quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O mundo de Leland...


Ontem assisti 'O mundo de Leland' (dica incrível do André) e até agora me sinto meio fora de órbita. Geralmente os filmes mexem comigo de uma forma que preciso de uns 30 minutos depois do final para me recompor.

Mas,o Leland ainda não me saiu da cabeça. Tudo bem, é um filme típico da sociedade americana, que por vezes busca justificar atos extremos de seus adolescentes problemáticos, mas vi no filme uma sensibilidade que me tocou de uma forma assustadora. Chorei a noite inteira copiosamente e,por favor, não me perguntem por quê. Talvez seja a maldita TPM que me afoga em lágrimas, não sei. O que posso afirmar é que não é choro de tristeza, nem de alegria, nem de sentimentos que têm nome. Acho que foi a forma que meus olhos deram para me chamar atenção para outra forma de ver as coisas. Parece que essas lágrimas são sinônimos de confetes de alegria por, enfim, esses meus olhos castanhos, tão acostumados às mesmas visões, conseguirem enxergar o essencial (embora segundo Exupérry, 'o essencial seja invisível aos olhos'...).

Acordei meio atordoada com o filme e como de costume, agi de impulso, e , sem alarde, peguei um ônibus para a casa da mina avó, que fica a 130km da minha casa.

No caminho, um homem fez um discurso para vender jujubas. Seria uma cena cotidiana se não fossem suas palavras e o meu terceiro olho vendo além. Ele dizia :

"Apesar de ninguém me olhar, peço 1 min da atenção, porque do mesmo jeito de vcs, eu também tenho vergonha.Mas esse é o único jeito de fazer meus filhos continuarem na escola."

Aquele homem percebeu que ninguém o olhava. E isso é mais comum do que ele pensa... enquanto eu pensava nisso, olhava pra ele com os olhos marejados,na tentativa de fazê-lo acreditar que não estava só.Não lembro literalmente, mas o Leland disse no filme:

"Há duas maneiras de ver a tristeza. Uma é enxergando-a em todos os lugares. A outra é fingindo que ela não existe e ignorando-a nos outros."

Eu estava tão envergonhada de estar chorando que mal consegui perguntar o preço da jujuba. E eu só tinha R$0,25 e o seu custo era de R$0,50. Falei: "Não precisa da jujuba.É só para lhe ajudar mesmo." Qual não foi minha surpresa ao receber o doce e ouvir sua réplica:

"Não precisa da moeda. A jujuba é o pagamento por você ter sido a única a olhar pra mim. Obrigado". E ele se foi.

São essas pequenas frases que marcam toda uma existência. E a minha, confesso, jamais será a mesma. Não só por esse acontecimento carregado de significado, mas sobretudo por notar que Deus viajava comigo o tempo todo, ali do lado, me dando pequenas lições de vida.

Mas eu continuava sentindo a tristeza latente ao meu redor, e à medida que o ônibus chegava na rodoviária, eu já não me importava de pingar as gotas de colírio para disfarçar as lágrimas. A desesperança tomava conta e eu ficava perguntando a Deus porque afinal, ele não decreta o fim do livre arbítrio, que faz as pessoas sofrerem com os atos de outras, numa cadeia indefinida de acontecimentos, e baixa logo um ato intitucional obrigando a humanindade a ser melhor,mais feliz.


Mas, de súbito, as minhas lágrimas me fazem olhar pra baixo. E eis que o improvável acontece: no meu pé, encontro um terço de dedo (aqueles pequenininhos) com uma imagem de N.Sra. Aparecida. Chorei mais do que nunca, mas sorrindo.

Resposta melhor Ele não poderia ter me dado. Se eu não tivesse triste, as lágrimas não escorreriam, eu não teria olhado para baixo e a esperança não haveria de estar ao meu alcance...

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