a reverenciar a paixão e o encantamento, nos adestraram para ter medo. E lá vamos nós, vestidos com essa camisa-de-força emocional, encarar os dias em total estado de insegurança, desprotegidos para uma guerra que começa já dentro da própria cabeça.

Armados até os dentes contra qualquer instabilidade, como gozar a vida?

A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas inexistem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas. Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum.

É um choque. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.

Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla, e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegido apenas pela consciência que tem de si mesmo e do que a cerca – o universo todo, incerto e mágico.

Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. O sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um pensamento único, sem se movimentar.

Já o sadio baila sobre o precipício. "

Martha Medeiros-Jornal de Sta Catarina-30/05/2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Hoje é dia do amigo. E ironicamente, foi o dia em que mais precisei deles, para me salvar. Obrigada aos meus irmãos de sempre e de todas as horas, que sabem quem eu sou. Agradecer é pouco!


A vida, algumas vezes, pode ser terrivelmente dolorosa e extremamente injusta. Quando isso ocorre, uma resposta mais positiva e eficiente deve ser tomada, deixando o lado pessoal. Todas as vezes em que as dificuldades surgirem e você se recusa a tomá-las pessoalmente, você passa a se mover poderosamente para muito além das limitações do seu próprio ego. Você se coloca imediatamente a, pelo menos, um nível acima de tudo o que possa ter acontecido e, desse vantajoso ponto de vista, as suas opções aumentam consideravelmente.

Se alguém grita na sua face e sua reação é a de simplesmente gritar de volta, o que foi que você alcançou com isso? Porém, se você, em vez disso, der um passo atrás, tirar o seu próprio ego da sua frente e olhar objetivamente a situação, você poderá dar uma resposta muito mais eficiente.

Como é que você pode evitar de trazer as coisas para o terreno pessoal? Ao ter em mente que apesar daquilo o afetar grandemente, isso não reflete aquilo que você é. Apesar disso ter acontecido a você, isso não é parte integral daquilo que você é. Você sempre tem a chance de não levar as coisas para o lado pessoal. Isso não significa que você não se importa. Pelo contrário, isso significa que você se importa o suficiente e por essa razão você está disposto a dar a mais poderosa e eficiente resposta.

Nélio DaSilva

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pedi licença a Oswaldo Montenegro e transformei essa canção em oração diária, que repasso agora:


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe

Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Amém.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Nunca é tarde demais para viver uma vida com propósito, significado, alegria e amor. Não importa quanto tempo você já tenha desperdiçado, nunca é tarde para retirar o melhor deste momento em que você se encontra. Não importa os erros do passado e o aparente retrocesso irreversível, nunca é tarde demais para seguir uma nova e correta direção. No momento em que você decide viver uma vida plena, o passado deixa de ter um poder controlador sobre a sua vida. Onde você está agora é exatamente onde você precisa estar. Com gratidão em seu coração pela jornada que o trouxe até aqui, tome a decisão de retirar o melhor de onde você está. Começando neste lugar onde você se encontra, você pode partir para a direção que desejar. Nunca é tarde demais para tomar a melhor de todas as decisões. Deixe para trás os desapontamentos, as frustrações, os retrocessos e as experiências negativas que você acumulou. Nunca é tarde demais para que – pela graça de Deus – você possa se tornar aquela pessoa real, autêntica, singular e preciosa que você realmente é."
(Nélio Da Silva)
p.s: Obg pelo e-mail, Lua!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

L'aventure!


Definitivamente, uma das coisas que eu mais gosto na vida é alugar filme (sim, ainda existem locadoras!) e ver em casa, mesmo que seja em um sábado à noite, com a melhor companhia. Se for para assistir animação, eu me esbaldo. Porque, sem dúvida, há filmes belíssimos neste gênero, e que trazem uma mensagem capaz de classificá-los como verdadeiros "filosofilmes", do que simplesmente "desenho", como dizem.

Vi "Toy Story 3" no cinema e saí de lá com gosto de choro entre os lábios. Chorei muito, e de verdade. O filme foi feito para nós, adultos que, depois de 15 anos do primeiro "Toy Story", desejávamos ser surpreendidos pelo mesmo encantamento do passado, talvez desejosos de nos reencontrarmos com a criança que fomos e que não podemos mais ser. Mas, eis que "Toy Story3" foi feito não para nos encontrarmos com o que fomos, mas com o que somos!

