quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Carta para Renan

Renan,

Quem escreve aqui é sua tia (a de verdade, entre as várias "de coração" que você tem) e eu estou aqui para lhe dar algumas instruções sobre como usar o mundo que você ganhou.
Por aqui, tudo é muito rápido, sabe? Você vai ver que não vai demorar nada para você andar, falar, chorar e sorrir. É quase tudo veloz como a luz (a luz é mais rápida que tudo!) .
Você vai ver um monte de coisa linda por aqui. Tem o céu, que é bem azulzinho, e tem umas nuvens (aquelas branquinhas) que parecem algodão, mas eu já desisti de pegar nelas, a gente é pequeno e elas estão lááá em cima.
Quando chega a noite, o sol vai dormir e a amiga dele,a Lua,fica iluminando o mundo. Ela é como uma apresentadora de TV, e precisa de assistentes, que são as estrelas. Cada estrelinha tem um brilho e, juntas, iluminam todo o céu. Cada estrela tem um nome, mas você pode chamá-las de um apelido, quem sabe o nome de alguém que você gosta e faz tempo que você não vê?
Ah, eu também esqueci de te mostrar o mar. O mar é um montão de água que Deus derramou na terra para que um montão de peixes pudesse nadar lá. Mas você também pode entrar nele, não precisa ter medo, é só um pouquinho salgado, mas é uma delícia se molhar na beirinha.
Você também vai ter um bichinho de estimação, que você pode escolher, tem cachorro, gato, papagaio...todos eles são seus amigos e você deve tratá-los com carinho.
O que é carinho? Carinho é quando sua mãe faz suco de laranja pra você e te dá pra você não ficar doente. Carinho é quando seu pai chega do trabalho com um chocolate que você gosta.
Mas,sabe, Renan,o carinho geralmente tem um amigo, que é o Amor. Esse é o mais legal de todos. Você foi feito dele. Dá pra ver o amor quando você desenha sua mãe num papel, o desenho fica feio e mesmo assim ela pendura na parede. Sua prima Bia uma vez me falou que amava a vó dela porque ela fazia "leitinho quente" pra ela tomar antes de dormir.
Não se preocupe, você vai ser coberto de amor e vai saber bem o que é.
As pessoas que você vai conhecer durante toda a sua vida sempre vão vir como mensageiros de Deus. Sabe aqueles anjinhos no seu quarto? Pois é, um dia eles foram como a gente, que não temos asas. Cada pessoa que vai chegar na sua vida é um daquele. Aí a pessoa vem, te mostra alguma coisa que você não sabe, e depois ela se vai. Sempre. Umas demoram a ir, outras vão logo. Depende do quanto elas têm pra te ensinar. Mas não fique triste quando elas forem, viu?
E se você não voltar a vê-las talvez seja porque elas foram dormir. Tem gente que vai dormir e nunca mais acorda, acredita? Pois é.
Olha, Titia vai ter que ir embora estudar. É porque tem muito menininho assim, como você, que não tem nada disso que eu te falei. Não tem amor, não tem lápis pra desenhar, não tem leite quente pra dormir. Aí a gente precisa fazer alguma coisa por eles. Então, ou você doa algum brinquedo seu, ou convida ele pra brincar com você, ou mesmo divide seu lanche. Daí, quando você crescer, você tem que se lembrar de todas essas pessoas que precisam da nossa ajuda.
Então, você estuda bem muito, e tenta mudar alguma coisa, pra tornar esse mundo melhor do que era antes de você entrar nele.
Não esqueça de escovar os dentes e falar com Papai do Céu antes de dormir, e pode vir ficar aqui em casa quando sua mãe ficar muito chata.
Eu te amo.
Um beijo da sua tia,
Vivi.




terça-feira, 30 de outubro de 2007

Run!

Peço licença aos visitantes desse blog para que eu passe um tempo sem postar. É que tenho um milhão de páginas para estudar e o negócio tá apertando. Mas hoje eu gostaria de dizer umas coisas.Porque tem dias que a gente fica tristão mesmo, principalmente depois de um fim-de-semana de sol, achando que aquela alegria apenas adia o momento de decidir tanta coisa que a gente considera importante e que nem começou a pensar direito. Aí vem uma colega que mal nos conhece e, olhando praquela cara triste de dar pena, diz: - "Você está sem plano de vôo". E acerta na mosca. Bingo.

