sábado, 12 de abril de 2008

Sonhos


Eu andava ontem pelo centro de Campina quando,entre um pensamento e outro, ouço uma voz dizendo: "Olha o SONHO...sonho novinho, por R$0,50...". Parei e comecei a rir. Não resisti e fui lá ver o sonho da vendedora, e perguntei, rindo: "ô, moça, e sonho não é de graça não?". Ela e eu sorrimos, cúmplices de uma verdade que muita gente nem sabe.


Nestes últimos tempos os meus antigos sonhos transformaram-se em realidade. E para minha surpresa, sonhos alcançados nem sempre trazem consigo a felicidade como item obrigatório. Muitas vezes supomos que determinadas conquistas irão transformar a nossa vida, nossa alma, tudo irá resplandecer em um estado de alegria plena. Puro engano. Tudo está mesmo por ali por dentro, determinando o que somos, não importando muito as circunstâncias externas. Dizem que ganhadores de loterias voltam ao seu estado de espírito habitual depois de 3 meses de euforia. Hoje, acredito que é assim mesmo. Coloquei meus sonhos em uma perspectiva tão maior, que hoje posso perceber que a ilusão maqueia muito do que podemos usufruir hoje mesmo, sem esperar muito, sem lutar tanto, sem tanto esforço ou imaginação. É preciso mensurar melhor o valor de quem somos, do que vivemos hoje, sem que isso pareça piegas ou quem sabe, uma fuga de uma realidade não solícita.Por outro lado, há também a incapacidade prática de atingir na vida real o que se imagina. E aí reside a angústia, em não alcançar a "vida ideal". Nunca havia percebido a profundidade dos versos do Fernando Pessoa quando ele falava



"Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre-
Esse rio sem fim."

Hoje vejo como o poeta português tinha razão. O rio por onde a vida passa, muitas vezes corre sem que possamos mudar a correnteza. O rio do poema é toda aquela sucessão de eventos contínuos, que se contrapõe ao que sonhamos um dia...Para Pessoa, esta é uma realidade angustiante. Para mim, é apenas a realidade. Não adianta "sonhar" tanto sem "mergulhar" no "rio"... É preciso mais que R$ 0,50 para ter um novo sonho. Antes de sermos nefelibatas, é preciso que saibamos do valor do presente, dos sonhos vividos, da realidade quimérica tantas vezes vivenciada e poucas vezes percebida.

Vi aqui na internet que, curiosamente, ou talvez não, na mitologia grega, depois da morte, de a vida ser cortada pela moira Atropos, a sombra do morto era conduzida às margens de um rio, guardado por Caronte, o barqueiro do Aqueronte. Acho que Fernando Pessoa deve ter se inspirado nessa história. Seja como for, vamos mergulhar logo na vida, antes que o rio passe...

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande Vivianne! Pra variar, asorei o texto e fiquei morrendo de vontade de comer um sonho, igual a esse aí, da imagem...rs
Bjão

Lucas Peixoto disse...

É, parece nós temos que ter cuidado! Claro que nunca devemos deixar de sonhar, mas não podemos esquecer de aproveitar e valorizar o que já conquistamos! abraço!!

PSICO_SINCRONICIDADE disse...

Vivi, vc inspira ao escrever viu moçinha! vai loooonge! bjaooo adorei!
dra. Karina Simões