segunda-feira, 23 de março de 2009

A morte da culpa.

Hoje fui a um velório de um parente não muito próximo, e mesmo assim,sempre que vou a ocasiões como essa, algo em mim grita, pedindo para eu não deixar a vida escapar. Mais do que isso, hoje a morte do meu parente teve um aprendizado diferente, talvez até eu nem tenha conseguido captar.
Meu primo de 2º grau era apaixonado cegamente pela mulher,e descobriu que estava sendo traído. Desiludido, bebeu muito, foi andar de jet ski, faltou gasolina,e num gesto (im)pensado, mergulhou, tentando nadar de volta à beira do lago. Não conseguiu resistência para tanto e, engolindo água, morreu afogado. A mãe dele culpou a esposa pela morte. A mulher culpou a indiferença do marido pela traição. O marido, agora morto, culpava o amante, oportunista. Todos no velório culpavam o tempo: "um rapaz tão novo!"
E começo a pensar sobre um dos piores sentimentos do mundo: a culpa.
Sempre que erro,me sinto culpada. Sempre que erram comigo, culpo. E nesse jogo de erros e culpados, a gente acaba esquecendo do velho clichê de que somos humanos, falíveis. Não acho com isso, que devemos esquecer nossos erros, e simplesmente não lembrar dos que erraram conosco. Eu só acho que é preciso (des)culpar. Parar, de uma vez por todas, de carregar um troço que só faz mal, que só nos deixa piores, que só nos faz piores.
Eu não me culpo de nada, e acho que sou uma máquina de errar ambulante. Vivo errando, e como diz a música do Kid Abelha, "vou errando enquanto o tempo me deixar". Mas eu me perdôo. Definitivamente, eu escolho o que levo na minha bagagem. E se eu erro, sofro e me puno, das mais diversas formas. Quase sempre eu não preciso me punir, porque a própria vida já se encarrega de fazer isso. Errar dói. Principalmente quando a gente erra com quem a gente gosta. Mas o aprendizado vem, e na maioria das vezes, a vida nos coloca do outro lado, vivendo a mesma situação, para que a gente possa, enfim, aprender de um jeito prático, a se pôr no lugar do outro e não fazer tanta besteira. Mas é preciso, sempre, perdoar. Sobretudo, perdoar a nós mesmos. E perdoar é se livrar de culpas e de culpados.
Fiquei imaginando tudo isso ali, olhando para as coroas de flores carregadas de mensagens fúnebres. Pensei " pra quê adianta pensar em quem foi o culpado se o coitado já nem sente mais nada? Nem mágoa, nem raiva, nem amor, nem p... nenhuma?". Me perdoem pelo tom, mas eu não tô aguentando tanta alienação, tanta besteira, tanta hipocrisia desse mundo onde a gente se acostumou a viver.
Nos últimos erros das pessoas comigo- e sinceramente, têm sido muitos!!-eu não consigo mais ficar muito tempo ruminado a raiva. Eu só passo a régua, e sigo em frente, sem tanto drama. Sofro, e muito, mas não banco mais a vítima, de um alto de um pedestal que faz doce em perdoar ou não os pobres mortais que a fizeram sofrer. Pode soar frio e calculista ( e definitivamente, não é isso), mas eu apenas perdôo. Só que agora eu escolhi perdoar sem ressalvas. E perdoar sem ressalvas te dá a incrível liberdade de escolha, entre deixar ou não aquela pessoa fazer parte da sua vida novamente. Quando sinto que poderia apenas desculpar, e no meio da vida, culpar aquela pessoa de novo, prefiro perdoar de vez e escolher não voltar a conviver com o maldito (hehe). Porque se for pra pseudo-perdoar, e jogar na cara de quem nos fez sofrer, que, um dia, naquele ano de 1780,ele nos fez sofrer, é melhor jogar limpo e dizer, à La Capitão Nascimento: "perdeu,playboy." E simplesmente,seguir adiante,sem culpas de nenhum dos lados.
E se for pra perdoar e aceitar o outro de volta na nossa vida, é preciso esquecer (sim, sim, e não acreditar naquela frase ridícula:"perdoar não é esquecer". É sim! quando não se esquece o fato, deve-se esquecer a pessoa!) e tentar recomeçar, seja lá como for. E recomeçar não é remendar laços desfeitos,mas construir outros, novos. Talvez até melhores, que é quando a gente começa a construir laços verdadeiros, sabendo quem o outro é, e o que podemos esperar dele e vice-versa.
Enfim, acho que é preciso tentar simplificar o máximo a vida, nem que para aprender isso o caminho seja extremamente complicado.
E escolher viver sem culpas...até que a morte nos separe.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto muito bem escrito e muito bem pensado!

Anônimo disse...

Belíssimo texto. Sazonadas palavras!