segunda-feira, 13 de julho de 2009

"O que eu quero...(desa) sossego"

Semana passada escrevi no "quem sou eu" do orkut o único adjetivo que se encaixa perfeitamente no que já descobri de mim: desassossegada. Embaixo do adjetivo, escrevi "ainda bem". Uma colega minha, então, enraiveceu-se e me escreveu: "Vivianne, você devia agradecer pela vida que tem , por ter emprego, família, saúde, e não viver sempre com dúvidas existenciais". Eu até lembrei da música do Raul Seixas, Ouro de Tolo:
"Eu devia estar contente/Porque eu tenho um emprego/Sou um dito cidadão respeitável/E ganho quatro mil cruzeiros por mês..."
Bom, aqui vai minha resposta pra quem comunga do mesmo pensamento. Mas vou logo avisando que,como diz o Gabo, no seu livro Memória de minhas putas tristes: "Não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego".

Primeiro, o termo "dúvidas existenciais" deveria ter sido melhor explicado. Acho que ninguém duvida de que existe. É só beliscar o braço ou cortar os pulsos. =) Dúvidas sobre o "por quê" de existirmos, aí sim,é bom de ter. Aliás, se eu não tivesse dúvidas, iria ser uma niilista insuportável: "eu não sou nada, não existo para nada e vamos acabar em nada." Ser desassossegada é o contrário. É buscar, incessantemente, não cair no vazio de sentido, não viver sem questionar, sem buscar alternativas para as escolhas previsíveis, não se conhecer, não se descobrir. Viver no previsível não é para mim, ainda que isso seja a busca de muitos.
No entanto, ser desassossegada não significa ser deprimida, ser triste, não grata pelo que já consegui, não amar a vida nem as pessoas que fazem parte dela. Não é, absolutamente, nada disso, embora todo mundo possa ter suas crises e eu não escape delas. Mas, para mim, o meu desassossego é simplesmente não me conformar com o que basta. Porque, de um jeito ou de outro, quando tudo nos basta, acaba. E pra mim é cedo pra acabar.
Meu desassossego é o que me mantém viva. É o que me faz ir mais longe, pensar outras coisas, fazer outros planos em busca de uma plenitude que talvez nunca chegue, mas que me faz caminhar e seguir em frente. Ainda não descobri o sentido da vida, e quem sabe (e acredito nisso) o sentido seja diferente para cada um. Talvez por isso eu, além de dúvidas, também tenha algumas certezas (temporárias, quem sabe!) e entre elas está a de que minha existência vai muito além de uma vida "casa-mesa-banho".
As dúvidas me fazem ir mais fundo, mergulhar na minha humanidade e não me satisfazer só com o superficial de cada coisa. Por outro lado, não acho que para isso seja preciso tornar-se erudito, prolixo, arrogante. Às vezes, quando vejo uma certa "previsibilidade" no ar, eu simplesmente aceito, porque, na verdade, ninguém tem o caminho certo pra ser feliz. Meu irmão é feliz ouvindo forró no último volume o dia inteiro. Eu sou feliz lendo tudo que me dê pistas para as respostas que procuro. Isso não faz de mim melhor que ele. Nem melhor que ninguém. Ele deve ter suas respostas, já eu quis ir mais longe. Problema meu. Literalmente.
Por isso, meu desassossego é sossegado. Não vivo tomando remédio tarja preta, nem achando que minha vida não tem um propósito. Justamente por ter um propósito é que acabo vendo significados. E significados levam tempo para serem descobertos. E é delicioso ser desassossegada para investigar.

Anseio por muita coisa ao mesmo tempo, sonho com várias coisas, sinto tudo com uma intensidade fulminante, e o que eu quero ainda não tem nome. Isso cansa mesmo, mas é assim que respiro, que vivo,que (não) durmo. Não tenho como fugir da minha ânsia de caminhar rumo ao indefinido. Frequentemente sonho que sou uma águia voando para nenhum lugar. Meu inconsciente deve estar por trás disso, Lacan, Freud, Frankl ou Deyna podem explicar.
Claro que vou sendo feliz no caminho. Mas acho que tristeza também faz bem. Solidão, idem. Não tenho vergonha em dizer isso. Aliás, esse post é bem "nu", sem máscaras. Pois é, a minha estabilidade é ser instável, por vezes feliz, triste, e quase sempre tendo uma vontade que não passa e que nem quero que passe. Mudo de humor, de interesses, de sonhos, de cores, de pele. Sou uma eterna mutação em busca de mim, experimentando ser diferente pra ver o que mais palpita. Meu coração é livre, tem asas, e por mais contraditório que seja, acabo amando demais, sentindo demais, (Alceu nos canta: "o coração dos aflitos pipoca dentro do peito") e o amor é quem me salva quando tudo isso parece impossível de se encaixar e ao mesmo tempo, me faz respirar e dizer que sou desassossegada sim...ainda bem.

E como bem sintetiza a Martha Medeiros:

"Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam."


p.s: Pra quem não entendeu nada, "sossegue". ;)
p.s 2: Pra quem quer entender, pela poesia, o que se passa, o "livro do desassossego" , obra ímpar de Fernando Pessoa é ótimo. Pela "prosa", "Mentes Inquietas", da psiquiatra (sim!!!) Ana Beatriz Barros, é a pedida.
p.s 3: desassossegados do mundo, uni-vos!

6 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Amiga, você me fez lembrar dos meus desassossegos da época de faculdade. Estudar sobre a transcendência humana, sobre a responsabilidade aliada à liberdade, escolhas, resiliência, porquês e afins...a resposta para seus questionamentos será sempre uma experiência muito sua. Pertencem somente à você e a leitura que você faz disso te impulsiona.Para o bom ou para o ruim. Mas o homem, ainda assim, sempre será capaz de eleger. Amei seu texto, obrigada por me citar junto a Frankl (amooooo!) e viva suas idéias certa de que você é muito grande. Muito mais do que os olhos alheios podem alcançar. Amo seus desassossegos! =]

Ana Cecília disse...

Oi Vivianne!!
Quando comecei a ler esse post, lembrei logo do texto de Martha Medeiros que vc citou no final...mas acho q vale repetir aqui, só para incorporarmos a maravilha de ser uma desassossegada:
"Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade."

Sejamos desassossegadas SEMPRE e busquemos a felicidade improvável!!!

Bjos!!!

P.S: Agora que comprovei que vc também é uma desassossegada, vou te mandar o convite de uma comunidade no orkut...seja bem-vinda!=)

PolianaUrtiga disse...

achava que tinha outro nome, mas agora descobri que era desassossego!

que isso faça mais sentido agora... pra mim!

=*************

Unknown disse...

É preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante
Friedrich Nietzsche

Para lembrar que não me esqueci do seu livro... Qualquer dia o devolvo...
E pq, em minha calmaria, tb me descobri desassossegada!!! Palavrinha que até na sua escrita é exagerada... Já viu quanto S??

Bruno Nóbrega de Sousa disse...

Vivianne, desculpe a redundância, mas: você é uma mulher inteligente.
"Você diz isso pra todas..." Não. Não digo. Sou chato mesmo.