Eu sei que utilizo o blog quase sempre pra falar de coisas boas e sentimentos que nos elevam,de alguma forma. Mas há ocasiões em que a perplexidade invade todos os espaços, principalmente nossa humanidade e sobre o sentido de ser, afinal, humano.
Meu irmão me liga nesta manhã, eu ainda dormindo, e diz: "tu nem vai acreditar,mas vê na televisão o que estou vendo ao vivo. " Corri e vi a notícia: um homem(?) e sua mulher(?) assassinaram uma família inteira com golpes de facão. Crianças de 2, 6 e 10 anos foram mutiladas. Uma delas se escondia no guarda-roupa quando teve as mãos decepadas pelos assassinos. Eu realmente não consigo entender até que ponto vai a maldade humana.
Não estou dizendo isso de modo clichê ou com aquele lamento inútil dos que "não tem nada a ver com isso". Como já disse outras vezes aqui no blog, vivo preocupada com a perda dos valores, dos significados,dos propósitos, do respeito à dignidade de uma pessoa. Mais que apenas preocupação, tento agir de modo coerente com o que acredito. E os mais primordiais ensinamentos sobre respeito ao próximo (não apenas vindos das pregações de Jesus, mas de muitos mil anos atrás, quando os antigos filósofos lembravam de não fazer com o outro o que não gostaríamos que fizessem conosco) estão sendo esquecidos, execrados, inutilizados por um mundo onde mais vale o bem próximo do que o bem do próximo, sempre.
O que Zygmunt Bauman fala sobre a "sociedade líquida", dos tempos líquidos, de tudo o que hoje se perde na fluidez dos tempos, em que nada é duradouro e propósitos sólidos são diluídos, é inteiramente verdadeiro. Basta ver o motivo dessa chacina. Qual foi? Bem, o algoz da família dissolvida não sabia o que explicar. Disse apenas que dias antes, havia partilhado uma galinha com a família assassinada (eles eram vizinhos) e ele e sua mulher haviam ficado com os pedaços menos nobres da ave.
Eu, realmente, não consigo suportar fatos como esse. E muitos dirão: mas o que sua indignação aqui no blog muda as coisas? Pode ser que realmente, não mude nada. Mas, apenas contemplarmos todos os dias o mal, como as pessoas sofrem, como a inação é permanente, e dizer que nada podemos fazer é uma desculpa fraca e pouco convincente, até mesmo para nós mesmos. Como o próprio Bauman diz: "Não há como negar que em nosso planeta abarrotado e intercomunicado dependemos todos uns dos outros e somos, num grau difícil de precisar, responsáveis pela situação dos demais; enfim, que o que se faz em uma parte do planeta tem um alcance global. "
Concordo com ele. E digo que não vou me acostumar nunca a notícias como essa. Vou continuar alertando a mim e aos que me são próximos para enxergarmos além do nosso próprio nariz, retirando o poder que a individualidade assume hoje para, ao menos alguma vez, nos preocuparmos com quem está ao nosso lado. Nossas crenças individuais não podem suplantar o respeito à vida humana, à dignidade do outro, à correlação existente entre o meu bem-estar e o seu. Podemos até não modificar coisa alguma no mundo, mas, por favor, não vamos, nem podemos, nem devemos deixar que o mundo nos modifique a ponto de sermos apenas mundanos, e não verdadeiramente humanos.
2 comentários:
não sei dizer se é a morte ou a vida que está sendo banalizada... mas me dá medo saber que existem pessoas frias e desumanas a esse ponto.. de fazer o que fez, e chegar em casa tomar um banho e voltar a dormir...
Não sei onde vamos parar... não sei...
É claro que sua indignação e apelo ao mesmo tempo são válidos. O que mos visto ultimamente são pessoas que por estarem " se acostumando" com tais notícias , já não se chocam mais com tanta maldade. Como tudo está cada dia pior, a sensação que se tem é que daqui uns breves dias, só será "pauta" de jornal como barbárie atos como , por exemplo,genocídio. Isso é reflexo,entre outras coisas,da decadência moral de nossa civilização. (?)
Mas creio que temos vivido os últimos instantes dessa era ( e que passe logo) e em muito em breve teremos em nosso lindo planeta azul apenas pessoas tendentes ao bem.Perfeitos ainda vai demorar um cadinho.Mas pelo menos tendentes ao bem.Quem tiver olhos verá.
Abr.
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