quarta-feira, 29 de outubro de 2008


Estou feliz. "Ainda que D.Sebastião não volte", como diria Dom Quixote, ainda que eu esteja longe de tanta gente que eu amo, ainda que eu esteja me adaptando a uma cidade e pessoas novas, ainda que existam tantos aindas, eu estou feliz. E não é por eu ter motivos para tanto (e ainda bem que eu tenho...), mas é pelo fato de não mais me preocupar em satisfazer absolutamente ninguém antes de mim mesma.

Quando decidi ser feliz, fiz escolhas diferentes, tentei caminhos diferentes e hoje sinto que consegui um resultado diferente do que sempre tive. Por algum motivo que só Deus sabe, vivi até hoje sonhando com uma "vida perfeita". Mas a "vida perfeita" nunca foi perfeita para mim. Fui descobrindo isso aos poucos. E, ao mesmo tempo, fui me descobrindo. Vendo o que me fazia bem efetivamente, diferente do que eu achava que me fazia bem e não era verdade. Aliás, eu acho que vale a pena buscar a verdade. Tirar tudo o que não for nosso, tudo o que sobra, tudo o que envaidece, tudo que for além do que deve ser.

Hoje me mudei para meu novo "apertamento" (aqui em Brasília, não existem apês com metros, e sim com milímetros quadrados...). Depois de tanta busca, enfim, achei um lugar do lado do Parque da Cidade, lugar que eu mais gosto aqui. No ap não tinha mobília. Antes que eu gastasse meu primeiro salário antes mesmo de tomar posse, fiquei constrangida em comprar algo além do necessário. Não apenas porque a gente vai aprendendo a se desprender de tanta "matéria", mas também porque nunca tinha visto problemas de cidade grande tão de perto. Aqui os meninos moram embaixo das grandes avenidas, em um cubículo entre um concreto e outro, e quase sempre há fumaça de crack e sinal de fome. Eles ficam perto dos tonéis de lixo e já vi muitos, logo cedo, catando o café-da-manhã.

Então, fico me perguntando se há mesmo algo a pedir, se já tenho tudo de sobra. Só comprei a cama, levei minhas roupas e com o frigobar e o fogão de 2 bocas, acho que não preciso mais de muita coisa. Quero aprender a ser mais simples, a desejar menos, consumir menos, a viver feliz com o que eu tenho, com o que eu sou.

Acho que precisei "sentir Brasília na pele", ver que aqui quase tudo gira em torno de dinheiro e status, pra perceber que,definitivamente, não é isso que eu busco. Claro que dinheiro é importante (e muito), mas a gente tem que saber ser dono e não escravo dele. E status é algo que aboli da minha vida há algum tempo. Status de relacionamento, de profissão, de endereço,de carro, de msn! Status serve mais pros outros que pra nós. Por muito tempo, vivi na pele aquela frase de Clarice Lispector: "é incômodo ser dois. Eu pra mim e eu para os outros." Agora não. A única coisa em que me preocupo hoje é ser feliz. Sendo só uma mesmo. E isso dá um trabalho...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Paraibanas x Paraibanas


Ainda estou no curso de formação do concurso e confesso que hoje minha paciência,meu ânimo, meu ritmo, minha alegria,minha disposição esgotaram-se. Apesar de estar meio doente, não me esgotei por causa da rotina, e sim pelas pessoas que tive o desprazer de conhecer aqui em Brasília. E por incrível que pareça, apesar dos brasilienses serem o povo mais esquisito (eufemismo p/ fdp,frise-se) que já vi na vida ( sabe aquela música do aprendiz que só fala: money,money,mone-y...? acho que deveria ser o hino daqui), a pessoa mais desagradável que já tive o desprazer de conhecer é, por mais irônico que possa parecer, uma paraibana.

Já me explico: ela é uma professora do curso (ah, por favor, nunca façam cursos na FGV. São os piores professores que já tive na vida. Se o curso envolver políticas públicas, gestão de pessoas, ESTATÍSTICA, por favor,fujam correndo!) e começou a ensinar(????????x 99) métodos quantitativos, a começar pela parte de estatística.

Eu, como uma boa aluna da Faculdade de Direito, sou uma ameba completa em cálculos e fórmulas. E nessa aula, como não poderia deixar de ser, eu simplesmente não entendi bulhufas do que a digníssima senhora dizia. A única coisa que eu entendia era o sotaque dela, e confesso que, num primeiro momento, até pensei que as origens de alguém determinam muitas de suas características. Meus colegas de curso já se animavam em conhecer a Paraíba por tanta coisa que eu sempre falo, até chegar a bruxa paraibana e acabar com toda a fama do meu estado querido em ter gente acolhedora e simpática como um de seus patrimônios culturais.

Pois bem. A minha digníssima conterrânea começou a falar besteira. Muitos dos alunos da turma são matemáticos, engenheiros, contadores e começaram a notar que a mulher não sabia de nada. Ela começou a ficar tão insegura, mas tão insegura, que engolia as palavras com rapidez para que não houvesse tempo hábil para alguém formular uma pergunta.

Eu, com a minha boca e coragem grandes, só consegui dizer: "Professora, não estou entendendo nada do que a senhora está falando."

