domingo, 30 de setembro de 2007

"Acasos"

A vida tá meio me levando, embora eu prefira quando eu mesma a levo. Por isso a ausência nesse blog. Estou repensando as escolhas, fazendo um "efeito borboleta" dentro da cabeça e pensando no monte de possibilidades que a vida nos oferece. Como diria Mário Prata, 'indecisão é quando você sabe exatamente o que quer, mas acha que deveria querer outra coisa". Na verdade, não me sinto indecisa, me sinto perdida mesmo! É que Deus às vezes é complicado demais de entender (ou eu sou ignorante o suficiente para não observar as respostas), e eu não sei direito o que Ele pretende fazer na minha vida. O que sei é que acredito piamente que Ele está me conduzindo e me dando pistas que se disfarçam de acasos. Como diria aquele pensador francês que não lembro o nome, "o acaso é o Deus dos idiotas", e eu não acredito nele.
Sexta-Feira, por exemplo, passei o dia resignada por não ir para o show de uma das minhas cantoras favoritas, Vanessa da Mata. Comecei a estudar e a sensação de incômodo foi tão grande que só desanuviou quando falei:"Tá bom, eu vou e pronto!". Pedi para minha mãe comprar o ingresso e horas depois...ela me liga, dizendo que os ingressos tinham acabado. Não tem jeito, parece que quanto mais difícil, mais me atrai e claro que, com essa informação, só peguei a chave do carro, do jeito que eu tava mesmo e fui atrás do bendito ingresso, só de pirraça, para mostrar ao destino quem é que estava no comando!
Quando cheguei lá, os ingressos ainda não tinham chegado e esperei, determinada no meu intuito inabalável. Essa força toda amoleceu quando vi um carro (bom,eu devia ter escrito com letra maiúscula...) se aproximar...e um produtor lá disse:"Ela chegou para passar o som".
Ãh???Como assim? Vanessa da Mata? Aqui? E eu aqui? Confesso que quem me visse nesta hora diria que eu estava rindo à tôa, mas na verdade eu sorria dizendo a Deus: "Ok, é vc mesmo quem manda"...
Dei um jeito e fui bater lá no camarim. Esperei um bocado e... bingo! Falei com ela, disse meu nome, minhas origens campinenses e minha admiração pelo trabalho dela (como se pôde perceber, eu fui bem original...). Tirei uma foto e fui 'enxerida' o bastante para pedir outra, porque a primeira tinha ficado escura...O produtor olhou pra mim e disse: "Vivianne,Vivianne...", como se eu estivesse abusando (alguma dúvida?). Horas e telefonemas (claro que eu tinha que contar pra meio mundo, senão, qual a graça?) mais tarde, cheguei no show, meio extasiada ainda pela colher-de-chá que o grandão lá de cima tinha me dado.
Confesso que o show foi menos do que eu previa, mas é aquela coisa da grande expectativa...melhor não criar imagens utópicas, claro. É preciso, como sempre, saborear as maravilhosas 'coincidências' da vida, que acontecem quando Deus resolve fazer pequenos milagres sem se mostrar tanto.
O melhor do show, foi, sem dúvida, essa música aí embaixo, de longe, uma das mais bonitas e significativas que já ouvi (baixem no e-mule, vale a pena!!!) :

Vanessa da Mata - Amado

Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr do Sol, postal, mais ninguém

Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Sinto absoluto o dom de existir,
não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

' Preta e Branco'

O Branco do Leite se aproximou da Preta do Café.Tava cansado da brancura de todo dia e perguntou:

-Preta, como eu faço pra ter essa tua cor?

A Preta respondeu:

-Não sei,Branco,nasci assim. Por quê?

-Tô enjoando dessa minha cor pálida...

-Óia como são as coisas. Tu reclamando de ser alvim. E eu toda no pretume,às vezes não dá nem pra notar que eu caprichei no açúcar ou que no outro dia,tô meio amarga. O escuro é sempre assim, intenso demais.

