quarta-feira, 13 de julho de 2011

4 anos

Sim. Há quase quatro anos eu tenho este blog. Visitá-lo e "folhear" meus antigos escritos é como passear pelo passado, com o benefício de se saber exatamente o que senti ao viver cada fase. Hoje senti saudade daqui, mas uma saudade boa, que me fez ir da primeira à última postagem sem perceber. Confesso que todas as lembranças me fizeram tão bem que vou tentar escrever com mais assiduidade. É que, nos últimos tempos, tudo tem sido tão intenso na minha vida que me faltava "disposição" para postar alguma coisa. E não apenas disposição. Faltava confiança. Em mim e no que eu tinha a dizer. Também passei por problemas e achava que não seria bom expô-los aqui, ainda que não falasse diretamente sobre eles, a gente acaba vivendo os reflexos, e falando deles de uma maneira frustrante. Não queria isso, até porque este espaço sempre foi de esperança. E foi essa esperança que vi em um texto que escrevi em 2008, e gostaria de republicá-lo aqui, como forma de dar os parabéns a este meu querido Canto:


"Um belo dia eu acordei de um jeito diferente. Ao abrir os olhos, tive a certeza de que aquele era o primeiro dia do resto da minha vida. Até aquele momento, parecia que eu nunca tinha aberto os olhos. Quando enxerguei pela primeira vez, vi que a minha cama era macia, e meu travesseiro tinha o meu cheiro, impregnado de sonhos. Naquela manhã, olhei pro céu e vi que o infinito era o limite de tudo, que as nuvens eram moldadas de acordo com o que pensávamos delas, e que o canto dos passarinhos que acordam cedo eram a melodia mais gostosa de se ouvir. No dia em que enxerguei pela primeira vez, vi que o primeiro copo d´água da manhã abria espaço para purificar a minha alma por inteiro. O pão tinha o melhor gosto do mundo e o café parecia o suco que os ursinhos gummy tomavam pra conseguir realizar qualquer tarefa impossível.

Olhei pra minha avó e comecei a chorar por nunca tê-la visto tão linda, cheia de linhas no rosto que denunciavam um tempo bem vivido. A Sabedoria naquele momento para mim, se chamava Vovó Tina. Dei-lhe um beijo na testa e "saí pra ver o sol", como dizia o Zeca Baleiro. Tudo, naquele dia, se tornava claro, como nunca. Eu olhava as pessoas de um jeito diferente, sorria pra elas e de alguma forma, cada sorriso que eu recebia de volta me trazia a perspectiva de que o mundo poderia ser melhor se todo mundo começasse a enxergar o que, naquele momento, eu tinha o privilégio de ver. Cada conversa que eu escutava era como cenas de um cotidiano secreto, como se eu fosse uma espiã de Deus a observar como as pessoas estão vivendo o melhor presente que qualquer um poderia receber: a vida.



Senti a vida pulsando em cada poro do meu corpo, e as lágrimas sem motivo denunciavam que a vida era o único motivo. Passei a lembrar das inúmeras vezes que acordei sem nenhuma alegria, desperdiçando um dia que nunca mais voltaria a mim, simplesmente porque em algum momento achei que o sentido da vida era acordar e viver aquelas horas pensando em horas futuras, que, a cada dia, ficavam mais distantes. Parecia que eu vivia para um futuro que jamais chegava, enquanto o presente já partia, sem ao menos me dar tempo para me despedir.



No dia em que enxerguei pela primeira vez, parei de reclamar de tudo, da falta de tempo, da montanha de trabalho, do meu cabelo de manhã, da comida que não estava boa. Parei de xingar gente lerda no trânsito, parei de discutir relação e parei de querer sempre algo diferente do que eu tinha. Neste dia, eu simplesmente vi que eu podia respirar, andar, podia abrir os braços e me sentir livre.


Quando eu me vi no espelho, pela primeira vez, gostei de tudo que vi. Não quis mudar nada, e me prometi que nenhuma tpm, por mais braba que fosse, iria me fazer sentir a mulher mais horrorosa do mundo. Não quis mais ter o corpo da Juliana Paes e nem o rosto da Ana Paula Arósio. Eu gostei de mim do jeito que eu era.

No dia em que enxerguei, quis encontrar todo mundo que eu amava na mesma hora. A urgência não era por eu estar indo embora daqui a alguns dias, mas era urgência em viver "tudo o que há pra viver" sem perder um minuto, porque eu já havia desperdiçado tantas horas com tantas bobagens, e tudo agora me parecia urgente e intenso. Comecei a olhar diferente pra minha própria história e ter uma profunda gratidão a todas as pessoas que passaram na minha vida. Cada pessoa me deixou um ensinamento, ainda que eu nem mesmo a conhecesse. Passei a agradecer, em silêncio, àqueles que eu não podia estar perto. E talvez, você que esteja lendo essas palavras agora, tenha tido uma importância na minha vida que você sequer imagina.

Às vezes um sorriso consegue mudar uma vida. Uma palavra no momento certo, uma escolha, um confronto, uma conversa. Tudo isso pode parecer pouco, mas às vezes a profundidade se esconde nos menores diâmetros.


O melhor dia da minha existência foi no dia em que percebi a minha existência. E, depois disso, tudo fez sentido. No dia em que enxerguei pela primeira vez, eu pedi a Deus apenas uma coisa: que eu nunca mais fechasse os olhos." 

3 comentários:

larissa disse...

bandida q texto lindo adorei

Franco disse...

Parabéns para o " Nu Canto" e para parabéns para Vivianne!!! Já chegamos na era do bolinho virtual!...rs
Bjão.

Ana Cecília disse...

Parabéns à vc, Vivianne, que nesses 04 anos nos encanta com seus escritos...

Bjos!