Na mosca mesmo, porque faz tempo que você anda sem rumo, sem “plano de vôo”. Porque está escrito na tua cara que você navega sem rota há séculos num oceano atlântico de opções, com toda tua vontade de ser feliz e de comer o mundo. Mas quantas vezes você já navegou sem plano de vôo e afinal, que diabos significa ter um plano de vôo na vida? Claro que eu já fiz mil planos na vida e que todos escorreram feito água gelada pela garganta de um sedento no passar dos anos. E tinha que ser assim, não há outro modo. Porque a vida é isso mesmo. Hoje você faz planos e planeja tudo certinho, aí vem o destino amanhã e revira tudo, deixa tudo igual que antes, de pernas pro ar. Aliás, isso acontece se você tiver um sorte, porque pode ficar muito pior.


Então o melhor é ter idéias, ter princípios, confiar em você mesmo, esperar um pouquinho enquanto passa o “banzo” pra voltar a sorrir e, de novo, fazer mil planos, esperando sempre que a grande roda da vida volte a rodar e parar no teu nome.Todo dia é segunda-feira, todo dia é dia de recomeçar, de sacudir a poeira e dar a volta por cima. Dizem que os suicidas odeiam as segundas-feiras. A idéia de recomeçar os arrasa. Eu gosto das segundas-feiras, encanta-me a idéia de recomeçar a cada dia, com mais garra. Melhor ainda é a terça, dia da provação, de saber se aquele upgrade vai durar. Seja o que for, eu há muito estou preparada. Porque quem vive sem plano de vôo sempre está preparado. Meu coração é novo e meu anjo da guarda já enlouqueceu faz tempo. O importante é saber tirar proveito do silêncio, da falta de riso, da falta de saco, deste vazio momentâneo. É saber quem você é de verdade. Sempre com grandes planos pro futuro, cuidando dos pequenos, celebrando a vida e cantando todo dia: Força sempre, até o fim.


É como diz aquela canção...


Quem bater primeiro a dobra do mar
Dá de lá bandeira qualquer, aponta pra fé
E rema
É, pode ser que a maré não vire
Pode ser do vento vir contra o cais
E se já não sinto teus sinais
Pode ser da vida acostumar
Será, Morena?
Sobre estar só, eu sei
nos mares por onde andei devagar
dedicou-se mais o acaso a se esconder
E agora o amanhã, cadê?
Doce o mar, perdeu no meu cantar

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Un Bello Dia!


Pode acreditar, é possível recomeçar numa sexta-feira! E o melhor, de madrugada!


Eu cheguei em casa com uma felicidade da melhor que há, que é quando nos damos conta do quanto somos abençoados pelo simples fato de existir. Eu me recordo que uma das cenas de filme que mais me ensinaram foi quando o Nicolas Cage, em Cidade dos Anjos, tem uma conversa no final do filme com um amigo "anjo" e ele diz que não se arrepende de ter trocado a eternidade por alguns momentos junto da sua amada, mesmo que ela tivesse falecido poucos minutos depois dele ter estado com ela.Os instantes de "vida", dizia ele, tinham valido por uma existência inteira .Depois, para convencer o amigo de que falava a verdade, tira a roupa e vai tomar um banho de mar, daqueles que lavam até as almas mais sujas.


Cheguei em casa e vi o estado deplorável em que meu pobre quarto se encontrava,respirei fundo e comecei a arrumá-lo. Não sei, mas quando fui retirando os excessos, eu me sentia melhor. Jogando lixo, papel, separando roupas que não uso mais, essa sensação de ir se desfazendo do que um dia foi útil e hoje não serve, nos dá a incrível sensação de plenitude.

É como se, através do lixo material, também fosse possível fazer uma varredura espiritual. Complicado, mas eu senti essa sensação. E o melhor foi ligar a televisão no exato momento em que Pe. Fábio de Melo dizia: "A gente começa a mudar o mundo a partir de uma arrumação no guarda-roupa". Eu acredito muito nisso, em apreender uma realidade exterior e interiorizá-la a ponto de nos modificar em algum aspecto.


