sexta-feira, 25 de julho de 2008

Conjugando:Deus,Eu,Ele,Ela,Nós,Vós,Eles.


Eis que lendo alguns blogs que eu gosto, vejo no de Eduardo Rabenhorst-www.modosdedizeromundo.blogspot.com- entre uma postagem e outra, uma leitora discutindo sobre um outdoor (vide acima) que a Justiça da PB mandou retirar, sob pena de multa diária. Fiquei pensando no papel que a Religião exerce na nossa vida. Muita gente a usa para se mascarar, outras, como forma de tirar a máscara (pelo menos, perante Deus). Não acredito que haja qualquer 'condenação futura' a ser efetivada por Deus. Não acredito que esta vida é um erro e que só depois é que conheceremos o paraíso, como nos pensamentos de Platão (a idéia da cadeira vêm antes da cadeira?). Também não sou partidária de um niilismo inútil, que não enxerga importância alguma nos valores do alto.


Acredito sim, em condenações reais, que a gente estabelece para si mesmo, construindo, por vezes, infernos e clausuras que, sem interferência nenhuma do alto, transformam nossas vidas em pesadelo. Há uma autocondenação quando temos dois caminhos e escolhemos o da maldade. E maldade não está longe! Está em cada um que olha pro outro e ao mesmo tempo que lhe sorri, lhe amaldiçoa. Maldade em escrachar homossexuais e não ajudar um cego a desviar do poste. Maldade em ir à missa(ou culto,ou reunião) e passar o tempo inteiro olhando as marcas das roupas alheias.Maldade em mim, que digo que não tenho dinheiro para doar uma cesta básica e vou jantar fora.


O paraíso pode existir sim, e às vezes sonho com ele, mais pela possibilidade de reencontrar as pessoas que já se foram, do que pelo que vou usufruir dele. Penso que o Paraíso é a vida bem vivida, conforme nossos valores e a ética, cujo propalador maior foi Jesus. Paraíso é saber que eu existo por algum motivo, e não posso morrer sem descobri-lo. Acredito que a aventura de viver consiste basicamente em descobrir para o quê fomos criados. Nossos talentos nos avisam de que forma nossa existência pode valer à pena, e quando estamos no caminho certo, a vida dá um jeito de facilitar nosso trajeto.

Muitos usam a Bíblia como base para julgamentos vários. Eu prefiro usá-la para ler trechos que me tornem alguém melhor, como aquele em que Jesus diz:“Por que observas o cisco no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou, como podes dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave que está no teu olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mt 7,3-5). Este caminho me mostra a importância da autocrítica, antes da morbidez no julgamento do outro. E de quebra, me abre espaço para a solidariedade e ao ajuste da minha própria conduta.


Sei que Religião significa religar,e nisso está o mais bonito: a possibilidade de estabelecer uma ponte entre Deus e nós (no meu caso,é pela eucaristia). É uma experiência cotidiana, que nos aproxima do sagrado. Homossexualismo ou homossexualidade, ou homoafetividade, só serve mesmo para distinguir uma opção sexual, jamais uma pessoa. Ninguém, absolutamente ninguém neste mundo,tem direito de usar a palavra de Deus como forma de julgar alguém. O amor de Deus é compassivo e não distingue quem está certo ou errado.A linguagem do amor não se baseia em palavras, tampouco em frases soltas da Bíblia, ela é muito mais "tête-à-tête", quando o cérebro não processa e só sobra o coração.


Fico triste em ver cristãos tornando pior a vida de seus "irmãos". A gente tá no mundo pra fazer alguma diferença, oras! Diferença pra pior, é inacreditável.Fico pensando na pessoa gay que olha o outdoor. Certamente, ela acaba afastando-se de Deus, por se sentir rejeitada, quando o que Deus quer é justamente o oposto. Acho que todo mundo tem não apenas o direito,mas o dever de ser feliz e ir em busca do que lhe faz bem. Cada um tem seu próprio relacionamento com Deus, mesmo que seja um não-relacionamento.E para quem está de fora só resta viver sua vida conforme seus próprios valores,sem ultrapassar o limite do outro. Façamos como os rios : quando suas águas encontram limites, eles não avançam, simplesmente tornam-se mais profundos.