segunda-feira, 15 de novembro de 2010


O POETA E A ROSA - E com direito a passarinho
(Vinicius de Moraes)

"Ao ver uma rosa branca
O poeta disse: Que linda!
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda!

Qual não é sua surpresa
Ao ver, à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação.

É que a rosa, além de branca
(Diga-se isso a bem da rosa...)
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa.

– Que foi? – balbucia o poeta
E a rosa; – Calhorda que és!
Pára de olhar para cima!
Mira o que tens a teus pés!

E o poeta vê uma criança
Suja, esquálida, andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência à rosa.

– São milhões! – a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu, na tua vaidade
Querendo usar do meu nome!...

E num acesso de ira
Arranca as pétalas, lança-as
Fora, como a dar comida
A todas essas crianças.

O poeta baixa a cabeça.
– É aqui que a rosa respira...
Geme o vento. Morre a rosa.
E um passarinho que ouvira

Quietinho toda a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda faz um cocozinho
Na cabeça do poeta."

p.s: Apesar da imagem remeter ao Fernando Pessoa, o poema é do Vinicius de Moraes.

2 comentários:

Alberto disse...

Eu sei que demorei, mas encontra-se tudo explicado... Presenteie-me com uma visitinha.

http://albertofontescarvalho.blogs.sapo.pt/

Vivianne disse...

Nunca tinha visto alguém dedicar um post inteiro só a mim. Muito obrigada, Senhor Alberto. Espero, sinceramente, que o senhor tenha se recuperado do coma de 2 meses em virtude de um pontapé. É uma grande vitória para o senhor.

No que concerne ao meu blogue, reafirmo tudo que já lhe respondi, e não o farei novamente simplesmente por acreditar que sua instrução lhe faz merecedor de algum crédito no que se refere a interpretação de textos.

Não sei bem se lhe faltou atividades mais interessantes a lhe fazer , para que, depois de quase três meses, o senhor ainda lembre do meu blogue "pseudo-cultural-intelectual-mongolóide-esquizofrênico-burro-narcisista-pedante" ou qualquer outro adjetivo gentil com que o senhor queira nomeá-lo.

Não falo por quem comenta no meu blogue, falo apenas por mim, e sinceramente, o melhor elogio que alguém queira me dar não é me chamar de "bonita, inteligente e culta", muito pelo contrário. Elogios corrompem e nos dão uma ideia falsa de quem somos. O único elogio que realmente me ocupa é o sorriso de Deus. O resto, eu só posso agradecer educadamente, assim como as pedras que o senhor me jogou e parece que ainda tem muitas, contra muitas outras pessoas. As minhas eu guardarei, não se preocupe. Mas elas não me aprisionam. Neste ponto, temos algo em comum: Não nos acovardamos com quem não nos compreende.

Um abraço fraterno,

Vivianne Freitas.