No livro do Oscar Wilde ("O Retrato de Dorian Gray") o lorde Henry sempre bate na mesma tecla: "Nada pode curar melhor a alma do que os sentidos, e nada pode curar melhor os sentidos do que a alma". Eu acredito nisso, embora os conselhos do livro sejam um tanto quanto drásticos demais... Acredito que o importante é a ação, o movimento. A tentativa de se tornar melhor, de organizar a vida, de se modificar a cada dia, seja pela arrumação do quarto ou da própria alma, é sempre um passo importante na direção certa, seja ela qual for!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Descobri o "I Ching" por acaso, na casa de Deyna
(amiga, um dia eu devolvo!).

Fiquei curiosa ao ler o prefácio,escrito por Carl Jung :

"O I Ching insiste a todo instante no autoconhecimento. O método pelo qual isso deve ser alcançado está sujeito a todo tipo de aplicações errôneas e, por isso, não convém aos frívolos e imaturos..Só é apropriado para as pessoas reflexivas que gostam de pensar sobre o que fazem e o que lhes acontece..."


Desde que comecei a consultar este livro, tenho obtido respostas claras às minha dúvidas. Na verdade, ele não serve para ler a sorte ou algo do tipo. O I Ching é um tesouro da sabedoria filosófica e que se usado corretamente, ele é um verdadeiro espelho do que você está realmente pensando, mesmo que subconscientemente. O livro consegue emergir o que se passa no coração. Também já ouvi falar que pode-se ler o I Ching todo e selecionar o que se aplica a você. Eu prefiro jogar as moedas e interpretar os significados.

Consultei o livro hoje e vou usar a resposta que obtive como exemplo para quem não conhece o I Ching:

64. Antes da Conclusão:

"As condições são difíceis.A tarefa é grande e cheia de responsabilidade. Consiste em nada menos que conduzir o mundo da confusão de volta à ordem. Mesmo assim,é uma tarefa que promete sucesso, já que existe um objetivo capaz de reunir as forças divergentes. Porém, ao início, é necessário caminhar com toda cautela, como uma velha raposa andando sobre o gelo. Senão, todo o esforço terá sido inútil. Por isso, no período que precede a conclusão os pré-requisitos do sucesso são reflexão e cautela."

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O inferno são os "outros"...(?)

Antes que eu me esqueça, aqui vai, escritinho, o agradecimento pelo marketing que minha "irmã" Cecil está fazendo desse blog! Eu nem sei se eu agradeço ou se mato a danada, porque esse negócio surgiu por acaso e não tenho a mínima pretensão de que alguém leia. Mas o fato é que tenho apertado aquela tecla (do F...,sabe?) muitas vezes e não tô preocupada em agradar. Tenho amor por palavras desde que aprendi meu nome- cujo 2º "n" foi minha primeira paixão,hehehe - e gosto de usar esse meio para expressar minha visão das coisas.
Hoje mesmo eu cheguei em casa pensando em escrever sobre algo tão constante na vida de todo mundo, e que a gente nem repara tanto porque já se acostumou. São os chamados "espíritos de porco" que estão à solta por aí.
Eu não sei porque diabos o povo gosta tanto de ver o "circo pegando fogo", as coisas dando errado na vida do outro, a fofoca que não pára. Eu não sei o que acontece na vida de tanta gente que adora falar, que tem comunidade no orkut do tipo: "eu não fofoco, apenas repasso informação...". Que p...é essa?
Eu, sinceramente, não entendo.
Não vou dar uma de falsa moralista aqui e dizer que nunca falei mal de alguém, etc,etc. Mas a vida me ensinou bem direitinho que é melhor se calar e tentar perceber as coisas de outra forma. Hoje em dia, eu evito até ouvir comentários. Eles não me servem para nada mesmo!
Melhor cuidar da vida da gente, porque se você for reparar, quanto mais nos conhecemos, mais vemos o peso da falibilidade humana, e a partir disso, nossa percepção fica bem mais esclarecida. É como se eu estivesse investigando meu "cisco" primeiro, para depois olhar o do outro. E, cá pra nós, quando a gente começa a ver nosso cisco, essa auto-investigação nos consome a ponto de você sequer ter tempo para saber se o outro é vesgo!

domingo, 21 de outubro de 2007

Campina...

