domingo, 4 de novembro de 2007

Hoje foi um domingo de luz. Não só pelo sol maravilhoso que fez aqui, mas principalmente pela luz advinda de uns olhinhos miúdos, de um menininho lindo chamado Lucas. Fui para missa porque eu estava sentindo minha espiritualidade minguar, tornar-se cada vez mais fraca apesar das minhas insistências com Deus. O meu sono, implacável, roubava o tempo que eu tinha pra prosear com meu amigo lá de cima. Sobrou o vazio e fui atrás de preenchê-lo. Há tempos que eu tentava, e fui recuperando a credibilidade na minha fé aos poucos, devagarinho. Não acredito em fé que não duvida dela própria, apesar de parecer um contra-senso. Acho que devemos sempre investigar nossas crenças, a fim de que elas amadureçam, tornem-se sustentáveis.

Hoje eu diria que o silêncio foi muito mais importante do que qualquer pregação que eu poderia ter ouvido. Dessa forma,um tanto quanto cética,mas sempre pedindo desculpas a Deus pelas minhas dúvidas, cheguei para assistir a missa e logo que desci do carro, o Lucas me olhou e sorriu.Ele estava descalço e sem camisa, mas nunca vi um menino tão lindo e com olhos tão expressivos em toda minha vida. Cabelinho castanho, lisinho de dar dó, sob a testa,sorriso sincero,que faz preguinha no canto do olho.Acho que foi paixão à primeira vista e o melhor de tudo é que ele foi com a minha cara também e correu para me dar um abraço, assim, do nada, mesmo. Eu fiquei sem saber o que fazer, e não tive alternativas a não ser me render, abrançando-o e levando-o ao céu- bom, não sei quem, na verdade, foi no céu-.A mãe dele estava "guardando" os carros em frente à igreja, e ela encabulou-se da aparente 'carência afetiva' de Lucas, que foi logo correndo pros meus braços. Dei tanto cheiro nele, e achei o moleque tão parecido comigo que eu confesso que quis levá-lo pra casa. Mas a mãe só tinha ele, e disse que era a pérola da vida dela. Só podia mesmo.


Eu não consegui, e parece que não vou conseguir, explicar como Lucas, de 4 anos, mexeu comigo, só sei que entrei na missa chorando e sai dela chorando ainda mais. Mas era aquele choro inexplicável, jamais um símbolo de tristeza, alegria ou mesmo de 'fragmentos de história'. Acho que as lágrimas estavam lavando a minha alma, como se eu tivesse tido um 'insight' e me lembrado da essência das coisas, lembrado da centelha divina que existe lá dentro de cada um, escondida em algum lugar do nosso coração.O Lucas conseguiu me passar a sensação de que Deus, se fez na forma de criança,pra chamar minha atenção. Chegou sem alarde e só de me ver- de volta- já abriu o sorriso, correndo pro abraço, sem perguntar o que eu fiz de errado. Me encheu de afagos, me levou no Céu, e me deu a certeza de que ele me amava apenas por estar ali, mesmo sem um doce ou um brinquedo para dar em troca. Acho que é a certeza de se saber amado apenas pelo que se é, mesmo que não sejamos grande coisa.


Enfim... o domingo foi do "Lucas" na minha vida.

Que amanhã, possa ser o dia do "Mateus", na sua.

4 comentários:

Luana Magalle disse...

Lindo!!!

Depois dessa, uma excelente semana para vc!
beijos

Carol Montenegro disse...

Vivi, dos encontros e reencontros que temos na vida esse é dos mais belos!Nada melhor do que se sentir acolhida, amada e acima de tudo esperada por alguém que sempre nos olha e vigia com carinho, e nós sempre encontrando desculpas pra fugir...
lindo texto, belíssima experiência de vida!!

Unknown disse...

Sou novo no blog e por não ter tanto crédito vou ser breve: a autora com uma sensibilidade peculiar consegue ver o que apenas conseguimos, no mais das vezes, olhar.
Enxergar as pequenas coisas num universo comum é um dom dado a poucos como os poetas, filósofos ou juristas.
Creio que é vendo o mundo com olhos diferentes que podemos um dia sonharmos em sermos iguais.
Parabéns e obrigado.

Vivianne disse...

Puxa, eu que agradeço! :)