De vez em quando, aliás, de vez em sempre, alguém me diz :"Nem parece que é você". Essa frase geralmente vem em forma de desapontamento, ou surpresa, mas o fato é que muitas vezes eu mesma duvido que uma só Vivianne permaneça no comando durante boa parte do tempo. No dia em que criei este blog tudo o que eu queria era me encontrar debaixo das minhas várias máscaras, por isso o nome "Nu Canto". Queria me despir das minhas várias faces e descobrir quem eu era de verdade. Mas eis que até hoje, depois de 2 anos, cada post aqui tem uma faceta diferente. Ao invés de me reduzir a uma só, acabei me multiplicando por aqui.
E claro que para mim é estafante conseguir entender como posso ser tantas, sem ter uma grave perturbação mental. Possuo alter-egos tantos que posso até batizá-los com minhas profissões imaginárias, sai a Vivianne professora de Direito Previdenciário, entra a Oficial que cumpre mil mandados, chamo a escritora amadora,depois saio para pintar telas, virar artista circense com Renan, falar sobre Nietzsche, cantar Vanessa da Mata, ouvir Beatles e Funk Carioca quase ao mesmo tempo em que escrevo um artigo sobre a nova lei da adoção, penso em me candidatar a vereadora, enquanto estudo pra ser delegada ou psicóloga, e vou na Escola Freudiana ouvir palestras. Isso tudo pode ser visto em 5 minutos no teatro delivery da minha vida.
Pode até ser que seja culpa da minha "mente inquieta" (fui diagnosticada uma vez como tendo DDA- distúrbio de défict de atenção, mas nunca tomei ritalina, diga-se), mas acho que quase todo mundo é assim, múltiplo.
Um dos meus poetas favoritos descreve tal sensação de forma irretocável, no poema "Tabacaria":
"Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)... Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,eu sinto-me vários seres.Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada (?), por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço. "
No quadro abaixo, o artista plástico vai além de Fernando Pessoa e, na tela, demonstra que o poeta é múltiplo, isto é: a fragmentação pessoana teve a sua expressão máxima com a criação dos heterônimos, destacando – se destes – Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis – que são os mais representativos e estão representados no quadro.

E ainda não somos únicos, apesar de "múltiplos". O artista Phillip escreveu de forma eloquente:
Depois de ver tantas pessoas dentro de mim brigando pelo posto do meu "eu" verdadeiro, eu poderia até parafrasear Herbert Vianna e cantar "Se eu queria enlouquecer, esta é 'a chance' ideal..." , mas penso que o melhor caminho é aceitar nossa multiplicidade e tentar fazer com que elas tenham algum traço em comum. Talvez seja este traço que nos define, como gostam os arquitetos. E pra deixar meu traço neste post, eu lembro do único que conhece todas as minhas personagens e ainda assim, me faz ser única.
3 comentários:
Querida Vivianne, penso que todo mundo - ou quase- vive nessa multipliciade de ser, do ser. Normal. Somos tantas coisas ao mesmo tempo, que ao memso tempo nos perdemos em quem somos nós.Estamos longe das respostas para quem somos, o porquê somos. Por isso , acho que a vida é mais viver mesmo, do jeito que der, do jeito que estamos,somos e queremos. Importa fazê-lo com o coração lícito, o desejo lícito.
Termino com um poema, aliás, o último que me atrevi a escrever qu etem um tanto dessas dúvidas, certezas e de quem eu sou ou penso saber.
DAS COISAS QUE VIVI, NEM SEI
DAS QUE SENTI, NEM PENSO SABER
DESSE MOMENTO, ME PERDI
DAS QUE DESEJO, O QUÊ DESEJAR?
ME FALE DO QUE PRECISO
ME DÊ DO QUE É BOM
NADA FAZ MESMO SENTIDO
E O SENTIDO NADA ME FAZ
ATÉ QUE É BOM DUVIDAR
SOU TANTAS CERTEZAS
SOU ASAS SEM VENTO
SOU UM POUCO VERDADE
E MAIS DA METADE
É MUITO DO QUE SOU
Bjão.
adoro seus comentários, Felipe!
Acabei encontrando seu blog por acaso, mas achei bem interessante.
E eu acho que as pessoas mais interessantes nao se resumem a estereotipos, elas sempre se recriam e sao surpreendentes. :)
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