A melhor coisa de Campina é tomar café na casa de Vovó, ouvindo Tia Coca falar sem parar, "Dotô" contar piada, Mamãe dizer que morre de calor e Marília falar que morre de frio, Papai dormir por 24h na rede, me encontrar com Deyna, Renato e Camila e sempre, chorar de rir. É sempre bom saber que tem gente que gosta da gente, assim, só pelo que a gente é. ;)

sábado, 20 de outubro de 2007

Só para mulheres (auto-ajuda básica)

Como eu vou ficar sem postar esses dias, vou deixar um conselho escrito, dos muitos que eu tenho falado para minhas amigas "mulherzinhas" (eu uso esse termo para distinguir quando somos burras) : a gente já descobriu, há algum tempo -aos 15 anos, por aí- que os príncipes encantados não existem. A gente também descobriu que os homens são bem mais simples do que nós, e por isso mesmo é que nós não os entendemos (como eles conseguem ser felizes com uma cerveja e vendo vinte e dois homens correrem atrás de uma bola?) . Mas o mundo seria uma tragédia grega se esses caras fossem como nós, mulheres,melodramáticas por natureza.
Só que o mundo inteiro sabe que adoramos inventar histórias fantásticas sobre nossas conturbadas vidas amorosas...daí tentamos colocar um milhão de problemas psicológicos no rapaz, com a falsa ilusão de que ele sofre de pseudo-síndromes que os impedem de assumir algo sério, ou de ficar ao nosso lado, ou mesmo de declarar que nos ama, por medo do compromisso, da mãe, do pai, do cachorro, e sabe-se-lá-do-quê.
A questão é muito simples, tão simplória como a mente dos marmanjos: quando o cara está afim, não tem pai de santo nem mãe xogum que o impeça de ficar com você. Ele é complicado, ainda não descobriu que lhe ama, está passando por uma má-fase? Balela.Tudo alternativas próprias de quem não está na sua, mas não tem coragem de admitir.Quase sempre, é simples assim.
Já passei por tanta confusão nessa área que hoje adoto um critério muito simples: só entra na minha vida quem vier para me fazer bem. Senão, não precisa entrar. Existem milhões de homens no mundo, mais outro tanto de mulheres. Ninguém precisa estar do lado de alguém que nos faz sentir piores. Além disso, acredito que quando você chega a se cansar de tanto esforço que faz para uma relação dar certo, é porque ela não é a certa para você.
Aprendi que tudo que é natural, é melhor. Quando a gente força demais, é sinal de que escolheu a peça errada. Quando é a certa, não precisa 'apertar', bater, dar o famoso 'jeitinho'. As peças simplesmente se encaixam, sem esforço algum. As dificuldades vão existir sempre, já que dividir a vida com alguém não é tarefa fácil. Mas uma coisa é discutir sobre ele ter se atrasado pro filme, outra bem diferente é discutir por ele sequer ter aparecido.
Como diria o Dalai Lama, "é preciso ser egoísta sabiamente". Não dá para ser altruísta quando se trata da nossa própria felicidade. Se o cara não te valoriza, sinto muito, não perca tempo tentando mostrar a burrada que ele está fazendo ao te perder. Deixe que ele descubra sozinho depois, quando você já estiver distante o suficiente para não voltar à estação tristeza.
Quando me diziam que nenhum homem merece nosso sofrimento, eu dizia que é porque aquele que me dava conselhos nunca tinha amado de verdade. Hoje, quando vejo alguém sofrer por outro, digo sempre que aquilo vai passar...quando a própria pessoa se amar de verdade.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Deprê das Quintas

Eu devia ter lido processo penal hoje, mas acabei lendo filosofia em busca de respostas aplicáveis aos problemas que tenho vivido. O melhor disso é saber que cada um de nós conta com uma filosofia própria, que por sua vez, encontra raízes em nomes bem mais gabaritados, que pensaram a mesma coisa muito antes.
Hoje quem me acalentou foi Kant, com o pensamento de que devemos tratar os outros como fins em si mesmos, e não como meios para nossos fins. Ou seja: em vez de controlar os outros para nossos propósitos, devemos apreciá-los como pessoas que têm seus próprios conjuntos de metas, de sonhos, de medos, inseguranças e fraquezas. Se quisermos estar do lado, precisamos ter em mente essa complexidade que faz o outro ser o que ele é.
Ninguém disse que seria fácil...
Ele ainda tem outra passagem muito bonita que nos faz pensar que ir em busca da nossa satisfação pessoal é, sobretudo, um dever moral!

