quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Próxima Parada...

Ontem um ex namorado de uma amiga minha veio falar comigo por acaso e mesmo casado e com filho, perguntou por ela com uma ponta (de um iceberg?) de saudade no ar. Assistindo a novela hoje (admito sim, mas vejo porque sou refém do talento do Mateus Solano), vi uma cena em que o antigo namorado da protagonista quer viver novamente o romance passado, exigindo que sua amada devolvesse a ele a parte que lhe fazia falta. Ela argumenta que não dá mais, que já faz muito tempo e eles são outras pessoas...
Fico pensando nos rompimentos e nas saudades que a gente vive na vida. É preciso seguir em frente, dizem. Mas para quem ainda ama, é como se o tempo não passasse. Ou melhor, o tempo passa, mas continuamos na mesma "estação", como diria a música maravilhosa da Adriana Calcanhotto. Aliás, essa música é uma poesia completa:

"Você entrou no trem e eu na estação, vendo um céu fugir... Também não dava mais para tentar lhe convencer a não partir...e agora? Tudo bem... Você partiu para ver outras paisagens e o meu  coração embora finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação..."

Quem continua amando  aquele que "embarcou no trem para ver outras paisagens", fica parado, em 'stand-by', na mesma estação até que o amor se vá junto com o outro. Mas o amor às vezes permanece na mesma estação, 'embora finja' fazer outras moradas. Triste isso. Mais triste ainda é quando o amor se vai com o trem, e o casal continua parado na mesma estação. Não há mais para onde ir, mas por alguma razão, eles permanecem ali, talvez esperando que um trem os atropelem.


Ninguém está a salvo de ver "um céu fugir", de ver planos desfazerem-se num piscar de olhos, e quando isso acontece, acredito que é preciso viver essa dor, organizar o luto, aprontar as malas de lembranças e finalmente, esperar até que um outro trem surja, inundado de perspectivas e esperanças. Algumas vezes esse trem vem logo, outras vezes a espera é bem demorada. Na maioria das vezes, o que acontece é conseguirmos ir apenas de uma estação para outra, em pequenos trajetos de ônibus, de táxi, de carona... são esses pequenos passos que vão nos devolvendo a capacidade de ver que o caminho continua. Mas os tempos, as estações e os bilhetes que compramos são diferentes demais para cada um de nós.

Tem gente que, assim que desembarca em outra estação, esquece logo do companheiro de viagem que ficou para trás, outros os levam no coração mesmo que sejam andarilhos, há outros que só guardam os bilhetes de poucos trens, e há ainda aqueles cujas malas de lembranças são até maiores que suas próprias andanças.

Eu já estive em algumas estações. Parei por muito tempo em algumas, fui ver outras paisagens outras vezes, mas sempre tive a certeza de que cada tempo é importante para moldarmos o tipo de companheiro de viagem que nos tornamos. Creio que a beleza da nossa trajetória não se mede pelo destino que tomamos a partir de cada escolha do bilhete...mas pelo que deixamos na bagagem do outro. Talvez pensar assim torne até a música mais bonita: mesmo que o outro se vá e eu fique ou vice-versa, sabemos que somos bagagem que não pesa um no outro. Bagagem que pesa é mágoa, ressentimento. Lembrança que vale a pena levar na mala são aquelas que nos fazem voltar por um instante ao lugar que um dia fomos felizes. 

Tudo isto me lembra um trecho do livro do Érico Veríssimo em que ele diz: 

"Como podia uma criatura de alma limpa andar pelos caminhos da vida? Lembrou-se das palavras de Olívia em uma de suas cartas: "Tu uma vez comparaste a vida a um transatlântico e te perguntaste a ti mesmo: ‘Estarei fazendo uma viagem agradável?’. Mas eu te asseguro que o mais decente seria perguntar: ‘Estarei sendo um bom companheiro de viagem?’". 

Talvez seja exatamente essa a pergunta que deveríamos fazer, todos os dias. Independente da 'estação'. ;)