-Eu também sofro de intensidade. A brancura às vezes é tão clara que eu acabo sofrendo porque me sinto vulnerável. Tô tentando evitar e deixar minha superfície coalhar e virar nata, pra ver se eu consigo despistar minha verdadeira cor.

-Pra quê isso,Branco? Já vi dos teus ficarem com a nata tão acumulada que perderam a essência, deixaram de ser límpidos e alvos, para virarem um amarelo sem graça, como o Guido Manteiga, aquele pastoso do balcão, por exemplo. Ele era como você,bem branquinho, mas se endureceu tanto que deixou de ser o que era.

-Você tem razão,Preta..

(...)

-Tua cor é linda, Branquim.

-A sua também é,Morena.

Naquele momento os dois se olharam bem de perto e sabiam que já faziam parte da vida um do outro. Não adiantou falar muita coisa, aqueles segundos de silêncio no olhar é o passaporte para uma outra porção do espaço. Eram cúmplices de um segredo que os fazia acreditar que não estavam mais sozinhos. Daí em diante, em tão pouco tempo, já não se sentiam tão inteiros quando se separavam. Parecia que sempre ficava um pouco do Branco na Preta, e da Preta no Branco. Mas não era só isso. Por serem muito intensos, não iam se misturando de um jeito comum, como tantos outros, quando estavam juntos criavam um sabor especial,ímpar.

Um dia o Manteiga do Balcão, parado, conversava com o Açucareiro do seu lado, que, por sinal, mesmo sendo tão doce, se inquietava com as formigas, aquelas tietes malucas que não o deixavam em paz um minuto sequer.

-Ei,Açúcar, cadê o Leite Branco que eu nunca mais vi por aqui?

-Ah,Manteiga,você não soube? Ele e a Preta do Café tão juntos agora. Resolveram mudar de cor e até de sabor. Parece que se deram muito bem, estão felizes e acho que o povo gosta deles dois juntos. Virou febre aqui na Padaria, Seu Cleiton até incluiu o nome da mistura deles no cardápio.

-Sério? E qual é o nome?

- "Top Capuccino".

domingo, 23 de setembro de 2007

"La mar"

Eu já tinha ouvido falar tanto de "O velho e o mar"que quando o vi, fininho e com uma linguagem aparentemente simples,senti um certo medo. Por ser um livro fino, meu medo era de terminar logo, rápido demais, sem que as palavras do Hemingway conseguissem embarcar na minha mente, ou ancorar na minha memória por muito tempo. Do começo até grande parte do livro não demorei na leitura, mas minha expectativa era enorme e sentia falta de algo. A expectativa crescia e não encontrando respostas, passei a achar que a ansiedade impedia meu mergulho nas palavras de Hemingway. Parece que meu barco não conseguia deslizar sobre aquele mar prateado de palavras e me senti meio alheia à infinidade dos "peixes" que cercam o livro.É aquela história que de tanto desejar uma coisa e querer transformar aquilo num momento mágico e inesquecível, você acaba não percebendo que o seu desejo aconteceu, por estar mais preocupado com suas próprias exigências.
Mas,como diria um escritor que não lembro bem o nome,"um clássico é um clássico. Não importa se você não está no clima, desconcentrado ou pensando em outra coisa. Um clássico sempre encontrará um caminho para lhe atingir e mudar sua vida".
Quando reparei, já era tarde, e eu estava ali no barco com o Santiago, chamando o mar de "la mar", como os espanhóis o chamam quando "lhe querem bem", dando ao mar uma alma feminina e amorosa(claro que,sendo mulher e fã incondicional do mar, acabo de rebatizá-lo).
Acredito que ao ler 'O velho e o mar' o que fica não são as palavras, mas a história e os sentimentos de Santiago, que carreado de glórias 'pesqueiras' no passado, agora está velho e amargando um longo jejum sem nada pescar, lançando-se ao mar sozinho, com a obrigação de não decepcionar o Manolim, a esta altura, a única pessoa que lhe importa no mundo. Também gostei da sua luta não só pela sobrevivência, mas sobretudo, com os limites e a solidão, o orgulho e a derrota. Percebemos que nossas lembranças são marcadas com sentimentos, entranhadas na alma que sempre reaparecem nos nossos sonhos, como o Santiago sonhando com a brincadeira dos leões.
O livro é daqueles típicos suspenses 'suaves',aumentando sempre a expectativa.Deixei de assistir o 'café filosófico´só para ver a chegada triunfal do pescador à cidade, em ter conquistado o topo. Triste engano. Após uma verdadeira luta, a queda. O autor conseguiu fazer com que eu ficasse inconformada com os rumos da história. Mas,sem dúvida o melhor anti-clímax que já passou por minhas mãos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Veríssimo

