quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Le-vi-da


Há uma semana vivi o maior milagre da minha vida: meu filho nasceu. Isso por si só já é um milagre da vida, gerar um novo ser, mas no meu caso o milagre foi literal.

Na quarta-feira passada, minha grande amiga Alessandra se despedia da vida mundana e se entregava à vida comunitária, na Comunidade de Pe.George. Eu estava com dor de cabeça e muito calor, mas aos 9 meses de gravidez lá fui eu me despedir da minha amiga, entregar uma carta a ela dizendo o quanto eu sentiria sua falta. Chegando na comunidade, eu e Elias encontramos nossa "anjo-da-guarda" D.Luiza, uma santa na terra que temos o prazer de conviver, e que é uma mulher cheia do Espírito Santo. Tão cheia que por muitas vezes Deus cochicha em seu ouvido coisas que ninguém ainda sabe. Sentei do lado de Dona Luiza naquele dia. Rezei muito, chorei muito com saudade de Alessandra, nos abraçamos, choramos juntas, e o tempo todo eu pedia a Deus que protegesse meu filho e lhe desse saúde. Era quarta-feira de cinzas, início da quaresma. Período de quarenta dias de reflexão e penitência. Eu me sentia bem, apesar do calor. Mas notei que Dona Luiza segurava minha mão de vez em quando com uma intensidade maior.

Saí de lá e fui para casa com muita dor de cabeça. Demorei a dormir. Algo me inquietava e eu não sabia bem distinguir o quê. O parto de Levi estava marcado para hoje, dia 21, quando eu completaria 39 semanas de gestação. Tudo estava tranquilo e eu tinha feito uma ultrassonografia há poucos dias que indicava que meu filho iria nascer em um estado perfeito de normalidade. Iria pesar uns 3,6kg e já estava com 48cm. Fui dormir com uma sensação de que eu estava doente, mas que Levi estava bem e saudável.

Às 7h30 da quinta-feira, dia 14/02, eu tive uma intuição fortíssima de que algo de errado estava prestes a acontecer. Não sabia explicar, mas insisti para meu marido me levar junto para o trabalho dele e de lá eu tentaria fazer uma ultrassonografia. Ele tentou me impedir dizendo que a próxima já seria no outro dia, me falou para não ficar ansiosa e que tudo estava bem. Mas não estava. E eu sabia. Quem me conhece sabe que quando coloco algo na mente é impossível eu não ir até o fim. Mas não havia nessa cidade, vaga para se fazer uma ultrassom. Tentei de tudo e por fim, consegui convencer o médico que sempre realizava meus exames a me atender na última hora da manhã. A secretária ainda insistiu: "Por que você não vem à tarde?" e eu respondi, incisivamente: "Não, tem que ser agora de manhã". Ainda bem.

Quando eu e meu marido começamos a ver as imagens, Dr.Eudes perguntou: “Ele estava pesando quanto na última USG?” Eu respondi: “3kg”. Ele disse: “Estranho, ele emagreceu... está com 2 quilos e pouco”, com um tom apreensivo na voz. Comecei a chorar. Eu sabia que minha intuição não havia falhado. E o médico completou: “Seu líquido amniótico reduziu demais. Vou ligar para Inez (minha obstetra)”. Saí de lá aos prantos. Eu iria ter meu filho naquela tarde e não sabia o que iria acontecer. Chorei durante todo o trajeto, e fazendo minha mala, eu continuava com aquela maldita sensação de que algo não estava bem. Convoquei toda minha equipe de fé (hehe) e pedi para todos rezarem. Quando falei com Vovó Tina ela me disse que tinha sonhado com ela e mamãe impedindo que Levi fosse atropelado. Chorei ainda mais.

Ao chegar na sala de parto, minha pressão estava 13/9. Eu ardia de suor e tensão, estava nervosa e com o maior medo que já senti em toda minha vida. Ao tomar a anestesia, pedi para meu marido colocar uma música para eu ouvir. Primeiro ouvi “Yellow” do Coldplay e quando a médica abria meu abdômen, eu ouvia “Como é grande o meu amor por você” de Roberto Carlos. Até que ouvi minha obstetra gritando: “Meu Deus, vamos tirar ele logo, não tem mais líquido nenhum!”. Nesse momento (o pior da minha vida, sem dúvida), eu chorava e tinha certeza de que eu e Levi iríamos morrer. (Pausa para o choro...)

