
Eu não tinha escrito ainda sobre as chuvas que assolaram parte do Nordeste porque esse assunto me causa uma revolta que me impede de escrever. As palavras me faltam. Elas escapam, sendo engolidas pelo mar que se alastrou pelo Sertão pernambucano e alagoano. Mas a revolta não é da água, é do Brasil. Sempre que acontecia uma tragédia como a de Santa Catarina, no ano passado, e a do Haiti ou Niterói-RJ, eu ficava pensando: "Deus proteja o Nordeste, porque se isso acontecesse por aqui, a conversa era outra". O destino é mesmo cruel. Aconteceu: "O Sertão virou mar", e segundo minha avó, é o fim-do-mundo. Eu concordo. Mas discordo das datas: o mundo já teve fim faz tempo.
No mundo que teve fim, as pessoas tinham dignidade.
A tragédia que se anuncia só teve destaque porque é algo "sobrenatural" e dá ibope. O que é natural, que é o povo do sertão nordestino passar fome, é natural. É notícia de segunda linha. O que é natural é ver as terras de Renan Calheiros e Fernando Collor serem fábricas de votos, do povo flagelado e mendigando alguma esperança.
Natural é ver Pernambuco arder em terras secas, enquanto verbas do Ministério da Integração Nacional correm todas para a Bahia, onde o Presidente tem aliados políticos. Natural é ver um deputado dizer em um programa de tv (CQC,Band/28/06) que não sabe quais são os Estados atingidos pela calamidade e quando respondido, indagar: "E Pernambuco e Alagoas não são a mesma coisa?". Tudo isso é bem natural para nós. Ver a seca e a falta de trabalho, dignidade e esperança dos sertanejos é coisa ultrapassada, over. O que ninguém esperava mesmo é ver o mar no Sertão. Ninguém esperava que a natureza tivesse a força que imprensa nenhum nunca teve para denunciar tudo o que falta no mundo, e fica embaixo do tapete da hipocrisia.
A Copa do Mundo veio mesmo a calhar: é a desculpa perfeita para a nossa nação de distraídos.
No mundo que teve fim, as pessoas tinham dignidade.
A tragédia que se anuncia só teve destaque porque é algo "sobrenatural" e dá ibope. O que é natural, que é o povo do sertão nordestino passar fome, é natural. É notícia de segunda linha. O que é natural é ver as terras de Renan Calheiros e Fernando Collor serem fábricas de votos, do povo flagelado e mendigando alguma esperança.
Natural é ver Pernambuco arder em terras secas, enquanto verbas do Ministério da Integração Nacional correm todas para a Bahia, onde o Presidente tem aliados políticos. Natural é ver um deputado dizer em um programa de tv (CQC,Band/28/06) que não sabe quais são os Estados atingidos pela calamidade e quando respondido, indagar: "E Pernambuco e Alagoas não são a mesma coisa?". Tudo isso é bem natural para nós. Ver a seca e a falta de trabalho, dignidade e esperança dos sertanejos é coisa ultrapassada, over. O que ninguém esperava mesmo é ver o mar no Sertão. Ninguém esperava que a natureza tivesse a força que imprensa nenhum nunca teve para denunciar tudo o que falta no mundo, e fica embaixo do tapete da hipocrisia.
A Copa do Mundo veio mesmo a calhar: é a desculpa perfeita para a nossa nação de distraídos.
p.s: Quem quiser ajudar as vítimas das enchentes, me mandem um recado, pois estamos reunindo donativos e voluntários para fazer alguma coisa por toda essa gente.
p.s2: A foto aí embaixo não é nova, é da enchente de 1969. Parte dos desabrigados foram alojados em um cadeia pública e lá permanecem até hoje, à espera de casas populares prometidas a cada campanha.