Lições de lealdade, amizade, discussões sobre traumas e rejeições, sobre a passagem do tempo, de fases e até sobre a mortalidade, estão expostas ali, em um filme que emociona do começo ao fim. Sensação parecida e bem mais suave eu só tinha experimentado com "Ratatouille", um clássico para mim. Mas a Disney e a Pixar sabem como surpreender minha imaginação, e fazem outro filme que me fez chorar no sofá, neste último sábado: "UP- Altas Aventuras".

O filme começa já com a história de Carl e Ellie, e em menos de cinco minutos e sem nenhuma fala, numa das sequencias mais bonitas que eu já vi no cinema, a esperança de um amor pra vida toda aparece, ressoando, e como uma luz, nos arranca um suspiro e um sorriso, apesar do fim inevitável: Ellie morre.

Porém, Carl não desiste do sonho de ambos e parte para sua última (ou primeira?) aventura, como um último ato de amor e devoção à esposa. Leva consigo, por engano, um escoteiro mirim fofo, Russel, que não apenas será seu fiel escudeiro, como mudará o rumo da vida do homem de 78 anos.

A cena que mais me tocou é quando o velhinho consegue realizar seu sonho e, sentindo a presença da companheira, ao folhear seu antigo diário, descobre que chegou a hora de recomeçar. Procura outro sentido para viver e se desapega de tudo o que lhe era tão precioso, mas que não lhe servia mais.

A casa que não conseguia se mover de repente se liberta dos pesos que a prendiam, e sobe, fazendo o "Sr. Fredricksen", flutuar para o céu, a bordo de seu lar voador preso a balões que salvarão seu amigo mirim e o libertarão para sempre, em uma metáfora perfeita da vida e de seus recomeços, onde novo e velho se unem e se completam, em uma beleza quase poética.

Depois do filme, falei pro meu pai: "O senhor tem que assistir esse filme", como uma sentença de sentido novo para a vida. Ele me responde: "Não gosto de desenho".

E quem falou em desenho?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Sertão virou mar.


Eu não tinha escrito ainda sobre as chuvas que assolaram parte do Nordeste porque esse assunto me causa uma revolta que me impede de escrever. As palavras me faltam. Elas escapam, sendo engolidas pelo mar que se alastrou pelo Sertão pernambucano e alagoano. Mas a revolta não é da água, é do Brasil. Sempre que acontecia uma tragédia como a de Santa Catarina, no ano passado, e a do Haiti ou Niterói-RJ, eu ficava pensando: "Deus proteja o Nordeste, porque se isso acontecesse por aqui, a conversa era outra". O destino é mesmo cruel. Aconteceu: "O Sertão virou mar", e segundo minha avó, é o fim-do-mundo. Eu concordo. Mas discordo das datas: o mundo já teve fim faz tempo.
No mundo que teve fim, as pessoas tinham dignidade.

A tragédia que se anuncia só teve destaque porque é algo "sobrenatural" e dá ibope. O que é natural, que é o povo do sertão nordestino passar fome, é natural. É notícia de segunda linha. O que é natural é ver as terras de Renan Calheiros e Fernando Collor serem fábricas de votos, do povo flagelado e mendigando alguma esperança.

Natural é ver Pernambuco arder em terras secas, enquanto verbas do Ministério da Integração Nacional correm todas para a Bahia, onde o Presidente tem aliados políticos. Natural é ver um deputado dizer em um programa de tv (CQC,Band/28/06) que não sabe quais são os Estados atingidos pela calamidade e quando respondido, indagar: "E Pernambuco e Alagoas não são a mesma coisa?". Tudo isso é bem natural para nós. Ver a seca e a falta de trabalho, dignidade e esperança dos sertanejos é coisa ultrapassada, over. O que ninguém esperava mesmo é ver o mar no Sertão. Ninguém esperava que a natureza tivesse a força que imprensa nenhum nunca teve para denunciar tudo o que falta no mundo, e fica embaixo do tapete da hipocrisia.

A Copa do Mundo veio mesmo a calhar: é a desculpa perfeita para a nossa nação de distraídos.




p.s: Quem quiser ajudar as vítimas das enchentes, me mandem um recado, pois estamos reunindo donativos e voluntários para fazer alguma coisa por toda essa gente.
p.s2: A foto aí embaixo não é nova, é da enchente de 1969. Parte dos desabrigados foram alojados em um cadeia pública e lá permanecem até hoje, à espera de casas populares prometidas a cada campanha.




domingo, 20 de junho de 2010


Era uma vez um Jesus que disse a Maria de Magdala, em 'O Evangelho segundo Jesus Cristo': "Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti. Quero estar onde estiver a minha sombra, se lá é que estiverem os teus olhos."

