quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal


Eu só tive um Natal marcante nesses 26 anos de vida. Eu tinha 7 anos, e ainda acreditava em tudo, até em Papai Noel. Naquela noite, porém, meu pai colocou uma barba postiça e enchimento na barriga para encher a roupa do velhinho e nos entregar presentes. Eu tinha pedido uma Barbie e ansiava desesperadamente pela meia-noite. Lembro de nos anos anteriores eu ter tentado esperar encontrar o Sr.Noel e receber o presente em mãos, e aproveitar para tirar uma foto com minha máquina de brinquedo, que eu achava que funcionava. Nunca consegui ficar acordada. Mas, naquele ano de 1990, decidi que receberia minha Barbie do próprio Papai Noel e ponto final. Só que eu não contava com meu pai fantasiado.

Logo que ele chegou, nós, crianças, começamos a gritar de emoção. Eu fiquei meio cabrêra porque olhei bem nos olhos do pseudo-velhinho e vi os olhos do meu pai: pretinhos, pequenos, rasgados, que eu olhava toda noite quando papai me respondia minhas milhares de dúvidas sobre o mundo. Aliás, a resposta mais importante das mil perguntas foi quando eu soube que tinha tirado um 5,5 em álgebra e não consegui dormir pensando na surra que eu ia levar. Chorando, perguntei a meu pai se ele ainda gostaria de mim se eu tirasse nota baixa, e ele disse que jamais deixaria de me amar, não importa o que acontecesse. Lembro que fui dormir o melhor sono que já tive.

Bom, lágrimas à parte, eu olhei nos olhinhos de Papai e descobri, aos 7 anos, que Papai Noel não existia. Era uma farsa. Não apenas porque meu pai tinha acesso fácil a suas roupas, mas, sobretudo, porque ganhei de Natal uma "boneca Biluca" e não uma Barbie. Ainda guardava a esperança de acordar com meu verdadeiro presente, mas a Biluca não se transformou na princesa Barbie após a meia-noite.

Fui pedir explicações ao meu pai e ele me contou meia-verdade. Disse que tinha se endividado e não pôde comprar minha Barbie, mas que compraria no meu aniversário. Disse ainda que Papai Noel tinha mandado comprar o que eu queria, mas como papai estava liso, só pôde comprar a Biluca. Eu lembro que disse:
"-Papai, não precisa mais mentir. Papai Noel não existe, porque se existisse o filho de Zefinha ( a menina que trabalhava na minha casa) tinha ganho a bicicleta que ele pediu, e ele não ganhou nada."

Hoje, passados 19 anos dessa data, ainda me surpreendo com minha desesperança com o Natal. Fico triste e sempre penso na imensa multidão de pessoas que perceberão que Papai Noel não existe. Não ganharão presentes, e sim, sobras. Os meninos sonharão com bicicletas e meninas com Barbies, e sequer ganharão Bilucas. Mas, não fico triste por Papai Noel não poder atendê-los. Fico triste por eu não me vestir do bom velhinho, ainda que invisivelmente, e concretizar sonhos infantis por aí. Meu pai, agora há pouco, foi nos Hospitais Padre Zé e Laureano, distribuir as roupas que tínhamos separado. Também comprei algumas bolas de futebol para os meninos dos sinais. Mas me sinto uma ameba por não viver o sentido do Natal todos os dias.

Jesus nasceu e todo ano ele renasce de novo, nos corações de manjedoura que existem pelo mundo. Durante o resto do ano, Ele permancerá ali, caso o acolhamos. Mas eu não consigo. Expulso o menino Jesus cada vez que penso só em mim, nos meus desejos menores, dentro do meu egoísmo e do meu mundo pequeno. Ponho Jesus pra fora cada vez em que compro presentes para um monte de gente e não ajudo com uma moeda sequer aqueles que estão nos sinais, debaixo do sol, e não recebem ajuda de ninguém. Não enxergo Jesus nas crianças doentes, nem vou visitá-las. Não cuido de Jesus através dos mais humildes. E diante disso, como celebrar o nascimento daquele que nós abandonamos?