"Garantir a própria felicidade é um dever, pelo menos indiretamente; pois estar descontente com a própria condição, sob a pressão de várias ansiedades e em meio a necessidades insatisfeitas, pode facilmente tornar-se uma grande tentação à transgressão do dever."
(Immanuel Kant)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Sonhos...

Aristóteles dizia que a virtude era um hábito e eu tenho mantido essa frase como bússola na vida. Tento ir conquistando os méritos pelo esforço, não pela simples "graça de Deus". Tudo bem que Deus me deu alguns talentos visíveis, outros nem tanto, mas o que importa é que preciso sempre aprender a ser melhor. Afinal, se eu posso deixar em você hoje, alguma palavra que valha a pena, por que deixar uma que não valha? Se eu posso te tratar bem, como vc merece, por que não agir assim?
Antes que eu divague demais, vou falar aqui de outra coisa. As "coincidências" acontecem tanto na minha vida que já começo a me perguntar até onde isso vai...Ontem sonhei com uma colega minha que não tinha notícia há tempos. Ela estava triste no sonho. Procurei por ela hoje no orkut e não a encontrei. No fim da manhã soube, por outros, que aquela colega minha estava grávida e tinha descoberto recentemente.
Não tenho dúvidas de que a cena do sonho foi real. E me pergunto até onde vai nossa interferência na vida das pessoas e até que ponto essa interferência vem de nós.
Mandei um e-mail pra ela, contando do sonho e da minha obrigação em dar o recado: ela ia ser feliz.
Acredito que cada um que passa por nossa história, é destinado a nos dar um recado. Hoje mesmo recebi um, depois de várias perguntas imaginárias sobre o que fazer da minha vida.
Uma amiga minha disse,assim do nada, sem que eu precisasse perguntar...
"Vivianne, sonho é sonho".
Não precisei mais pedir respostas a Deus. Elas simplesmente vêm.
Em forma de sonhos ou de "sonhos"...

domingo, 14 de outubro de 2007

"Encontros e Despedidas"

Hoje eu tô com banzo. Banzo do pior que tem, que é aquele que não cura com vodka nem com droga nenhuma. Eu me lembro que eu ficava assim quando me ´intrigava´ pela 5ª vez em uma semana, da minha melhor amiga, na 6ª série. Era aquele desconforto de ter um dia triste inteirinho e não ter compromisso marcado. Dá nisso: a tristeza fica marinando, 'pegando' sabor.Sabor de saudade...ou dissabor? Não sei. O que eu sei, bem certinho, é que o coração da gente é um pobre coitado. Quando pensa que sossega...lá vem a Vida, maliciosa e esperta como sempre, e zás! Tira um pedacinho do infeliz só para dar a alguém que vai embora. Enquanto os outros carregam um pedacinho do nosso, a gente também fica carregando os corações alheios . Sinceramente, eu não sei no que isso vai dar.
Mas que dá saudade, dá.

A Maria Rita canta assim:

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Cordelzinho

A menina descobriu
Pelo mundo virtual
Aquela face bonita
Do seu par ideal


Foi assim, de repente
Ela lhe mandou um recado
Dizendo, sutilmente
Ele era do seu agrado



Para sua surpresa
O rapaz lhe respondeu
Com toda delicadeza
Parecendo um Romeu


E o primeiro encontro
Aconteceu naquela cidade
Marcaram naquele ponto
Pra viver a mocidade


Os dias se passaram
E os dois continuavam
A viver aquela história
Aqueles dias de glória
Que o tempo desafiavam


Mas então chegou o dia
Acabou-se a alegria
A moça se despedia
Da paixão que conhecia


O rapaz se foi pra longe
Foi fazer a sua trilha
Tão perto e tão distante
Caminhou milhas e milhas


E assim é que esses versos
Retratam os dias bonitos
A despedida é o reverso
Daqueles momentos lindos


Mas que terão que ficar
Pelo menos, pra lembrar
Da direção que estão indo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Mamãe

Uma vez vi uma frase que dizia, se bem me lembro, que quando você acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas. E eu diria que, nesse estágio, no exato momento da mudança, você acaba vendo ali, bem à sua frente, a reformulação de todo o seu futuro com uma simples escolha que se faça.