Sabe quando você cai, se fode,chora, acharia muito melhor não ter nascido e vem algo, do nada, e muda tudo? Um instante de lucidez? De esperança? De Deus? A respiração que, enfim, volta, com uma ordem de "desapegue!" e vc se liberta dos pesos, sejam eles quais forem? Isso é bom. Alivia, e rearruma as coisas. O necessário para seguir em frente, ainda acreditando na beleza dos dias.Eu gostaria de me livrar dos meus pesos. Tornar a vida mais leve, descomplicar mais. O que me move a continuar essa vida, por tantas vezes chata e neurótica, são os meus sonhos. São eles que me levantam quando nada dá certo. Quando as coisas tornam-se apáticas e melancólicas. Quando a gente quebra a cara, quando tudo se confunde, ou nos esvazia. Tenho medo de cair na tentação de viver sem sonhos. O mundo se torna cada vez mais subdividido em pequenos mundos que cada um cria para si. E é difícil lutar contra isso, ir na contra-mão. Permanecer com valores tão complicados de manter. Mas eu sigo vivendo assim. Algo me diz que eu estou no caminho certo, por mais que a madrugada tenha me dito o contrário, e tentado me persuadir a desistir dos sonhos, das pessoas, do mundo. Acordo com a sensação de que é preciso continuar, a perceber os outros de formas diferentes( "Perdoa, Senhor, eles não sabem o que fazem") e sentir compaixão,esse sentimento tão bom de sentir, já que nos dá uma perspectiva de divindade. De ver lá longe, de perceber os caminhos que as pessoas fazem para se sentirem plenas, sem que para isso precisamos intervir em algo. Eu ainda não desisti do meu sonho de ser feliz. E para me inspirar mais e não cair na tentação de se entregar a um mundo frio e cinza, o Veríssimo me ajuda, parece que ele alisa meu cabelo e fala assim:

