domingo, 11 de setembro de 2011

"Você precisa ser forte"

Eu me lembro que quando eu fui, pela primeira vez na minha vida, para uma "recuperação" no Colégio, foi na disciplina que eu mais odiava: Educação Física. Não pelo fato de eu ser sedentária ou algo parecido,já que até os meus 17 anos eu fazia parte da vencedora equipe de nado borboleta da Paraíba, mas porque eu odiava minhas pernas finas e meu quadril não-desenvolvido, e era obrigatório o uso daquele short horroroso da escola. Aquela pequena roupa azul denunciava explicitamente tudo o que eu mais detestava em mim, e o pior: a denúncia também era feita para as meninas que eu mais detestava das outras turmas. Enfim, o fim do mundo para uma adolescente típica (e eu era típica messsmo, do tipo de falar "que saco!" para tudo).
Diante da notícia que eu poderia simplesmente repetir de ano por causa de uma matéria que eu considerava a mais inútil de todas, fui conversar, implorar, suplicar, e argumentar com a professora Fabíola, que ao mesmo tempo me amava e me odiava por odiar sua aula (Fabíola querida, não eram as abdominais que me faziam sofrer...), sobre o que eu poderia fazer para passar sem ter que passar pelos meus medos. Um trabalho sobre o corpo humano, mil provas sobre articulações, ossos, sei lá. Quando eu desisti de tentar convencê-la, ela simplesmente me passou uma série de exercícios, incluindo uma série para bíceps e tríceps com bastante peso, e diante da minha relutância, ela simplesmente disse "Você precisa ser forte". Como um esboço do Capitão Nascimento, a professora queria que eu desenvolvesse meus músculos e deixasse de fazer corpo mole.
Levei tão ao pé da letra que acho que durante toda a minha vida eu repeti para mim mesma essa frase da minha professora. Mesmo quando a dor- física ou espiritual- me consumia, eu sempre dizia a mim mesma: "Você precisa ser forte". Foi com esta atitude que passei nestes últimos dias por maus momentos com meu marido, que está sofrendo desde o último domingo, quando as dores dele começaram, assim como nossa peregrinação por hospitais, médicos e diagnósticos. Na quinta-feira, enfim, ele foi submetido a uma cirurgia de emergência de uma apendicite aguda, já supurada em virtude da demora no diagnóstico. Ele teve complicações, e o pós-operatório está sendo doloroso e difícil. Não dormimos há uma semana. Quando ele tira um cochilo de uma ou duas horas, eu aproveito para estudar tudo sobre a doença, vídeos de cirurgia, antibióticos, tudo que possa me esclarecer sobre o que está acontecendo com Elias.
Não estou dormindo, não tenho vontade de comer, nem de me olhar no espelho. Só penso nele e no seu bem-estar, se o soro acabou, se a barriga continua distendida, se a sonda está funcionando direito. Às vezes eu nem me lembro que eu, Vivianne, existo. E de repente, eu paro e descubro o que, enfim, é o amor. O Amor de verdade, que não ama para si, mas para o outro. Quando me pego de joelhos, enxugando os pés do meu marido após lhe dar um banho, eu penso em quanta coisa o Amor é capaz de fazer. E o quanto nossa visão sobre a vida pode mudar radicalmente de uma hora para outra. Estou, por exemplo, torcendo para que Elias possa soltar um pum. Sim, eu odiava isso. Mas agora só o que eu quero neste momento da minha vida é que meu marido possa soltar os gases que estão o impedindo de respirar direito.
Ontem foi um dos piores dias da minha vida, em que tive um medo real, quase palpável, de perder meu companheiro. Quando esse medo não me largava mais, mas ao mesmo tempo, a fé me segurava, eu repetia comigo a frase de Fabíola- "Você precisa ser forte"- e esse mantra me fez ficar alerta durante todo o dia, observando tudo e em plena atividade de 'enfermeira-chefe'. Mas quando chegou a noite, o médico não deu bons prognósticos, e a chuva caiu torrencialmente sobre o terraço do Hospital, eu olhei para uma grande nuvem que passava no Céu e perguntei a Deus quando aquela tempestade ia passar. Ali mesmo, naquele banco do terraço, eu fechei os olhos e tive uma visão muito bonita de Nossa Senhora, me dizendo : "Você não precisa ser forte". Chorei incontrolavelmente durante uma hora. Depois, fui pra Capela, rezei mais, entreguei Elias nas mãos de quem sabe o que fazer, falei com algumas pessoas queridas no telefone, desabafei e voltei ao quarto. Coloquei uma pequena imagem de N.Sra.de Fátima nas mãos de Elias, falei pra ele conversar com Ela, comi uma coxinha (enfim, um prazer!) e voltei. Ele tinha adormecido. Depois de algumas horas de sono, ele tinha mudado completamente. Estava bem mais sereno, pediu para ir ao banheiro e fez xixi, depois de quase um dia inteiro sem urinar.
Nesta hora eu chorei. Senti que eu, enfim, tinha deixado que Deus assumisse o controle e que tudo daria certo. Esqueci a frase de Fabíola e aliviei meu coração pensando apenas em Nossa Senhora me lembrando a todo tempo que eu não preciso ser forte. Pelo menos, não preciso ser forte sempre. :)


p.s: Mais sobre a história de N.Sra.de Fátima- http://www.quiosqueazul.com.br/2009/05/nossa-senhora-de-fatima.html.

4 comentários:

Ana Cecília disse...

Choro engasgado...
Que Deus e Nossa Senhora abençoem cada vez mais vcs, Vivianne. Essa tempestade irá passar sim, pois vc sabe que agora está no controle das mãos certas. Descanse e Confie!
"Agrada-te do Senhor e Ele satisfará aos desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele fará." (Sl.37)

Um beijo enorme.

Luana Magalle disse...

Sem dúvidas, vc não precisa ser forte sempre e pode contar comigo pra dividir tb as fraquezas.

Amo-te!

E lembre-se: "Quando a noite esconde a luz, Deus acende as estrelas"

Mylenne disse...

É, a gente nunca imagina que vai passar por uma provação dessas. Nem eu, que vejo isso sempre...Tem hora, que o sofrimento alheio, passa a ser alheio mesmo, ou porque a gente esquece o que é isso, ou por a gente não poder fazer mais nada.
Mas quando a dor é nossa, nada é maior que a nossa dor, e eu nem sei e nem quero saber (ou sentir) isso tudo que vc está passando. Dá até uma agonia de pensar. Porque não deve estar sendo fácil!
Aqui de fora há várias e várias pessoas que sabem e imaginam o que vc está passando e estão rezando em qualquer religião que tenha, torcendo, tendo pensamento posito, enfim, tudo o que possa ser feito para interceder por Elias e por vc também, pois ele precisa do seu amor.
Espero que cada dia seja uma vitória.
Bjos

Alice In Town disse...

NOssa, tive que ler esse texto aos poucos, chorar no trabalho não pode.

Deus está comv vc e todos os pensanmentos positivos tb. Estamos na torcida :D

Vai dar tudo certo! depois quero conversar contigo, quando a tempestade passar.

Em dezembro tô aí.
bjs e qualquer coisa, grita.
bjs

Mari