quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Iaiá e Ioiô...

Tenho uma amiga muito querida que mais uma vez rompeu um relacionamento que se arrasta há quase sete anos. É a famigerada relação “ioiô”: ninguém sabe ao certo se eles estão juntos ou não. Não sei se dessa vez o rompimento é definitivo, o que tenho certeza é que certamente essa confusão tende a continuar até que um ou ambos cansem. Simples assim. Os dois podem até amarem-se verdadeiramente, mas chega uma hora em que o tempo e a idade chegam, e a vida nos obriga a cairmos do pé. Amadurecemos. Não conseguimos mais manter o ritmo e a energia que um relacionamento tumultuado exige. Muitas vezes esse cansaço faz com que as pessoas embarquem em outro relacionamento logo após o término do outro, e resolvam tomar as decisões, nesta nova relação, que sempre tentaram evitar no passado. Amor maior? Acho que não. É simplesmente cansaço.

Chega uma hora na vida que ninguém aguenta mais um relacionamento inerte. A paixão do começo apagou-se, os dois já conheceram todos os mistérios um do outro, mas ainda não atingiram um grau de equilíbrio- seja emocional ou financeiro- que faz com que a relação avance. Daí então, as decisões precisam acontecer. Casar ou Não? Ter filhos? Mudar de casa? O que nos motiva para a vida, já dizia Nietzsche, é ter um “para quê” viver. Só assim é que podemos suportar o “como”. A partir de um horizonte a dois é que podemos caminhar juntos. Não há como continuar de mãos dadas se um quer ir para a montanha e o outro visa o mar. E também não adianta um fingir que quer ir ao mar e ao chegar lá, tentar convencer (entenda-se:mudar) o outro para que  ele ache a montanha melhor. A gente não tem de convencer ninguém à nada. Procure alguém já ´convencido´, que tenha similitude de planos e de valores com você. Saramago usou um termo genial para essa ideia de mudar alguém: tentativa de colonização do outro. Só que a gente esquece que nenhuma pessoa é território de outra para ser colonizada e incorporar valores alheios. Claro que essa é uma situação comum, que rotineiramente vemos (fulano que mudou totalmente depois que começou a namorar sicrano). A diferença é que, na verdade, ninguém, absolutamente ninguém, consegue mudar quem a gente é de verdade. A semente continua ali, embora não esteja sendo regada. Vamos deixando outra semente, que alguém colocou no nosso vaso, crescer mais do que a destinada a nós. Mas ela continua lá e aparece quando nossos relacionamentos nos fazem bem.

Já falei disso mil vezes aqui no Blog, mas não custa repetir uma ideia do filósofo Martin Buber, do “eu-tu”. Relacionamentos que merecem nossa dedicação são aqueles em que a terceira pessoa formada pelo encontro do outro comigo é infinitamente melhor do que nós dois separados. É fácil perceber isto em todas as nossas relações: tem gente que consegue extrair de nós o nosso melhor, enquanto outros tem o incrível poder de deixar que nosso pior apareça. Por exemplo, eu jamais me relacionaria com alguém que anda devagar na faixa da esquerda, hehehehe. Simplesmente não dá. É um desrespeito a nós mesmos continuarmos em relacionamentos que nos transformam em pessoas problemáticas (ainda mais do que já somos!!!).

Por isso, o conselho que vou emprestar a minha amiga hoje ( dizem que se conselho fosse bom não se daria, mas eu discordo completamente desse pensamento: gosto de me valer das ideias dos outros para formar a minha própria. A isso eu dou o nome de conselho, e ele sempre é útil para mim) é a de que, se ela achar que ainda tem energia para viver esse romance até “a última gota”, beba desta fonte, se embriague, vá em frente, ainda que todos se voltem contra, ainda que se saiba que um dia vai acabar. Amor que acaba sem resquícios (isto é, sem partes nossas no outro e vice-versa) é porque certamente não foi vivido até o fim. Sofra, chore, viva tudo o que essa relação lhe proporciona, pois no fim, são as emoções que nos fornecem lembranças eternas. Mas, se a sede for maior que o que se bebe, se o cansaço é mais sentido que o próprio amor, por favor, pare. Lembre-se de que existem por aí pessoas que, ao encontrarem você, podem lhe permitir que sua semente cresça. Que podem fornecer a você tudo aquilo que lhe falta para desabrochar. Vida emocional equilibrada é metade do caminho de uma vida plena. E se para isso, é preciso ficar só, que assim seja. Mais vale repousar no mar da solitude do que deixar-se queimar em relações nas quais tudo que sobra de nós são apenas cinzas.

p.s: O ioiô há de se transformar em iaiá, amiga. ;) 

Iaiá, se eu peco é na vontade
de ter um amor de verdade.
Pois é que assim, em ti, eu me atirei
e fui te encontrar
pra ver que eu me enganei.
Depois de ter vivido o óbvio utópico
te beijar
e de ter brincado sobre a sinceridade
e dizer quase tudo quanto fosse natural
Eu fui praí te ver, te dizer:
Deixa ser.
Como será quando a gente se encontrar ?
No pé, o céu de um parque a nos testemunhar.
Deixa ser como será!
Eu vou sem me preocupar.
E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.
(Los Hermanos)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mãe ou Filha?