"Ponha a mão no peito e sinta as batidas do seu coração. Esse é o relógio da sua vida tiquitaqueando a contagem regressiva do tempo que lhe resta. Um dia ele parará. Isso é cem por cento garantido e não há nada que você possa fazer a respeito. Portanto, não dá para perder um único precioso segundo. Vá atrás do seu sonho com energia e paixão, ou, então, recue e veja-o escorrer pelo ralo.Se você passar o tempo todo em cima do muro, acabará não indo a lugar algum no pouco tempo que lhe resta (sem falar, claro, no perigo das farpas em lugares inconvenientes). Como dizem: "não se salta uma fenda em dois pulinhos". É preciso coragem e dedicação para viver o seus sonhos. (Claro, também é preciso lembrar onde acaba a coragem e começa a estupidez). A verdade é que todos nascemos com potencial para a grandeza, abençoados com oportunidades para alcançar novas e estonteantes alturas. Mas, tristemente, muitos de nós são preguiçosos demais, preocupados demais com o que os outros possam pensar, com medo demais de mudanças, para abrir suas asas e usar todos os seus talentos. É importantíssimo fazer o que deixa feliz - e da melhor maneira possível. Não importa que seja fazer bolas de neve, prender a respiração debaixo d'água, cantar, ou conseguir efeitos dramáticos com um secador de cabelos. Só o que interessa é que você se sinta bem com o que está fazendo. Tenha sempre em mente que, faça o que você fizer, os enganos são parte da vida e não perca tempo se castigando por erros do passado. Não fique ruminando se está ou não fazendo a coisa certa. Você sempre saberá a resposta no seu coração. Em vez de desanimar-se, lembre-se sempre de que rejeição e resistência são inevitáveis quando se faz algo muito importante ou especial.
Quando você se propõe a realizar seus sonhos, muitos tentarão detê-lo (incluindo os que mais amam você). O que não falta neste mundo são pessimistas lamentáveis, que desistem dos seus sonhos, para lhe dizer: "não perca seu tempo, você nunca conseguirá." Você pode muito bem se ver cercado por pessoas que, secretamente, querem ver você fazer menos, ou fracassar por completo, para não se sentir diminuídas. "Esqueça isso", dirão. "Não vale a pena." Por isso, é importante compreender que seguir o seu próprio caminho pode ser incrivelmente recompensador, mas não é fácil não. Como todo mundo, você terá alguns dias melhores que outros. De vez em quando, tudo parecerá uma grande zona de perigo.As pessoas olharão para você com estranheza quando souberem o que você está tentando atingir e você começará a ouvir seus detratores e a ter dúvidas. "Porque não continuei vendendo bananas, meu Deus?" Mas, aconteça o que acontecer, não desista! Lembre-se de que todos têm dificuldades. É incrivelmente cansativo passar dias fazendo coisas que não nos agradam ou sequer nos interessam. Mas, se você perseguir o seu sonho, pelo menos se cansará fazendo o que mais gosta. Você pode achar que nada disto significa muito no grande esquema global das coisas. Mas, acredite: significa! Quando você tirar tudo que puder da sua vida, saboreando cada gota, isto mudará tudo à sua volta, de ordinário para extraordinário. Quando estiver fazendo o que ama, você se levantará de manhã cheio de animação para enfrentar o começo de cada dia e estará tomado de uma alegria sincera, altamente contagiante. Do mesmo modo que, ao dar uma boa risada, faz outro começar a rir, e outro, até que estão todos rindo tanto que começam a lacrimejar, ter dor de estômago e dificuldades em respirar. Mas, melhor do que tudo, fazendo coisas que enroscam os seus bigodes de fazer (presumindo-se, claro que você tenha bigodes), você inspira outros a irem atrás dos seus sonhos, e é assim, meu amigo, que se transforma o mundo!
Sabe de uma coisa? Mesmo que você cometa enganos e esteja errado sobre quase tudo, ainda assim sua vida será uma aventura fantástica e divertida; você dormirá cada noite sabendo que fez o que podia e isso fez diferença e acordará a cada dia antecipando o futuro tão belo e excitante quanto puder imaginar."

And so it is...

Lembro que o Caio Fernando Abreu uma vez escreveu que era natural as pessoas se encontrarem e se perderem. Eu concordo com ele. Só não acho natural as pessoas, ao se encontrarem, desejarem logo a perda rápida, indolor, enquanto há tempo. Não sei se é medo de ser feliz por um instante e amargar o fim depois, mas a questão é até que ponto essa proteção vale a pena. Mas eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir.E aprendi,depois de tanta coisa, a manter a paz de espírito com a certeza de que cada um faz suas próprias escolhas, e ninguém tem o direito de julgá-las. Muito menos eu. Mas eu ainda torço pelos encontros. As perdas são necessárias, mas ainda acredito que perder antes de se encontrar é perder duas vezes. Quero ir pelo lado contrário. Porque sei que é preciso lutar contra a solidão medonha que independe de se estar do lado de alguém. A incompreensão das coisas e o inesperado me fazem me sentir viva, pulsando. É o que esse autor também fala...na "beleza insuportável da coisa inteiramente viva", diante dos nossos olhos. Infelizmente, muitas vezes agimos como o trapezista que só repara na ausência de rede depois do salto lançado. É a vida. Encontros e Desencontros.Perdas e Ganhos. Escolhas e Renúncias. Não é à tôa que tais títulos fazem sucesso. Quem nunca se desencontrou para encontrar, perdeu para ganhar, escolheu e deixou outras possibilidades? Nunca se sabe para quais destinos essas escolhas nos levam. Mas eu tenho uma bússola que me ajuda, que pulsa aqui dentro do lado esquerdo do peito, guiando pelo caminho que ela quer. E é um atalho complicado. Porque, por vezes, ela luta contra uma diretriz poderosa e tantas vezes imbatível, que é a força da razão. E aí, meu amigo, nem sempre o coração sai vencedor...e ileso.

