segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Conto para o meio dia.


Uma música não saía de sua cabeça. Depois que a letra era excessivamente repetida, sem que necessariamente fizesse parte do seu gosto musical, sua mente pulava para outra canção e assim ia durante longos períodos, ao mesmo tempo em que múltiplos pensamentos saltitavam entre as músicas. Ao fim do dia ou de um longo período de músicas, pensamentos e orações, sua mente parava, exausta. Não conseguia mais pensar em nada. Deitava, lânguida e sofregamente, em uma rede e passava a contemplar o céu como uma miragem, um sonho em forma de cor que lhe transportava para um lugar de paz-minuto. Afinal, daqui a pouco sua mente iria começar a trabalhar de novo, e esse minuto de paz lhe dava um descanso e um conforto que deveria ser sorvido a cada segundo como um gole de água em um deserto de sede.
Pensava, ou melhor, invejava quem apenas vivia sem que a mente lhe interrompesse a todo instante. Por que não poderia ser assim? Quem havia decidido que seu destino era pensar? Pois gostaria de falar-lhe. Dizer-lhe o quanto sofre por ser assim. Assombrar-lhe com sua rotina incessante de pensamentos desordenados e letras de músicas. Vez por outra ainda rezava no meio da canção. Estava cansada de ser. Buscava, desesperadamente, uma tentativa de fingir ser outra pessoa. Poderia fingir tão bem quem sabe, que acabaria acreditando no próprio fingimento e tornando-se efetivamente aquela que fingia ser. Era uma boa ideia, mas não exequível. Já tentara muitas vezes esta estratégia, mas não conseguia durar muito tempo sendo quem não era. A máscara caía e ela olhava para o chão, com vergonha de ter tentado e mais uma vez, falhado. Vergonha, sobretudo, de ser só. De ser sua única companhia, mesmo com o universo inteiro ao seu lado. Era só porque assim tinha de ser. Coisas de quem não consegue se entender nem fazer-se entender. Coisas de quem busca uma verdade interior que jamais virá. 
Passado um tempo, aliás, 58 segundos, Amália quase estava calma. Não fosse pela galinhada na cozinha, seus pensamentos teriam se anulado e a deixado em paz. Mas o fogão começara a exalar um forte cheiro de queimado, e lá vai ela, já pensando no que a comida queimada poderia fazer em seu estômago. Claro, pois não haveria de cozinhar outra coisa. Já bastava de ter de pensar, ainda mais em receitas? Ela se recusava. E assim podia exercer alguma liberdade naquela personalidade que tanto a aprisionava. 
Amália conseguiu salvar o almoço, com a graça de quem sabia fingir. Deitou as partes cozidas e brancas da galinha sobre o arroz, despejou sobre ele o molho espesso e a panela queimada ficou para trás. Borrifou detergente e deixou que a panela esquecesse, delicadamente, sua vergonha de estar suja, ao lado de tantas outras panelas limpas e brilhantes.
Ficou observando aquela cena por um instante e lembrou-se do tempo em sua vida: era ele seu detergente. O tempo deslizava sobre suas manchas e as apagava. Limpava sua alma dos ressentimentos e rancores tão difíceis de retirar. Jamais voltaria a ser reluzente, achava, mas pelo menos estava limpa.
O marido de Amália tocou a campainha e ela gentilmente abriu a porta. Tê-lo ali, tão claro e límpido, era como um objetivo a ser alcançado. Gostaria de ser simples como ele. Trabalhar, comer, amar, vestir, dormir. Sonhos apenas quando se está dormindo. A vida era boa. Só ela que não enxergava?
Para ela, viver não poderia ser apenas isso. Mas não sabia verdadeiramente o que buscava, ou mesmo se buscava alguma coisa. Aquela inquietação era sofrida. Vinha como uma onda gigante a lhe afogar, a dizer-lhe que ela era um ser inerte que nada fazia a respeito de buscar sua vida de verdade. Mas que diabos de vida era aquela que a onda queria? Ela não sabia. E de repente, escuta um elogio vindo da cozinha. Seu marido acabara de provar a galinhada queimada, achando-a deliciosa. E neste momento, Amália conseguiu rir pela primeira vez no dia. Ela estava conseguindo não-ser, apenas existir. E isso era uma grande libertação. Pelo menos para hoje. 

8 comentários:

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