Diante dessa imensa confusão, o que eu consigo observar são as coisas que, mesmo entrelaçadas a tantas outras, não devem ser mudadas, simplesmente porque são essenciais. O Caio Fernando de Abreu já falava que depois das tempestades, o que fica em nós é mais verdadeiro e essencial. Falo das coisas que têm significado. E que nem sempre abrimos os olhos para observá-las.

Ontem eu briguei com minha mãe. Eu, no alto da minha "personalidade", falava em cima de um pedestal imaginário que me fazia me sentir muito mais articulada que ela nos argumentos. Daí, enquanto eu ainda tinha energia de sobra para uma discussão infindável, ela simplesmente solta a frase nocauteadora: "Eu só quero o seu bem".

Ela saiu e eu chorei. Assim, baixinho, para ela não ter tanta certeza de que conseguiu me atingir, bem no alvo. Fiquei pensando nas pessoas que me amam. E o quanto eu não lhes dou o valor que elas merecem. Às vezes dedicamos afeto instantâneo a um monte de gente que acabamos de conhecer, mas não somos capazes de dar um afago naquelas pessoas que nos suportam sempre, simplesmente porque nos amam.

O mais intrigante é ver o porquê de querermos ser amados. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para que o outro descubra nossos jardins secretos, damos a falsa impressão de sermos indivíduos dotados de uma espécie de aura de perfeição, para que o outro nos admire, nos enobreça, nos coloque em um plano dos 'dignos de amor'.

No entanto, acredito que o sentimento mais verdadeiro se coloca muito além de todo esse cenário. Minha mãe tem um milhão de defeitos. Mas eu daria minha vida por ela. Deve ser isso o chamado "amor". Acredito mais nos pequenos gestos do que nas grandes frases. Amar, para mim, é deixar meu ego de lado e lavar os pratos sujos da pia, porque meu pai é metódico e sofre quando vê a louça entulhada. Eu não estou lavando os pratos, eu estou amando meu pai.

Acho que essa 'prova dos nove' das atitudes deve guiar nossas condutas. Acho que devemos prestar mais atenção naquelas coisas aparentemente banais, que as pessoas fazem por nós. Elas carregam a profundidade do sentimento. Fico observando as atitudes das pessoas que estão ao meu redor a partir dessa perspectiva. Muitas me confessam indiferença nos gestos, e costumo prestar atenção nisso. Outras me mostram afeto sem falar uma palavra sequer. Cabe a mim, portanto, mensurar cada um dos lados e atribuir o seu valor.

Aprendi, com aquela frase da minha mãe, que devemos valorizar as pessoas que nos querem bem. Só porque ela é carregada de humanidade precária, e por isso mesmo, falível tantas vezes, não significa que seu amor por mim não seja muito mais divino que humano. Só porque ela já me ama, não significa que não preciso mais tratá-la com toda ternura que ela merece. Porque, já dizia Exupèrry, no Pequeno Príncipe, que "foi o tempo que dedicastes à tua rosa que a fez tão importante". Por isso, vou regar as minhas rosas, que, por tantas vezes, transformam-se em cactos diante da minha aridez, do meu deserto.
A Adélia Prado, do alto da sua sensibilidade, sintetiza isso tudo de forma ímpar, no poema 'Ensinamento":

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Historinha pra dormir

Duas muriçocas saíram pela noite, à procura de um casal para azucrinar. Tinha que ser um casal, porque cada uma ficava zumbindo em uma orelha diferente. A muriçoca mais nova, ansiosa por desbravar novos lugares, chamou a amiga para uma aventura pela copa das árvores. O alimento,certamente, seria mais saboroso, "porque gente que gosta de árvore, tem o sangue mais doce", disse a impetuosa muriçosa adolescente, apaixonada por aquele 'molhinho vermelho agridoce', comum na culinária das muriçocas chinesas. A mais velha advertiu:

-"Vamos com muita calma, senão os ´maroins´das árvores nos pegam. Vá devagar,não se entregue às suas paixões deste jeito!". E assim foram.