Como diria o Caio Fernando,

"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?"

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Dance with me...

Tentei tocar no violão, mas não consegui chegar nem perto...a música é linda...

Let's dance little stranger
Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again

Burning like an angel
Who has heaven in reprieve
Burning like the voodoo man
With devils on his sleeve

Won't you dance with me
In my world of fantasy?
Won't you dance with me?
Ritual fertility.
Like an aparition
You don't seem real at all
Like a premonition
Of curses on my soul

The way I want to love you
Well it could be against the law
I've seen you in a thousand minds
You've made the angels fall

Won't you dance with me
In my world of fantasy?
Won't you dance with me?
Ritual fertility.

Oh come on little stranger
There's only one last dance
Soon the music's over
Let's give it one more chance.

Won't you dance with me
In my world of fantasy?
Won't you dance with me?
Ritual fertility.

Take a chance with me
In my world of fantasy.
Won't you dance with me?
Ritual fertility.

(
Nouvelle Vague - Dance with me)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Morre lentamente quem não viaja,quem não lê, quem não ouve música,quem destrói o seu amor próprio,quem não se deixa ajudar.Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,repetindo todos os dias o mesmo trajecto,quem não muda as marcas no supermercado,não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.Morre lentamente quem evita uma paixão,quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,justamente as que resgatam brilho nos olhos,sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorteou da chuva incessante,desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,não perguntando sobre um assunto que desconhecee não respondendo quando lhe indagam o que sabe.Evitemos a morte em doses suaves,recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.Estejamos vivos, então!

(Pablo Neruda)

Dias Claros..


Terminei, enfim, de ler o "Livro dos Prazeres" da minha amiga Clarice Lispector. Os 'acasos' às vezes são tão premeditados que acabo pensando que a personagem principal do livro devia se chamar 'Vivianne' e não Loreley (tudo bem,Clarice,Loreley é mais poético e tem todo um significado,admito). Só mesmo uma mulher pra descrever tão bem o mundo do ser mais ininteligível da espécie...a mulher. Parece que vivemos sob o peso de saber, e ao mesmo tempo, fingir não saber, pois sabemos demais. Não aquele saber que os mais inteligentes sabem, mas aquele outro, sabe? (um trocadilho não faz mal!)...E saber demais nos coloca em uma posição inadequada para conviver com os outros. Parece que nós,mulheres, encontramos mais significados nas coisas e mais beleza nas pessoas. Nosso olho de Tandera nos abre a visão para muito além do alcance...às vezes ´além´demais, é verdade. Por vezes nós,mulheres, não precisamos nem receber transmissões nem transmitir. Porque na maioria das vezes,não precisamos de comunicação... Meu sobrinho vai ser menino. Eu vou tentar contar minhas histórias imaginárias, que de tão lindas, acabam criando uma aura mais suave do mundo real...Ele vai pensar que são fábulas, o que vai ser bom. Mas se fosse uma menina, ela ia acreditar e quem sabe, me propor outros finais, o que ia ser ótimo. Por fim, uma passagem do livro me apaixonou, pela semelhança com cenas de um filme (ou minha vida?)...


"De algum modo já aprendera que cada dia nunca lhe era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns.Não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário."

