quarta-feira, 29 de abril de 2009

Minha gripe de sempre resolveu que também quer viajar comigo. Quer conhecer a última moda de NY, a gripe suína. E eu tô lascada de febre. Parabéns.


p.s: Será que essa gripe foi causada pelo aumento do número de "espíritos de porco" no mundo?

Pode ser.

domingo, 19 de abril de 2009

Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras . Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. [...] Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras : ninguém desconfia do meu hemafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa .Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada . Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha . Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos . [...]

(Martha Medeiros)

domingo, 5 de abril de 2009

Eu não sei como ela consegue entrar dentro de mim e extrair tudo e me expor de um jeito tão cruel, mas a escritora Martha Medeiros faz isso. E esse texto é muito significativo pra mim. Aliás, a verdade das coisas sempre significa muito...


" O GRITO

Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio. Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar este grito com conversas tolas, elocubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.
Eu não sei por que sou assim.
Sabe."

Martha Medeiros

Não sei se já tinha comentado aqui, mas dia desses eu vi "Quem quer ser um milionário?" e adorei. Achei que no início, era cópia de Cidade de Deus,mas depois o filme se mostra mais ameno, como se não fosse seu propósito denunciar uma realidade social, e sim apenas entreter . Além disso,o filme é quase um conto de fadas, só que construído com elementos da realidade e tem um "Cinderelo", diferente dos "fairy tales" tradicionais. Independentemente do final feliz bem clichê (e confesso que adoro), vi todos os motivos pro filme ter ganho o oscar. Sem falar que o roteiro é muito bom, excitante, fiquei grudada na tela, acompanhando cada cena com uma certa agonia e como se o Jamal me escutasse gritar: "vai, corre!". E fora que a trilha sonora é impagável. Nunca vi mais de um capítulo de "Caminho das Indias", mas é inegável que a India é um país que seduz. Li "Comer,Rezar e Amar" e adorei o tempo em que a autora passou em um ashram na Índia. Espiritualidade exacerbada, pobreza e riqueza, danças e rituais fazem do País um lugar instigante. Aliás, depois vou comentar aqui o que achei do livro. Só adianto que é meu livro de cabeceira, literalmente.






p.s: Ah, e me sinto extremamente lisonjeada por receber notícias de leitores deste blog. Isso é meio inimaginável, mas como acontece, eu só posso agradecer, de verdade!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Drummond.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta ?
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?