sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Data pra comemorar


Eu sempre gostei muito do meu aniversário. Chegava novembro e eu começava a contagem regressiva: "faltam 21 dias...faltam 10 dias...faltam 2 dias...". Confesso que até meu aniversário de 25 anos, eu agia assim. Não sei se foi o fato de eu ter entrado na minha "quarterlife crisis" (crise dos 25), se estou ficando adulta ou se apenas virei um porre de pessoa, mas o fato é que o dia 22 de novembro tem um sentido diferente pra mim hoje. Diferente, não ruim.
Fui cumprir meus mandados nas favelas do Recife. Vou de sandália de dedo e blusa solta. Me sinto mais leve. Quando entro na comunidade, falo de forma simples, experimento uva verde na feira, cumprimento os intimados e saio de lá dizendo: "-Não deixe de ir pra audiência não, porque aí o juiz vê que isso é bronca safada e acaba logo tudo." Nas minhas certidões, não me limito a dizer " intimei fulano de tal" e além disso, emendo: "Faz-se mister que a situação de insalubridade que afeta a família seja levado ao conhecimento do Ministério Público" ou "as crianças estão submetidas à indigência extrema...". As minhas certidões mais parecem um relatório social.

Mais recentemente, quis incluir em uma certidão toda minha fúria de ter sido informada pela mãe do intimado, que o mesmo estava no presídio de segurança máxima do Recife por tentativa de furto, há mais de dez meses. Não acreditei e ela me mostrou os documentos que comprovavam o que ela dizia. O rapaz ficou com o celular da vizinha na mão e disse "perdeu! é meu agora", a vizinha não levou na brincadeira e gritou para a Polícia que passava no local: "prende ele, tá tentando me roubar!". Os policiais colocaram o rapaz de 18 anos no camburão e roubaram sua história. Preparei um habeas corpus na hora, do jeito mais amador e mais sincero que pude, mandei ela assinar e interpor junto ao Juizado.

Saí de lá enfurecida por me lembrar que um assassino fdp como Pimenta Neves, que matou a Sandra Gomide friamente, está livre e solto, mesmo sido condenado. Por lembrar que só os advogados bem remunerados detém o monopólio do saber Direito, enquanto os Defensores Públicos mau pagos (ou não) acumulam mil processos em cada dedo da mão e muitas vezes nem sabem o que fazer em cada um.

Saindo de Brasília Teimosa, fiquei observando toda aquela gente, e misturada à raiva,à tristeza, e à compaixão que sentia naquele momento, vi um caminhão de gás passar e com a travessia, banhar um menininho de lama, diante da estreitura do beco pelo qual passava. O menino, que não devia ter mais de seis anos, banhado de água preta, olhou pra mim e disse: "é foda, né?" e começamos a rir. A felicidade nos cumprimentou e ficou ali em nós por um bom tempo, até nos desperdimos.

Segui meu caminho com um sorriso discreto no rosto e um bem mais largo na alma, tendo a certeza de que a gente decide o que permanece em nós. Me senti comemorando por eu estar viva sem ter de esperar o 22 de novembro atestar isso.

Lembrei da Alice no País das Maravilhas, que comemora, com o Chapeleiro Maluco, o seu desaniversário e ganha um bolo. Ele pede pra Alice calcular o número de desaniversários em um ano e sugere que mais valem 364 desaniversários que 01 aniversário só.

E aqui vou eu, comemorando mais 363 desaniversários e esperando que depois do dia 22, eu ainda tenha muitos desaniversários a comemorar.

domingo, 8 de novembro de 2009

Reciclando...

Todo mundo sabe que nós, mulheres, temos variações hormonais que conseguem nos transformar em Lady Diana a Amy Winehouse no enorme período de 28 dias. Pois bem.
No meu momento Winehouse, eu sempre procuro dar vazão à minha fúria fazendo trabalhos braçais. Talvez seja reflexo dos ensinamentos da minha filósofa pré-socrática favorita, Vovó Tina, que diz que depressão é "falta de uma lavagem de roupa". Lá vou eu procurar roupa pra lavar, mas para não me enfurecer ainda mais com cheiro de água sanitária na mão, fui arrumar meu quarto, do chão ao teto.
Enquanto eu ia jogando tudo que eu encontrava no guarda-roupa no chão, incluindo cartas, mil resumos sobre o mesmo assunto, roupas mofadas, tinta guache seca, e mais centenas de coisas que se reproduziam como coelhos, eu espirrava sem parar, suava e ainda cantava alto, e Sofia (minha gata), olhava tudo com atenção,como se indagasse: "e ainda dizem que eu que sou a irracional desta casa..."

Quando separei as caixas dos papéis, abri uma delas e me deparei com uma população de lembranças. Tudo o que me foi caro por algum tempo, estava ali, desde cartas de amigas da 6ª série a flores secas dadas por antigos amores.

E a cada cartão aberto, lá ia a testosterona embora pra dar lugar ao estrogênio, a Amy Winehouse saiu de cena e entrou a Maria do Bairro. Chorei até cansar, chorei como há muito tempo eu não chorava, e chorar pra mim sempre tem gosto de libertação. Mas dessa vez, meu choro não era triste, nem permeado de melancolia, meu choro era bom, de saber que eu tinha uma história.

E quando percebemos que, mais do que receber poemas, vivemos poesia, é encantador.
Por um momento cheguei a pensar que vivi mentiras (ou como diz o Ney Matogrosso: "jurei mentiras e sigo sozinho"), que os laços não eram eternos, e que o destino de todo mundo é mesmo partir. Chorei dessa vez com tristeza e medo de tudo cair no mesmo vazio. Mas depois que as lágrimas (e o mar e Elias) limparam a vista, pude ver com clareza o quanto cada momento é único, e não eterno. Até porque se fosse eterno, não seria único.
Tudo o que a gente vive é bonito na limitação. Do tempo, do amor, da distância. Limitado a uma fase, uma época, uma vida. Não há tristeza, e sim beleza a ser lembrada.
Quando terminei de arrumar tudo, estava exausta e com fome. Mas, de alguma maneira, me sentia mais leve e mais organizada com o rumo da vida. Hoje eu sei que o momento que eu vivo é a única coisa que me interessa. E o Herbert Vianna fez uma música linda que diz mais ou menos o que eu devia ter dito neste post:

"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim

O céu de ícaro tem mais poesia que o de galileu
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu
Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua

Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu.

Eu hoje joguei tanta coisa fora
E lendo teus bilhetes, eu penso no que fiz
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim."

sábado, 7 de novembro de 2009


Posso jurar que descobrir como fazer tomate seco mudou minha vida!E ficou "baita bom", como diriam os gaúchos!

Quem quiser um potinho a um preço módico (só o custo dos igredientes),

é só pedir. Contanto que sejam leitores do blog, claro, hehe! =)))