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Da Cólera ao Silêncio


Quase nunca escrevo no mesmo dia, mas hoje estou a fim de jogar a toalha e pedir um tempo. Não sei porque quanto mais eu mostro minha humanidade precária e falível, as pessoas esperam que minhas atitudes sejam sempre dignas do prêmio nobel da paz. Aliás, esta não é uma situação nova, e tampouco exclusivamente minha. Acho que a mola propulsora das mágoas não é a situação em si, mas a espera. Eu espero do outro determinada atitude. Ele age de outra forma. A minha idealização se dissolve e sobra a decepção. Ajo, então, conforme ela manda. Só que o outro também 'esperava' outra coisa. E assim o dominó vai caindo, um por um, por coisas a princípio banais, mas que somaram-se a outras. Daí vem a própria somatização (ou seja, a apreensão de uma realidade exterior para a interior, que culminam nas doenças), as inimizades, a inveja, os amores desfeitos, os transtornos psicológicos. Eu digo à minha terapeuta que uma conversa depois da briga,e no entanto, antes da 'intriga', diminuiria a clientela em 50%, hehehe. Os estóicos, assim como Sidartha Gautama( O Buda) já pregavam que o caminho da felicidade é justamente esse: o desapego. Desapegar-se da projeção, da idealização...enfim. O que sobra é que, no fim, a gente termina consigo mesmo. O que pretendo sempre me desapegar, custe o que custar, é do ressentimento. Como já ensinava Nietzsche, o ressentimento é uma forma de satisfazer-se ilusoriamente no imaginário, diante de uma vingança impossível. Deus me permita vencer o único ressentimento que me resta. Mas eu rogo a Ele todos os dias para que não surjam outros!

É só isso...

Dia cansativo,audiência longa, muito lenga-lenga discutindo nada. Mas foi bom. É bom sentir o dinamismo das coisas, ir à luta, sentir que estamos tentando chegar em algum lugar (bom, às vezes não) mesmo que no fim, as coisas não se modifiquem tanto. Mas o mais importante é a mudança, sem dúvida. Às vezes as mudanças pesam. É difícil viver só. Sem ter alguém nos dizendo o que e como fazer.Muita gente esquece que cresceu e acaba outorgando o poder de decisão a quem estiver mais perto, seja lá quem for.E a dependência faz com que o sujeito se acomode no lugar que está...Nada mais cômodo e natural.Prefiro o avesso, mesmo sendo tão custoso. Descobrir os próprios caminhos e quebrar a cara muitas vezes. As coisas prontas e decifráveis não têm graça. O caminho pré-determinado, seja pelos pais, amigos, sociedade, ou quem quer seja, nos conduz quase sempre aos mesmo lugares e a uma infinidade de vidas cheias de resignação. É estranho viver por aqui. Não sei como é a vida em outros lugares, mas,falando daqui, quase sempre as histórias são tão repetitivas que dá uma certa náusea. A gente acaba prevendo facilmente o 'grand finale' das coisas. Não sei bem porque estou escrevendo isso em tom subliminar (ou não?). Talvez seja porque ando cansada de nadar contra a maré. Parece que a vida repetida é mais confortável, dá menos trabalho. Eu juro que tentei. Mas não consigo viver assim...
-"Como vc está?"
-"Indo..."
-"Pra onde???"

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Dia frio

Martha Medeiros acertou em cheio...


"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um", duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém."

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Fiquei pra tia!!


Eu tô muito feliz. De verdade. Vamos vivendo e descobrindo sentimentos novos. Descobri hoje que vou ser tia de um menino! Caramba, que negócio bom! Parece que a vida ganha uma cor nova, diferente, meio alaranjada com amarelo, com pintinhas azuis e lilás, e umas listras verdes, meio "pop-up"! A gente vai aprendendo a viver. A saborear os momentos, a prestar mais atenção no que realmente importa, a intensificar as sensações boas. Quando minha irmã me ligou, a gente ficou meio sem saber o que dizer, já que ela é mãe e eu sou tia de primeira viagem. A voz dela embargou e a minha só fazia tentar mostrar meu sorriso de ponta a ponta, mas não foi possível,claro, porque eu não conseguia emitir um som audível! É engraçado como a vida se desenrola. Eu precisei ter, enfim, o meu quarto só pra mim para perceber o quanto minha irmã fazia falta nele. Também precisei brigar com meu irmão por uma tolice, ele se acidentar, eu ter medo de perdê-lo, e chegar no hospital chorando, dando um afago na testa dele, naquele silêncio que fala mais que qualquer palavra. É a ausência boa, que nos dá a real importância da presença. E como as presenças na minha vida são"presentes"! Êta, se fui triste não me lembro... ;)

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Quinta-Feira...

