quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ps.

Hoje eu te escrevo esta carta com o único propósito de te pedir perdão. Preciso que você me perdoe por todas as vezes que não coloquei seu bem-estar acima de qualquer outro objetivo. Pelas vezes em que não te ouvi de um jeito doce, pelas vezes em que fui sua julgadora implacável. Te peço perdão por exigir tanto de você, por querer te transformar em alguém que eu gostaria que você fosse, ao invés de te aceitar simplesmente pelo que você é. E o que você é tem e deve ser respeitado, e acima de tudo, amado. 

Amo você com todos os seus defeitos e devo também amar a força que você faz para suavizá-los, mesmo que esta força às vezes te confunda, e te faça gerar defeitos muito mais imutáveis que aqueles outros. Aliás, será que existe coisas mais imutáveis que outras? Imutável é estático demais para você, tão flexível- até certo ponto.

Gostaria também de te pedir desculpas por desconfiar de você o tempo todo, por não confiar muito no seu talento, nas suas virtudes, na sua fé. Talvez seja pouco apenas te pedir perdão em relação a isso, eu deveria apenas começar a confiar e pronto, problema resolvido. Mas você sabe o poço de insegurança que sou, e quase sempre preciso que você me mostre concretamente e de uma maneira quase que tangível, que posso mergulhar nos seus mistérios sem medo de me frustrar, de me decepcionar com uma expectativa não satisfeita.E preciso me desculpar, mais uma vez, por mais este item: por medo de não dar certo, eu nem crio expectativas sobre você. Vou te levando de uma maneira tão leve, para não te assustar,que acabo exigindo muito pouco de você. E quando a gente não exige, a gente perde a oportunidade de se desenvolver. Vou, sem saber, minando teus talentos, teus sonhos, tuas esperanças, já que se acomodar é o jeito mais fácil de sobreviver.

Enfim, hoje estou aqui pra te pedir perdão por não saber te amar do jeito certo. Preciso te acalentar e escutar mais teus pedidos de ajuda, teus gritos silenciosos de socorro. Preciso saber te ouvir, saber te defender, te conhecer melhor para que você não precise de nenhuma terapia pra conseguir expressar o que você sente. Eu vou ser mais paciente contigo, e te julgarei menos. Vou te amar do jeito que você merece, pois se há alguma verdade aqui é esta: você merece que eu te ame. 

Um afago na alma,


Eu.

p.s: A carta é de mim para mim. :)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Artigo de Stephen Kanitz