Mas eis que Joelma, mãe de Jamyle, uma menina com síndrome de Guillan-Barré que tenho o prazer de ajudar há 4 anos, me manda uma mensagem de agradecimento pelo presente de Natal que mandei:

"Vivi, obrigada por fazer Jamyle agradecer a Deus pelo Natal. No fim, o que precisamos é de anjos, que estão com a gente o tempo todo, e não de papai Noel que só aparece uma vez por ano. Que Jesus esteja com você neste Natal."

Minha angústia de não poder abarcar sozinha as dores do mundo se transforma em alívio por saber que posso fazer alguma diferença, mesmo que seja mínima, para alguém. Acredito que posso, sim, acolher Jesus dentro do meu coração e fazer com que Ele permaneça lá.

Que Jesus possa hoje, transformar cada leitor deste blog em anjo, e que Papai do Céu tome emprestado a roupa do Noel e dê de presente a cada coração do mundo um pouco mais de caridade e esperança. Que o nosso ano novo seja cheio de bondade, amor e paz. Que cada um possa fazer a diferença na realidade que lhes cerca. E que esta prece seja atendida, antes da meia-noite.


Feliz Natal para todos!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009


Assisti hoje "É proibido fumar", com Glória Pires, ótima como sempre, e Paulo Miklos, ótimo como nunca, no elenco. O filme conta a história de uma típica solteirona que vê no vizinho que acaba de se mudar, a chance de voltar à vida- ou ter uma.

A soma de elementos cotidianos reais (nunca vi um filme retratar tão bem o motivo de uma mulher voltar a se depilar, e de como uma mulher muda o figurino quando está apaixonada), com uma dose de irrealidade plenamente aceitável (se pode morrer das mais variadas bizarrices), torna o roteiro rápido, leve, bem-humorado e sobretudo, humanizado, cheio de sutilezas.

A gente começa a perceber qual vazio o cigarro preenche na vida da protagonista, e a ver como relacionamentos podem ser concebidos de forma oposta por homens e mulheres, e ao mesmo tempo, ver que muitas vezes, o medo de ficar só nos faz menos éticos.

Enfim, adorei o filme, principalmente a trilha sonora, deliciosa, cheia de Jorge Ben Jor...

Ah, ah, ah, que nega é essa
Prendada e caprichosa
É a nega que eu espero
Pra acabar com a minha solidão




domingo, 13 de dezembro de 2009


Ninguém devia morrer sem ter ido ao show de Nando Reis ao menos uma vez na vida.E ficar até o fim, o que não é pra qualquer um, diga-se, porque o cara é um fenômeno : cantou 3h sem parar. Eu estou sem voz, mas ainda consigo escrever...

Essa música eu não conhecia. É linda.


"Ainda não passou"


Triste é não chorar
Sim eu também chorei
E não, não há nenhum remédio
Pra curar essa dor
Que ainda não passou
Mas vai passar!
A dor que nos machucou
E não, não há nenhum relógio
pra fazer voltar... O tempo voa!
Triste é não chorar
Sim eu também chorei
E não, não há nenhum remédio
Pra curar essa dor
Que ainda não passou
Mas vai passar!
A dor que nos machucou
E não, não há nenhum relógio
pra fazer voltar... O tempo voa!
Eu não suporto ver você sofrer
Não gosto de fazer ninguém querer riscar o seu passado
E o que passou, passou
E o que marcou, ficou
Se diferente eu fosse será que eu teria sido amado?
Por você, por você

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um dia alguém me disse
que era pra eu crescer
que assim não podia ser
que eu precisava padecer
para chegar ao Paraíso

Um dia alguém me disse
que era pra namorar
e que mesmo sem amar
eu deveria me casar
antes do segundo sol

Um dia alguém me disse
que só se ama uma vez
que devo acordar antes das seis
que o salário não dá pro mês
E que eu devia ganhar mais

Um dia alguém me disse
que eu não era bonita
que eu não estava bem na fita
que eu tomei mais margueritas
E que falei o que não podia

Um dia alguém me disse
que eu precisava ter isso
e aquilo, e depois disso
virei alguém que sempre escuta

o que alguém disse.

E decidi falar
o que estava na minha telha
debaixo da cadeira
em cima do edredom
tudo meio desarranjado
tudo meio esculhambado
e saindo do tom

Comecei a dizer
que eu não precisava padecer
que o paraíso era mais perto
que a cidade não é deserto
que eu podia sentir prazer
em ser, em viver, em ensurdecer
para as coisas que
alguém me disse.