segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mutatis Mutandis

Segunda-Feira sempre é tido como o dia mundial de se começar uma dieta, mas para mim, a segunda sempre foi o marco para mudanças. É quando eu me sinto preparada para, após muito pensar e analisar mil hipóteses e variáveis no fim-de-semana, dar o primeiro passo na direção das coisas que desejo para mim. O problema é que mudar é difícil. Para nós é muito mais fácil nos acostumarmos com o que já temos, mesmo até que não seja bom. O problema é que não mudar, não assumir essa coragem de abandonar o confortável e partir para a busca nos mata aos poucos, lentamente, mas de maneira efetiva. Vamos perdendo o viço, o encanto, a paixão pela vida. Não mudar e continuar do mesmo jeito faz com que a gente vá desacreditando de nós mesmos. Talvez a depressão se instale exatamente no momento em que nos acostumamos a sermos sempre os mesmos, a fazermos sempre a mesma coisa e esperar pelo um amanhã igual ao hoje.

É claro que não estou falando de mudanças à tôa, aquelas que fazemos apenas para não passar vontade. Há pessoas que mudam tanto e à toda hora que talvez a própria mudança já tenha virado rotina. Para elas, não há como conviver com o estável. A vida parece uma corrida frenética em busca do melhor- essa ilusão que faz com que a gente despreze até mesmo aquela felicidade branda e tediosa, própria do equilíbrio. Mas será que para conquistarmos esse equilíbrio não precisamos cair, voltar à corda bamba, fazermos as escolhas mais difíceis, desequilibrarmos totalmente a fim de que possamos encontrar o lugar em que possamos colocar os pés no chão?

Para mim, a mudança mais difícil é essa: a de aceitar o desequilíbrio, a contradição. Enxergar a inadequação entre onde estamos e onde achamos que deveríamos estar. Me identifico quase que totalmente com uma frase do Baudelaire: "Parece-me que sempre estaria bem lá onde não estou, e essa questão de mudança é uma das que não cesso de discutir com minha alma."  Pois é.  Mas cansei de discutir com a minha alma se esse lugar onde eu acho que eu deveria estar é mesmo meu. Eu vou atrás dele. O que me encoraja é o sentimento pulsante que diz que eu devia estar ali, e não aqui. Se aqui fosse o meu lugar, será que eu não estaria em paz, me sentindo adequada? Padre Fábio de Melo sempre fala que é exatamente essa a ideia de felicidade: me sinto bem porque sei que estou exatamente onde eu deveria estar. 

Antes que você, leitor, me acuse de nunca estar satisfeita, eu tenho de concordar com você. Eu realmente acho que a linha reta é a morte. Guimarães Rosa dizia, brilhantemente: " O animal satisfeito dorme". Para ele, esta frase era um alerta para o risco de cairmos na monotonia existencial. O maravilhoso escritor conclui que a satisfação limita, reduz a energia vital própria da condição humana. Lembro que li em um livro do Mário Sérgio Cortella que ele detestava quando alguém dizia que estava muito satisfeito com o trabalho dele. Ele dizia que essa frase era assustadora, pois refletia que nada mais dele se desejava; que dele nada mais se podia esperar. Essa perspectiva é revolucionária, não?

Quando eu estava a pensar em tudo isso, recebi meu exemplar da revista "Vida Simples", cujo tema, adivinhem: "Mudar é preciso". E parece que quando decidimos, enfim, sacudir nossa existência e dar o primeiro passo para a mudança, ocorrem certos fenômenos mágicos e transcendentais quem sabe, que fazem com que você saiba que o universo está ao seu lado, conspirando para que você não desista de prosseguir. E mesmo que nesta segunda-feira eu ainda não tenha concretizado todas as mudanças que planejei, sei que já consegui dar um passo. E como diz, de novo e lindamente, o Guimarães Rosa, "não convém fazer escândalo de começo, só aos poucos é que o escuro é claro..."

Para você que ficou com vontade de transformar a terça em segunda (ou em sexta, quem sabe), vá em frente. Para terminar com Baudelaire de novo, “Existem manhãs em que abrimos a janela, e temos a impressão de que o dia está nos esperando.”

Boa Sorte para nós! :)