Era uma vez um amigo do escritor que escreveu sobre sua morte:

"Não há palavras, Saramago levou-as todas."

terça-feira, 15 de junho de 2010

A Copa dos que não foram


Não.Eu não vou falar de futebol, até porque todo mundo do mundo só fala nisso e eu acho um tanto massante ter que ouvir o tempo todo que o Brasil tem mais volantes do que precisa, que devia ter feito mais gols para não enfrentar a Espanha nas oitavas de final, etc,etc. O que eu fiquei pensando hoje no tempo em que o jogo estava parado (o primeiro tempo todo, diga-se de passagem) foi naqueles jogadores que, apesar do clamor popular, não foram pra Copa. Fiquei pensando em como Neymar, Ganso, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e tantos outros que tinham chance e não foram escalados, deviam estar pensando: "eu devia estar ali".

Como eu já disse que a postagem não é sobre futebol, vou explicar porque resolvi escrever. JustificarEscrevo justamente por essa frase que ficou na minha mente durante um bom tempo: "eu devia estar ali".

Quantas vezes já vi meus sonhos serem realizados por outras pessoas, ou pior, ver que eu podia estar fazendo a diferença em um determinado lugar, mas para o qual eu não fui escalada. E fico pensando: "e por que eu não estou ali?" Quase sempre, descubro que a culpa não foi do técnico, foi do jogador. Do mesmo modo que Adriano, desperdicei algumas chances de estar onde eu queria estar. Como Ronaldinho, na hora "H" eu não dei o melhor de mim. Semelhante a Ganso e a Neymar, não tive chance de sequer disputar um jogo grande.

Para exemplificar um pouco, eu sempre quis escrever um livro. Mas nunca arrisquei, por me achar inexperiente demais. De repente, vejo uma Thalita Rebouças escrever para adolescentes e virar best seller. E a frase ecoa: "eu devia estar ali".Tenho tanto medo de grandes concursos jurídicos que sequer participo, e quando eu vejo, alguém do mesmo nível que eu é aprovado e empossado. "Eu devia estar ali".Vejo um caos em uma determinada Casa de Acolhimento de crianças e adolescentes de João Pessoa, minha mãe relata como a Diretora se porta e penso, sempre, que devia estar ali.

Mas então, por que eu, Adriano, Ganso, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros milhões de pessoas ficam fora do jogo? Será mesmo que a culpa é do Dunga? Receio que não. Apesar de eu não gostar do time, foram eles que mostraram resultados, que foram pros treinos, que acreditaram em si mesmos, que se superaram. Eu preciso é ter humildade de saber que não sou craque, mas nunca achar que eu não posso sequer ser reserva.

Acreditar em si mesmo deve passear entre esses dois extremos: a estrela da seleção quase sempre fica no meio do campo. E brilha.

Me aguardem em 2014! ;)

terça-feira, 8 de junho de 2010


Neste fim-de-semana, um carro quase atropelou minha avó, buzinou para assustar uma criança, estava com uma velocidade de uns 50km dentro de um estacionamento de um shopping, e xingou um motorista na hora da saída. Atrás do carro, estava escrito, em adesivo: "Eu e minha casa serviremos ao Senhor."

Ah, tá.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Hoje é aniversário do meu futuro marido (mais precisamente, faltam exatos 6 meses). E ele merece sorrisos todos os dias, por ser quem é. Um dia, quando eu estiver mais corajosa pra falar, eu escrevo aqui sobre este rapaz que conseguiu me laçar por completo.

"Natal caiu em fevereiro
É carnaval o ano inteiro
Só com você, poderia ser..."


Obrigada, Elias Asfora, por me devolver à melhor parte de mim. ;)

terça-feira, 18 de maio de 2010

O melhor

"Estamos obcecados com "o melhor".
Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do "melhor".
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.
Bom não basta.
O ideal é ter o “top de linha”, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor".
Isso até que outro "melhor" apareça - e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante.
Novas possibilidades também.
E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego.
Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.
Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos.
Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.
Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis.
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos.
Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente.
Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa?
E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto?
O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"? Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro?
O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.
A TV que está velha, mas nunca deu defeito.
O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos".
As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, masvai me dar a chance de estar perto de quem amo...
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem.
O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.
SERÁ QUE A GENTE PRECISA MESMO DE MAIS DO QUE ISSO?
Ou será que isso já é o melhor e na busca do "melhor" a gente nem percebeu? "
Leila Ferreira*


*Leila Ferreira é uma jornalista mineira com mestrado em Letras e doutora em Comunicação, em Londres. Apesar disso, optou por viver uma vidinha mais simples, em Belo Horizonte.