domingo, 23 de setembro de 2007

"La mar"

Eu já tinha ouvido falar tanto de "O velho e o mar"que quando o vi, fininho e com uma linguagem aparentemente simples,senti um certo medo. Por ser um livro fino, meu medo era de terminar logo, rápido demais, sem que as palavras do Hemingway conseguissem embarcar na minha mente, ou ancorar na minha memória por muito tempo. Do começo até grande parte do livro não demorei na leitura, mas minha expectativa era enorme e sentia falta de algo. A expectativa crescia e não encontrando respostas, passei a achar que a ansiedade impedia meu mergulho nas palavras de Hemingway. Parece que meu barco não conseguia deslizar sobre aquele mar prateado de palavras e me senti meio alheia à infinidade dos "peixes" que cercam o livro.É aquela história que de tanto desejar uma coisa e querer transformar aquilo num momento mágico e inesquecível, você acaba não percebendo que o seu desejo aconteceu, por estar mais preocupado com suas próprias exigências.
Mas,como diria um escritor que não lembro bem o nome,"um clássico é um clássico. Não importa se você não está no clima, desconcentrado ou pensando em outra coisa. Um clássico sempre encontrará um caminho para lhe atingir e mudar sua vida".
Quando reparei, já era tarde, e eu estava ali no barco com o Santiago, chamando o mar de "la mar", como os espanhóis o chamam quando "lhe querem bem", dando ao mar uma alma feminina e amorosa(claro que,sendo mulher e fã incondicional do mar, acabo de rebatizá-lo).
Acredito que ao ler 'O velho e o mar' o que fica não são as palavras, mas a história e os sentimentos de Santiago, que carreado de glórias 'pesqueiras' no passado, agora está velho e amargando um longo jejum sem nada pescar, lançando-se ao mar sozinho, com a obrigação de não decepcionar o Manolim, a esta altura, a única pessoa que lhe importa no mundo. Também gostei da sua luta não só pela sobrevivência, mas sobretudo, com os limites e a solidão, o orgulho e a derrota. Percebemos que nossas lembranças são marcadas com sentimentos, entranhadas na alma que sempre reaparecem nos nossos sonhos, como o Santiago sonhando com a brincadeira dos leões.
O livro é daqueles típicos suspenses 'suaves',aumentando sempre a expectativa.Deixei de assistir o 'café filosófico´só para ver a chegada triunfal do pescador à cidade, em ter conquistado o topo. Triste engano. Após uma verdadeira luta, a queda. O autor conseguiu fazer com que eu ficasse inconformada com os rumos da história. Mas,sem dúvida o melhor anti-clímax que já passou por minhas mãos.

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