Definição de Felicidade

Download (6)Todas as profissões têm sua visão do que é felicidade.
Já li um economista defini-la como ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos.
Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego.
Autores de livros de auto-ajuda definem felicidade como "estar bem consigo mesmo", "fazer o que se gosta" ou "ter coragem de sonhar alto".
O conceito de felicidade que uso em meu dia-a-dia é difícil de explicar num artigo curto.
Eu o aprendi nos livros de Edward De Bono, Mihaly Csikszentmihalyi e de outros nessa linha.
A idéia é mais ou menos esta: todos nós temos desejos, ambições e desafios que podem ser definidos como o mundo que você quer abraçar.
Ser rico, ser famoso, acabar com a miséria do mundo, casar-se com um príncipe encantado, jogar futebol, e assim por diante.
Até aí, tudo bem.
Imagine seus desejos como um balão inflável e que você está dentro dele.
Você sempre poderá ser mais ou menos ambicioso inflando ou desinflando esse balão enorme que será seu mundo possível.
É o mundo que você ainda não sabe dominar.
Agora imagine um outro balão inflável dentro do seu mundo possível, e portanto bem menor, que representa a sua base.
É o mundo que você já domina, que maneja de olhos fechados, graças aos seus conhecimentos, seu QI emocional e sua experiência.
Felicidade nessa analogia seria a distância entre esses dois balões - o balão que você pretende dominar e o que você domina.
Se a distância entre os dois for excessiva, você ficará frustrado, ansioso, mal-humorado e estressado.
Se a distância for mínima, você ficará tranqüilo, calmo, mas logo entediado e sem espaço para crescer.
Ser feliz é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter.
O primeiro passo é definir corretamente o tamanho de seu sonho, o tamanho de sua ambição.
Essa história de que tudo é possível se você somente almejar alto é pura balela.
Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas.
Querer ser presidente da República é um sonho que você pode almejar quando virar governador ou senador, mas não no início de carreira.
O segundo passo é saber exatamente seu nível de competências, sem arrogância nem enganos, tão comuns entre os intelectuais.
O terceiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois mundos.
Saber administrar a distância entre seus desejos e suas competências é o grande segredo da vida.
Escolha uma distância nem exagerada demais nem tacanha demais.
Se sua ambição não for acompanhada da devida competência, você se frustrará.
Esse é o erro de todos os jovens idealistas que querem mudar o mundo com o que aprenderam no primeiro ano de faculdade.
Curiosamente, à medida que a distância entre seus sonhos e suas competências diminui pelo seu próprio sucesso, surge frustração, e não felicidade.
Quantos gerentes depois de promovidos sofrem da famosa "fossa do bem-sucedido", tão conhecida por administradores de recursos humanos?
Quantos executivos bem-sucedidos são infelizes justamente porque "chegaram lá"?
Pessoas pouco ambiciosas que procuram um emprego garantido logo ficam entediadas, estacionadas, frustradas e não terão a prometida felicidade.
Essa definição explica por que a felicidade é tão efêmera. Ela é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada.
Fazer nada no paraíso não traz felicidade, apesar de ser o sonho de tantos brasileiros.
Felicidade é uma desconfortável tensão entre suas ambições e competências.
Se você estiver estressado, tente primeiro esvaziar seu balão de ambições para algo mais realista.
Ou então encha mais seu balão de competências estudando, observando e aprendendo com os outros, todos os dias.
Os velhos acham que é um fracasso abrir mão do espaço conquistado.
Por isso, recusam ceder poder ou atribuições e acabam infelizes. 
Reduzir suas ambições à medida que você envelhece não é nenhuma derrota pessoal.
Felicidade não é um estado alcançável, um nirvana, mas uma dinâmica contínua.
É chegar lá, e não estar lá como muitos erroneamente pensam.
Seja ambicioso dentro dos limites, estude e observe sempre, amplie seus sonhos quando puder, reduza suas ambições quando as circunstâncias exigirem.
Mantenha sempre uma meta a alcançar em todas as etapas da vida e você será muito feliz.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1910, ano 38, nº 25, 22 de junho de 2005, página 24

quarta-feira, 13 de julho de 2011

4 anos

Sim. Há quase quatro anos eu tenho este blog. Visitá-lo e "folhear" meus antigos escritos é como passear pelo passado, com o benefício de se saber exatamente o que senti ao viver cada fase. Hoje senti saudade daqui, mas uma saudade boa, que me fez ir da primeira à última postagem sem perceber. Confesso que todas as lembranças me fizeram tão bem que vou tentar escrever com mais assiduidade. É que, nos últimos tempos, tudo tem sido tão intenso na minha vida que me faltava "disposição" para postar alguma coisa. E não apenas disposição. Faltava confiança. Em mim e no que eu tinha a dizer. Também passei por problemas e achava que não seria bom expô-los aqui, ainda que não falasse diretamente sobre eles, a gente acaba vivendo os reflexos, e falando deles de uma maneira frustrante. Não queria isso, até porque este espaço sempre foi de esperança. E foi essa esperança que vi em um texto que escrevi em 2008, e gostaria de republicá-lo aqui, como forma de dar os parabéns a este meu querido Canto:


"Um belo dia eu acordei de um jeito diferente. Ao abrir os olhos, tive a certeza de que aquele era o primeiro dia do resto da minha vida. Até aquele momento, parecia que eu nunca tinha aberto os olhos. Quando enxerguei pela primeira vez, vi que a minha cama era macia, e meu travesseiro tinha o meu cheiro, impregnado de sonhos. Naquela manhã, olhei pro céu e vi que o infinito era o limite de tudo, que as nuvens eram moldadas de acordo com o que pensávamos delas, e que o canto dos passarinhos que acordam cedo eram a melodia mais gostosa de se ouvir. No dia em que enxerguei pela primeira vez, vi que o primeiro copo d´água da manhã abria espaço para purificar a minha alma por inteiro. O pão tinha o melhor gosto do mundo e o café parecia o suco que os ursinhos gummy tomavam pra conseguir realizar qualquer tarefa impossível.