Chegando perto de uma bela Castanhola, elas pararam e viram um casal, contemplando a árvore, da janela do quarto. A muriçoca mais velha alertou, do alto da sua experiência:


"Temos que esperar, eles ainda estão acordados e corremos riscos de um ataque súbito e certeiro com as mãos. Quando eles dormirem, nós nos aproximamos."


A mais jovem, claro, não se conteve e se aproximou. Tinha lido a "Arte da Guerra para Mulheres" e sabia que tinha de conhecer o inimigo. De cara, gostou da música que o casal escutava. Sabia distinguir música boa, apesar de não entender uma palavra sequer. Se aproximando mais, chegando bem perto, aí sim, ela entendia alguma coisa, graças àquele curso básico de "fala humana" que fizera. Assim, conseguiu ouvir a conversa daquele casal. O rapaz parecia ter uma boa retórica, falava como um cientista político, cheio de idéias revolucionárias e entusiasmado ao tocar algum instrumento, que, no entanto,a muriçoca não via. "Mas ele toca!", repetia a si mesma, incrédula.


Observou a moça, que olhava para todos os lugares e citava sempre alguma frase de um poeta para fundamentar suas impressões sobre as coisas.Parecia flutuar em um mundo imaginário. Se a muriçoca via um pé junto a outro, a moça declamava,para si mesma:


"Amar o perdido, deixa confudido este coração / Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não/ As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão/ Mas as coisas findas,muito mais que lindas, essas ficarão."


E a muriçoca não entendia nada! Casal Estranho. Mas, como todos os curiosos, ela gostava de novidade. E assim, ficou por ali, enquanto a mais velha havia desistido e voltado a sua conformidade habitual.



A muriçoca ninfeta pensou em ser antropóloga um dia, seguir uma carreira diferente daquelas tradicionais, mas a luta pela sobrevivência a fez migrar para o lado mais comum, indo atrás do sangue-nosso-de-cada-dia. Mas nem por isso deixou de estudar o comportamento das pessoas. E aqueles dois humanos eram intrigantes. A muriçoca, com sua visão aguçada, que lhe permitia ver as coisas com clareza mesmo diante da escuridão completa, percebeu que naquele lugar, havia um espelho diferente, que refletia a imagem real do espectador.


A muriçoca descobriu isso ao se observar naquele espelho. Ela não era apenas um inseto, tão igual a tantos outros. Ela se via maior, mais bonita, altiva, uma antropóloga reconhecida internacionalmente. Ela se via enfim, do tamanho que ela era de verdade, e não do tamanho que os outros a enxergavam. O espelho era mágico! Ficou tão maravilhada com aquilo, que já não podia mais sair dali. Tinha medo de voltar a se enxergar menor.


Então, grudada no espelho,observava que o casal passava por aquele arco sem notar sua verdadeira imagem, refletida ali, diante deles! A muriçoquinha ficou atônita! Eles pensavam que não havia espelho! Que aquele arco era apenas mais um trivial, parecido com um bambolê,comum a tantos outros! E a muriçoca não conseguia alertar sobre o que ela via!



O rapaz passava e ela conseguia enxergá-lo como verdadeiramente era, cheio de ternura e encantos, com asas enormes, destinadas a alçar longos e altos vôos. A moça despenteava os cabelos sem notar sua imagem ali, bem à sua frente, lhe mostrando sua real capacidade, seu potencial de águia,com asas e olhos que a faziam enxergar muito além do alcance.


