segunda-feira, 8 de junho de 2009

"Não sou feliz,mas tenho namorado"


Aos que já viram a peça "Não sou feliz, mas tenho marido" (cuja autora é minha xará argentina, Viviana Goméz) me perdoem pegar esse título emprestado, mas acho a idéia simplesmente genial. Ainda não vi o monólogo, mas me permito tecer algumas considerações sobre o que tenho visto por aqui: ter um namorado (noivo, peguete ou tantas outras derivações) às vezes é mais uma forma de ter sucesso perante os outros do que verdadeiramente se sentir feliz.

Observo muitas mulheres infelizes com as relações que tem, mas que não abrem mão de jeito nenhum de ter um parceiro, por mais "tampão" que ele seja. É como se servissem apenas para mostrar à platéia: "olha só, tem alguém que me quer" e incutir nas solteiras-sozinhas uma idéia de fracasso que, definitivamente, é estúpida.Mas existe. E o pior: surte tanto efeito, mas tanto efeito, que por vezes, vejo mulheres maravilhosas que deviam ter um parceiro à altura, se contentando com um brucutu qualquer que acham que período fértil é assunto de agricultor.

Eu entendo perfeitamente que medos existem,e talvez o mais comum entre eles seja o medo da solidão. Mas não consigo classificar namoros estéreis como tentativas de fugir de tal receio porque eles conseguem transformar o medo em realidade: ter apenas um "namorado" pode ser muito mais solitário do que ser solteira.

E é fácil perceber o quanto mulheres (e homens) caem nesta armadilha. Basta uma olhadela em um shopping. Vemos casais que não se olham, não se tocam.Mulheres cansadas de ouvir seus companheiros, como se eles fossem um fardo, uma "cruz que deve ser carregada" como tantas dizem. Homens que não se cansam em adiar noivados, casamentos, por simples medo de terminar a relação e não encontrar "uma mulher direita", ou então correr o risco de que outro saiba valorizar a mulher por quem já não sentem paixão alguma.

Não jogo pedras nesse tipo de comportamento simplesmente porque sei que é uma atitude quase isenta de culpa. Se todos dizem que "é impossível ser feliz sozinho", o que todo mundo quer é encontrar alguém para amar e se sentir amado, como pressuposto de felicidade.

Mas é nisso que devemos focar: na felicidade. E não digo que relacionamentos são garantia de felicidade permanente, porque, definitivamente, não são. Mas alguns nos proporcionam uma possibilidade concreta de nos sentirmos melhores, a partir do olhar do outro sobre nossas belezas ocultas. Isso é o que todo mundo busca, e com razão. O que não podemos, de jeito nenhum, é nos conformar com uma tentativa, porque ela é só uma tentativa!

Ouço muitas frases do tipo: "Não tenho coragem de entrar pro mercado de novo, ter que ir pra balada, conhecer, esperar um tempão de namoro de novo..." ou "Vou casar com esse mesmo, porque hoje em dia homem bom tá difícil" ou a clássica "quando a gente casar, melhora". E o resultado, a gente já prevê..."Não sou feliz, mas tenho marido". E se já era difícil terminar um namoro, imagine um casamento...e lá se vem filhos, responsabilidades, e o tempo se encarrega de nos perguntar um dia: "Mas o que foi que você fez?". Aquelas pessoas a quem queríamos impressionar não pagaram a pena. Fomos nós. A vida era uma só, e não nos demos conta disso.

Fizemos escolhas esperando ser felizes no futuro, e no trajeto, fomos infelizes. E o pior: a felicidade dos romances medievais não veio. Valeu à pena?
Mulheres esperam, homens também. Mas são esperas diferentes. Mulher espera se apaixonar pelo mesmo homem de novo. Busca que ele queira isso e faça surpresas, transforme-se, e vai levando a relação esperando o milagre do encantamento acontecer de novo. Homem, nesse estágio de tédio, só espera uma nova paixão. E basta aparecer uma mulher que lhe devolva os batimentos cardíacos para ele ter coragem de acabar a antiga relação. Eu sei que parece simplista, mas é assim que acontece. E de um jeito ou de outro, alguém sofre, por algo que poderia ser evitado.

Ser solteiro não significa, de modo algum, ser só. Não falo de "ficantes" que sufocam a solidão, e sim de nós mesmos, de descobrir nossas próprias belezas, de nos apaixonarmos por tudo aquilo que é bonito em nós e não tínhamos tempo para perceber, simplesmente porque nos acostumamos a ouvir do outro. Talvez as melhores relações venham justamente com o auto-conhecimento, que nos permite não termos mais medos nem inseguranças, pois já sabemos do quão somos valiosos.

Quando a gente aprende a tirar o cascalho e ver que por debaixo dele,há uma pedra valiosa, não temos mais que nos submeter a preços de bijouterias. Já sabemos do nosso valor e só aceitaremos ser levados por quem souber nosso preço, por quem tiver o trabalho de pegar uma lente e examinar cada detalhe nosso que faz de cada um de nós uma peça rara e valiosa.

Que o dia dos Namorados seja mais que uma data comercial. Seja o dia em que você examine,com cuidado,se antes de ter alguém do lado, você está enamorado de si mesmo. E se tiver alguém, se ele é mesmo "namorado", se tem "amor" no meio. Se estiver solteiro, aproveite para se tornar a pessoa que você quer encontrar.

Por fim,esqueçamos tantos medos.

Porque medo maior é mesmo o de não ser feliz!

4 comentários:

Felipe disse...

Concordo 101% contigo! Essas datas são 101% ( ou mais) capitalistas. As pessoas mal têm grana pra comer, vestir, mas se deixam levar pela onda afinal de contas dia dos namorados tem que ter presente...


Quanto à idéia central do texto: bom, quem foi que disse que para sermos/estarmos felizes temos que necessariamente estar com alguém? Mas ouvimos isso sempre.Aprendemos desde cedo que a solidão é triste e cruel...E crescemos sendo cobrados socialmente que entre outras coisas temos que ter/estar com alguém, sob pena de nos olharem e nos condenarem a coitados/problemáticos e etc.

As pessoas precisam aprender urgente a namorar consigo.É mil vezes preferível um momento sem cobranças de tempo pra si mesmo, pra nossas coisas e outras investidas na vida, do que ter alguém do lado apenas pra "chamar de seu". Isso é tão complexo...

E realmente as pessoas não estão dispostas a enxergar além do que se vê, porque somos produto/sub produto de toda uma pseudocultura que valoriza o que é descartável, momentânio, tudo em nome da moda, do paradigma, da hipocrisia.

Mais uma vez, parabéns moça!

Samelly Xavier disse...

li seu blog por acaso. seu texto é enorme e delicioso de ler... e concordar com você é obviedade demais pra eu dizer, embora jpa tenha dito..rs

abraços recitados

yve disse...

qndo eu tiver outra coisa pra dizer do seu blog prometo dizê-lo, mas por enquanto continuo sempre falando a mesma coisa: concordo sempre com vc! como é q pode??? hehehe bjos.

Anônimo disse...

fiquei muito felis em ler isso vc esta coberta de rasao queria que o mundo fosse assim