Olhei pra minha avó e comecei a chorar por nunca tê-la visto tão linda, cheia de linhas no rosto que denunciavam um tempo bem vivido. A Sabedoria naquele momento para mim, se chamava Vovó Tina. Dei-lhe um beijo na testa e "saí pra ver o sol", como dizia o Zeca Baleiro. Tudo, naquele dia, se tornava claro, como nunca. Eu olhava as pessoas de um jeito diferente, sorria pra elas e de alguma forma, cada sorriso que eu recebia de volta me trazia a perspectiva de que o mundo poderia ser melhor se todo mundo começasse a enxergar o que, naquele momento, eu tinha o privilégio de ver. Cada conversa que eu escutava era como cenas de um cotidiano secreto, como se eu fosse uma espiã de Deus a observar como as pessoas estão vivendo o melhor presente que qualquer um poderia receber: a vida.



Senti a vida pulsando em cada poro do meu corpo, e as lágrimas sem motivo denunciavam que a vida era o único motivo. Passei a lembrar das inúmeras vezes que acordei sem nenhuma alegria, desperdiçando um dia que nunca mais voltaria a mim, simplesmente porque em algum momento achei que o sentido da vida era acordar e viver aquelas horas pensando em horas futuras, que, a cada dia, ficavam mais distantes. Parecia que eu vivia para um futuro que jamais chegava, enquanto o presente já partia, sem ao menos me dar tempo para me despedir.



No dia em que enxerguei pela primeira vez, parei de reclamar de tudo, da falta de tempo, da montanha de trabalho, do meu cabelo de manhã, da comida que não estava boa. Parei de xingar gente lerda no trânsito, parei de discutir relação e parei de querer sempre algo diferente do que eu tinha. Neste dia, eu simplesmente vi que eu podia respirar, andar, podia abrir os braços e me sentir livre.


Quando eu me vi no espelho, pela primeira vez, gostei de tudo que vi. Não quis mudar nada, e me prometi que nenhuma tpm, por mais braba que fosse, iria me fazer sentir a mulher mais horrorosa do mundo. Não quis mais ter o corpo da Juliana Paes e nem o rosto da Ana Paula Arósio. Eu gostei de mim do jeito que eu era.

No dia em que enxerguei, quis encontrar todo mundo que eu amava na mesma hora. A urgência não era por eu estar indo embora daqui a alguns dias, mas era urgência em viver "tudo o que há pra viver" sem perder um minuto, porque eu já havia desperdiçado tantas horas com tantas bobagens, e tudo agora me parecia urgente e intenso. Comecei a olhar diferente pra minha própria história e ter uma profunda gratidão a todas as pessoas que passaram na minha vida. Cada pessoa me deixou um ensinamento, ainda que eu nem mesmo a conhecesse. Passei a agradecer, em silêncio, àqueles que eu não podia estar perto. E talvez, você que esteja lendo essas palavras agora, tenha tido uma importância na minha vida que você sequer imagina.

Às vezes um sorriso consegue mudar uma vida. Uma palavra no momento certo, uma escolha, um confronto, uma conversa. Tudo isso pode parecer pouco, mas às vezes a profundidade se esconde nos menores diâmetros.


O melhor dia da minha existência foi no dia em que percebi a minha existência. E, depois disso, tudo fez sentido. No dia em que enxerguei pela primeira vez, eu pedi a Deus apenas uma coisa: que eu nunca mais fechasse os olhos."