Fazia mais ou menos uns 20 dias em que eu, todas as manhãs, digitava os mesmos caracteres no Google: "ovulação, nidação, sintomas de gravidez, exame Beta HCG", etc, etc. O detalhe é que eu não tive nenhum atraso menstrual, simplesmente porque não consegui esperar por ele. Já me explico: Este mês, parei de tomar anticoncepcional por causa das minhas crises cada vez piores de enxaqueca, e não tive tantos cuidados contraceptivos, o que me fez acreditar piamente que eu estava grávida.

Essa ideia foi tomando minha mente a tal ponto que eu não conseguia mais fazer nada com atenção, meus pensamentos me tomavam por completo. Será que era a hora? Por que não melhorei como pessoa antes de me tornar mãe? Eu realmente posso criar um filho? Eu estou pronta? Meu casamento está pronto? Minha casa? Meu emprego é suficiente? Por que eu não emagreci antes? Como vou fazer com meus remédios? E Lá ia eu digitar mais termos no Google: remédios e gravidez, quais os alimentos fazem mal ao bebê, etc e mais etecetéras.

Enfim...pra quem não me conhece, Prazer, meu nome é Ansiedade (eu não deveria estar expondo toda essa minha neurose aqui no Blog, mas o final é feliz, prometo). Pesquisei tudo sobre todo o processo que envolve a concepção de um novo ser, e nunca tive tanto interesse nos direitos do nascituro (ou para outra teoria, sobre suas 'expectativas' de direito). Entendi tudo de folículos ovarianos, picos hormonais, espessura do endométrio e tudo sobre bebês, desde a concepção até a hora dele nascer (confesso que minha ansiedade deu trégua neste quesito, já que depois de nascer, eu já tinha uma certa ideia chamada Renan, meu sobrinho).
Bom, não preciso dizer que hoje, após eu já ter feito inclusive meus planos de estudos mais intensos nos primeiros meses, e de saber o nome do bebê, que com certeza, seria menino, minhas "regras", como diria minha avó, vieram, e...exatamente no dia certo. Não houve atraso, só antecipações.

Você pode estar achando que, pelo que eu disse, eu queria muito ter um filho, e que foi uma frustração não tê-lo concebido. Mas, não foi isso que aconteceu. Quando vi que não ia ser mãe agora, fiquei triste por alguns minutos e fui olhar o céu para tentar decifrar o que eu estava sentindo. Eu não queria ter um filho agora, estou tentando estudar e conseguir um cargo melhor, preciso emagrecer os quilos que ganhei durante o ano turbulento que passou, só agora pudemos reformar a casa, enfim, eu sabia que não era a hora certa de ter uma gravidez tranquila. Mas, nesses dias eu tive a sensação de que eu havia escolhido ter um bebê, e deveria "arcar" com as consequencias dessa escolha, e por isso, minha inquietude em tentar 'arrumar a casa' antes do filho chegar. Só que hoje é quarta-feira de cinzas. Hoje é dia de lembrar que daqui a 40 dias, eu tenho a obrigação de ser alguém melhor. E fui chamada a pensar em Deus.

Quando pensei nEle, me senti feliz por ter meus planos, tão confusos, frustrados. Lembrei que mesmo que eu queira bancar a existencialista e achar que tenho o total controle sobre minhas escolhas e meu destino, Deus vem, desarruma minhas certezas, e me faz saber que eu sou apenas uma gota derramada no mar. Me faz entender, mais uma vez, que os propósitos dEle para minha vida é que devem me governar, e não os meus desejos moldam o "Meu Deus". Ele não é Meu e nem nunca será. Deus só me faz pensar que eu não sou apenas uma peça extra nessa máquina maluca que é o mundo. Se eu estou aqui, é porque devo ter uma função, como ouvi ontem o Hugo Cabret ( Ou Martin Scorcese?) dizer no filme, e concordei.

Eu não estava muito próxima de Deus. Como poderia? Quando queremos ter o controle de tudo, até o Criador passa a ser Criatura. Levei mais uma surra da vida, e aprendi a colocar os pés no chão, com gosto de terra, de húmus, de onde deriva a palavra "humildade". Devemos ser humildes em reconhecer que há um propósito muito maior para cada coisa que acontece em nossa vida. Que ter ou não ter um filho não passa necessariamente por nossa escolha. Às vezes, é o próprio filho que já escolheu a mãe. Na hora e no lugar certo, nem antes, nem depois. Pra mim, hoje começa uma quaresma. Tempo de saber que a única preocupação que devemos ter é como podemos melhorar como pessoas. Quem vai fazer parte da sua vida, quem permanecerá, de quem seremos irmãos, amigos, ou quem iremos gerar não é necessariamente uma escolha nossa. Passa por ela, mas a palavra final é dEle. Descobri que, por enquanto, para aprender a ser Mãe, eu preciso antes, aprender a ser Filha... Filha do Céu.