Ela soltou os cachorros. Disse que, se eu não estava entendendo, o "azar era meu"e que eu pedisse minha exoneração antes mesmo da posse. Pra quem me conhece, sabe até que esta é a hora da risada irônica que antecede minhas respostas. Claro que respondi. Respondi sem brigar (muito), e o clima depois ficou aquele de "assistindo aula com o inimigo". Para quem, até uns 15 dias atrás, estava respondendo perguntas como professora, me senti frustrada ao não receber respostas como aluna. Mas, confesso que depois da discussão, o meu lado mulherzinha pediu pra ir ao banheiro e lá chegando, desatei a chorar (nunca na frente da pessoa, claro!).

Senti falta de colo de mãe, de cheiro de pai, de comida de vó, de abraço de irmã, de risada de sobrinho, de ombro de amigo. Senti falta de tudo, assim, ao mesmo tempo, sem distinguir muito bem o que era carência, o que era saudade, ou ecos de infância que teimavam em aparecer, sem escudos ou sombras. Me permiti chorar como um dia chorei, agachada no altar da capela da escola, me escondendo do provável castigo por ter tirado 5,5 em matemática( sempre a matemática...).

Mas ainda bem que o lado bom das coisas sempre aparece e Deus consola a gente através de um telefonema de namorado, de uma conversa de amigo, de um banho quente, de uma respiração profunda. Não há muito como fugir dos embates que aparecem na vida. Acabei pondo na cabeça que a mulher é mal-amada,insegura e frígida. Colocando a figura no rol do povo café-com-leite, fiquei até com pena dela. E acabei perdoando a mágoa que ela tinha me causado. Perdoei, sim.
Mas ela continua sendo uma bruxa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O melhor de mim
(Frejat/Paulinho Moska/Dulce Quental)

O meu coração está feliz por causa de você

Minha vida mudou de vez depois que você chegou
Sou outra pessoa, uma pessoa bem melhor
E se o amor tivesse uma cor, seria a sua
Se fosse branca a cor, seria a mais bela das luas
Toda a beleza que o amor pedir, eu quero pra você
O melhor de mim
Se o amor tivesse um nome, seria o seu
Se fosse flor o seu nome, seria o mais doce jasmim
Você sabe me fazer feliz e eu quero pra você
O melhor de mim
O meu corpo tá mais quente por causa de você
Minha pele mudou de cor depois que você chegou
Você entrou na minha vida como um anjo cheio de luz
Tudo ficou mais claro, tudo ficou azul
Se o amor tivesse uma cor, seria a sua
Se fosse branca a cor, seria a mais bela das luas
Toda a beleza que o amor pedir, eu quero pra você
O melhor de mim

domingo, 12 de outubro de 2008

No Distrito...

"Longe de casa há mais de uma semana...milhas e milhas distante...dos meus amores..."

Eu sei que devia postar aqui que Brasília é uma cidade que definitivamente, não parece pertencer ao Brasil, de tão organizada, verde, perfeita, eu poderia dizer que o céu daqui consegue ser mais lindo que o da Paraíba toda, que meu coração está feliz, que o curso de formação me emociona com o trabalho gratificante e extremamente essencial na construção de um país melhor, através da educação, que os projetos educacionais são lindos, que as pessoas que conheci são bacanas, e que o Parque da Cidade me faz respirar e ter certeza de que a qualidade de vida aqui supera todas as outras cidades.

Mas só o que consigo falar agora é que, quando recebo um e-mail da minha mãe dizendo que tudo faz com que ela lembre de mim, ou quando falo com minha avó e ela diz que todos os dias faz a salada no almoço porque eu gostava, ou quando ouço a voz trêmula do meu pai, pra nào mostrar que está chorando, eu sinto meu coração encolher e ficar do tamanho de um botão.

Eu achava que a transição para a vida adulta seria fácil, e que eu iria pra qualquer lugar sem muito "drama".Sempre me achei durona e independente, do tipo que mata barata e sabe manusear uma furadeira. Mas a verdade é que sinto minhas raízes pulsarem o tempo todo, e me pergunto se não poderia escrever pra aquele programa "De volta à minha terra"...fico pensando porque razão nossas 'terras' nos expulsam pra longe tão drasticamente quando resolvemos ter uma profissão e ser justamente remunerada por isso. Enquanto não acho respostas, tenho que ver as belezas do outro caminho que Deus me mostrou, nunca esquecendo do tesouro escondido na Paraíba, onde eu guardo meu coração. Não sou de lamentar pelas coisas boas que nos acontecem, olhando sempre o lado pior. Mas é inegável que a saudade às vezes chega a sufocar.


Enquanto não me falta o ar, pretendo olhar pro céu maravilhoso de Brasília e entender que, quase sempre, o melhor mesmo da vida não é ter que caminhar ,por caminhos longos e árduos, mas é saber que temos pra onde voltar.


"E pergunto ao poeta, pergunto-lhe
(numa esperança que não digo)
para onde vai-a que angra serena,
a que Pasárgada, a que abrigo?


A palavra oscila no espaço
um momento. Eis que, sibilino,
entre as aparências sem rumo,
responde o poeta: Ao meu destino."


(Drummond- O Chamado)