A muriçoca cansou-se. Por mais que se esforçasse em gritar, espernear para que os humanos pudessem ver suas características divinas, eles não viam o que estava a sua frente. Tolos, acreditavam que eram apenas pessoas comuns, com problemas e dilemas ainda mais comuns. A jovem antropóloga desgruda do espelho e sai voando...Sabia que havia nascido para algo além, trazia consigo um sentido diferente das coisas. Chegou pensativa em casa e a sua amiga mais velha pergunta o que houve. Ela, mesmo resignada em não poder espalhar a notícia para o mundo, responde:



"Descobri que os seres humanos também têm asas, mas não voam! "

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Maricota

Acabo de chegar do aeroporto, fui me despedir de Mari, minha grande amiga que foi embora para o Canadá. De repente, o avião subiu e foi pintando o céu de cinza. Acho que meu coração gostou da idéia e também foi descolorindo. Aí, como um efeito dominó, a cor dos meus olhos foi sendo lavada por uma água densa, que teimava em não deixar mais nenhuma manchinha castanha nos coitados. Mas foi até bom lavar tudo, porque aí eu pude enxergar as estrelas. Cada uma com seu brilho, formando uma constelação que só é bonita porque é complexa,indeterminada, infinita. Acho que a vida deve ser assim: uma constelação cheia de diferentes estrelas. Algumas brilham por muito tempo, outras precisam de mais espaço para conseguir encontrar sua luz, outras são estrelas cadentes que aparecem de vez em quando, só para iluminar nosso céu quando tudo está muito escuro. É,Mari. Já sinto falta da sua luz.Como diria aquele romancista Henrique Maximiliano Coelho Neto, "A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração."

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Prece

"Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade,faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém."

(Trecho de "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres,de Clarice Lispector)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

"ameno dori me"

Hoje fui para mais um Congresso sobre os "direitos" da vida, sequer havia feito minha inscrição tamanho meu desinteresse pelos mesmos 'debates' de sempre, e, por sorte, minha mãe se encarregou de colocar meu nome, já que ela também ia. Qual não foi minha surpresa ao me deparar com o tema, e o melhor com as excelentes palestras do "I Seminário de Direitos Humanos da Criança e do Adolescente no Estado da PB".

Eu me considero sensível, me emociono facilmente e encontro muitos significados em coisas aparentemente banais, já chorei de alegria,de raiva,de tristeza ao ver as cenas cotidianas da miséria latente ao redor, lendo livros,vendo beijos de novela, ouvindo músicas. Mas eu nunca,em toda minha vida, havia chorado em uma palestra. Pelos meus cálculos,ainda não estou de TPM,então atribuo os meus olhos marejados aos dados da palestra, às suas cenas e falas.

O trabalho, a prostituição, a exploração sexual de seres tão pequenos e tão órfãos, dói no fundo da minha alma, não em um sentido caridoso ou piegas, mas aquela dor que faz você tremer de indignação ao ver o quanto somos mesquinhos,hipócritas,egoístas.O quanto a sociedade brasileira é apática,deitada em seu 'berço esplêndido', assistindo novela, achando tudo uma pena, e ponto.Neste momento, alguma menina dorme, cansada de trabalhar o dia inteiro. Amanhã, algum menino vai chegar cansado na escola e, na 2ª série, ainda não vai saber escrever o próprio nome. O bolsa família está aí, para lhe dar uma esmola mensal em troca dele engrossar as estatísticas de "15 milhões de crianças na escola" e só. De tarde, ele vai p/ o sinal, fazer malabarismo para "ajudar na despesa" e de noite, ajuda a mãe a cuidar dos outros três irmãos menores. Este menino se chama "Wesley" e me contou sua rotina semanas atrás.Perguntei se onde ele morava existia conselho tutelar. Desde então, nunca mais o vi. Naquela noite, dei uma camisa a ele, mas ele era esperto e viu que era de menina...deu à irmã.

É bom você saber que,neste momento, há milhares de crianças sendo violentadas das mais diferentes formas. Em algum lugar bem perto daqui, há uma infinidade de vidas sendo marcadas do pior jeito,para sempre,por algum depravado dos muitos que existem por aí, que adoram se auto-afirmar com pequenas crianças de 11 anos de idade. Choro de raiva. De dor. Daquele sentimento de impotência que, no entanto,também nos impulsiona a querer mudar as coisas. Eu estudo para isso, e ver que metade das crianças violentadas já tentaram suicídio, me faz estudar mais. Quem sabe,um dia, eu não possa tirar a corda do pescoço de alguma delas.