Vi a cara branca do meu marido olhando minha pressão na tela e lá estava 8/5...e baixava.... nesse momento entre o mundo daqui e o de lá, eu senti uma paz momentânea que me fez dizer: “Minha Nossa Senhora, salva pelo menos meu filho e segura na minha mão...” (Nova pausa...)

Até eu ouvir o choro de Levi eu não estava nesse mundo. Passei do pior para o melhor momento da minha vida em segundos. Quando ouvi aquele chorinho, experimentei, de novo, a sensação concreta de ter Deus e Maria me segurando e dizendo que tudo estava bem. Não sei mensurar minha gratidão a “Eles” por eu e Levi estarmos chorando juntos naquele momento. Jamais vou esquecer o que senti e o que vivi no dia 14/02/2013. Acho que eu, Elias e Levi já temos muitos milagres para nos convencer, definitivamente, que Deus não é uma energia cósmica e sim uma presença real e magnífica, em quem podemos nos abandonar e confiar, que Maria realmente é uma grande intercessora e não uma simples personagem bíblica, que a fé realmente pode mudar o rumo das coisas.

O médico anestesista exclamou um “como ele é pequeno!” quando Levi nasceu. Eu chorei mais uma vez. Mas Deus me cochichou: “como ele é grande!” (Pausa novamente...).


Dona Luiza, àquela altura não parava de ligar para meu marido. Conversando com ela, soube que ela tinha tido uma visão de morte quando esteve ao meu lado um dia antes de Levi nascer. Passou a noite rezando muito para que Deus não permitisse que aquela imagem se concretizasse. Disse que só parou de pedir de manhã, quando adormeceu. Ela adormeceu e eu acordei com aquela intuição divina que salvou a nossa vida. Choramos juntas hoje, quando após vacinar meu filho, o levei para vê-la.

Levi teve uma pequena restrição de crescimento intra-uterino durante uma semana, ainda não sei porquê. Nasceu pesando 2.755kg e 48 cm. Não era bonitinho nem rosado como eu imaginava. Não tinha dobrinhas nem bochechas gordas. Tinha rugas e parecia um velhinho. Fiquei muito preocupada e temerosa por sua saúde. Mas Deus me deu leite em abundância, saúde e condições para que Levi possa reverter o sofrimento pelo qual passou e crescer forte e saudável. Eu não duvido disso, mas como eu sou uma reles mortal e falível, a pediatra me confirmou tudo isso. Hoje ele já está mais gordinho e rosadinho. Sou suspeita para falar dele. :)

Enfim...A vida, definitivamente, nos mostra a passos largos que não temos o controle de nada, de que tudo pode mudar a qualquer momento, que nossos planos não são absolutamente nada diante de cada possibilidade de mudança, de fatos que alteram absolutamente tudo, sobretudo alteram quem somos. Hoje meu objetivo de vida não é ter mais nada, nem título, nem cargo, nem mais do que eu tenho. É só ser. Ser a melhor mãe que eu puder para Levi. Ser uma pessoa mais humana, tolerante e sensível à dor do outro. Quando qualquer arrogância quiser me visitar, lembrarei do dia 14/02, quando tudo que importava era simplesmente, sobreviver. No meu caso era sobreviver e pedir para Deus salvar a vida daquele pequeno ser.

Estamos sempre salvando alguém. Mas acho que a principal pessoa a ser diariamente salva somos nós mesmos. Que Deus me salve de tudo o que não for bom hoje, que Ele possa só deixar em mim sentimentos que valham à pena. Não é fácil. Principalmente em uma dança hormonal onde me sinto sensível demais, triste demais, feliz demais, tudo ao mesmo tempo. 

Mas quando olho para Levi, sinto um amor inexplicável que supera qualquer sentimento. Nunca amei dessa forma, nunca experimentei essa sensação completamente inexplicável e indelével.

E é com esse amor que te parabenizo hoje, meu filho, pela sua primeira semana de vida. Que Deus esteja sempre te lembrando que por pouco, você não estaria neste mundo. Então você deve fazer sua existência valer à pena. E eu vou estar ao seu lado para te ajudar nessa tarefa tão difícil. Eu te amo com um amor que ultrapassa meus limites. Como diz a música que tocava quando você nasceu: "e não há nada para comparar, para poder lhe explicar como é grande o meu amor por você..."

Beijos, Mamãe.