quarta-feira, 9 de março de 2011

Carnaval de quem?

O Carnaval sempre foi uma festa pouco aproveitada, por assim dizer, para uma Miss Careta feito eu. Mas eu sempre gostei de ver as cores, a alegria, o povo esquecendo das contas e das pelejas da vida, mesmo que seja um "circo" que dure tão pouco. Sempre admirei (e vou continuar admirando) o Carnaval do Recife, que, para mim, é o mais democrático de todos, onde "brincam Carnaval" (acho linda essa expressão) desde crianças com fantasias de Toy Story a velhinhas sensuais com fantasias de milindrosas.
Mas eis que até nesta 'democracia', existe a famigerada "área VIP". Acredita ou não? Claro que acredito, já que estamos no país do "sabe com quem você está falando?". A palavra VIP já é uma piada, convenhamos. O que me faz ser um "very important person"?
Mas, língua é feita pra se morder e lá estava eu, no meio do povo, espremida até a última gota de suor no Marco Zero, no Recife, tendo ido em uma excursão que saiu de João Pessoa na qual os "teenagers" do ônibus éramos nós, beirando os 30. Lá, enquanto eu ziguezagueava pelo mar de gente, avistei um espaço grande, quase vazio, perto do palco. Perguntei a Elias: "Por que ninguém está ali?????" Como se eu tivesse descoberto um oásis que só os esperançosos(ou desesperados) conseguem ver. E ele respondeu: "É a área VIP".
Bom, eu não fui até ali para ver a Vanessa da Mata cantar e simplesmente não vê-la. Nós tínhamos pulseiras da excursão e lá fomos nós, bancar os impostores e tentar entrar na área exclusiva para pessoas especiais (mui especiais!). Conseguimos ou não? Com uma pulseira que nos diferenciava de reles mortais? Claro que sim! =D
Mas nossa pulseira era branca e as dos realmente especiais era rosa, e isso foi o meu grande temor durante todas as horas em que experimentei ser da elite: já pensou o segurança me arrastar e me jogar de novo na multidão? Não era a vergonha de ver os VIP´S me olhando com desprezo, mas sim o medo dos "não-VIP´S" me rejeitarem. "Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém", e tive vergonha de mim mesma em não aceitar isso. Lá, me senti parte de uma exclusão paralisante, que me fazia ter uma visão clara do nosso abismo social. De um lado, a multidão espremida, com fãs de Vanessa da Mata quase tendo a metade inferior do corpo consumida pelas grades de ferro. De outro (o que eu estava?!!), várias mulheres com corpo sarado, homens com cara de rico, fotógrafos, produtores, e mais algumas pessoas com cara de quem não sabia quem ia tocar , mas que isso pouco importava.
Confesso que não consegui entender minha própria categoria. Mas preferi me sentir uma impostora, igual ao cara do 'Pânico na tv'. Só que a minha "missão" era um pouco mais nobre, porque eu sou fã da Vanessa. E quando ela surgiu no palco, confesso que amei estar ali, naquele lugar privilegiado e ser a única daquele espaço que sabia todas as letras das músicas do show.
Assim que ela foi embora, eu também fui. Tinha Lenine ainda na minha frente, mas não consegui perpetuar aquela sensação de quem está presa em um lugar que não lhe pertence. Voltei pra multidão feliz, e fui comer um churrasquinho de gato. E a farofa tinha um gosto "bom e aliviado", como diria a música...

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