Engraçado como ele consegue ir tão fundo na alma de cada um. Voz suave, discurso sem pieguices ou preconceitos, frases que ecoam na mente por algum tempo. Conheci este rapaz quando ele ainda era simplesmente Fábio de Melo, não havia se tornado Padre (nem famoso,hehe) , e em uma de suas idas à Campina, fomos deixá-lo em João Pessoa, depois do show. 2h de conversa e 20 anos de lembranças...Hoje ele conversa com meio mundo de gente, na quinta-feira, pela Canção Nova, às 22h30.Conheço ateu, espírita, evangélico, ubandista, cristão, sabe-se-lá-o-que-mais, que assiste. É bom, de verdade. Esse é um dos textos dele que mais me identifico, já que a menina rechonchuda que habita em mim não se conforma de ter crescido... ;)

"O desenho de nuvens é sempre um encanto diante dos olhos de quem ainda não cresceu demais. Infância resguardada, e que não impede a maturidade. Apenas um detalhe de criancice preservada; coisa que não faz diferença na somatória final que nos confere responsabilidade.Tenho descoberto um menino escondido em meu corpo crescido. Vem quando menos imagino; e vem querendo ficar. O desassossego é próprio dos tempos de transição. Há tantas felicidades do outro lado da ponte, mas antes é preciso a travessia. Mas eu não tenho direito de esperar por felicidade alguma. Travessia também é lugar de felicidade. Aprendi a duras penas. Pena que por vezes me esqueço.Eu não quero esquecer tantas coisas, mas eis que vem o menino e rabisca minha agenda e me convida para uma vagabundagem inocente. A chuva caindo lá fora, e ele gritando aqui dentro de mim, pedindo pra eu retirar os sapatos, correr na chuva e colocar na enxurrada, barquinhos de papel.Esse menino não tem jeito, mas é ele que dá jeito em mim. Quando a vida fica dura demais para ser enfrentada, ele me presenteia com um jeito engraçado de ver os fatos. Aí eu rio e durmo sem os medos que me acordaram no meio da noite.A vida é assim. Quando o adulto não suporta o peso há sempre um menino escondido, pronto para nos ajudar a continuar.Eu continuo, mas continuo porque há um menino me conduzindo, não me deixando desistir. Ele me conduz pela mão... "

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Auto-Ajuda!



Adoro uma frase do Ariano Suassuna em que ele fala que o mundo deve ser francamente dividido em dois grandes contingentes humanos: o primeiro, simplesmente formado pelas pessoas que gostam de nós e concordam conosco. O resto do mundo será constituído necessariamente por um punhado de equivocados!!! =)

Confesso que esse blog não foi feito propositalmente. Um dia, por acaso (se é que existem acasos), na decisão de fazer com que meus papéis não voassem, uso a tecnologia a meu favor, e acabo escrevendo aqui, abrindo o cadeado dos meus pensamentos para sabe se lá quem, ler. Ou até mesmo ninguém. Despretensiosamente, é claro, como tudo o que eu faço. Mas parece que mesmo sem intenção, a gente acaba atraindo "mau olhado" e gente que "mete o pau" em alguma coisa, seja ela boa ou ruim, que alguém diz gostar. É o chamado espírito de porco: aquele povo que começa uma conversa com "Vc não sabe da última...",no meio dispara um "Vc gosta´daquilo´?", ou então arremata com um "Pois é, minha filha, foi assim"...

Quem não se depara o tempo todo com gente do tipo? Mas, infelizmente, a vida é isto, composta de seres humanos com todo o peso da falibilidade, própria dos "humanos".

Uma amiga minha disse que fulana tinha achado este blog "auto-ajuda". Confesso que, ao invés de me incomodar, eu gostei, sabia? Em meio a tantos blogs, orkuts, personagens da internet "auto-promocionais" nada melhor que algumas palavras que possam fazer bem a alguém. Ou quem sabe, fazer com que a pessoa se identifique e haja uma cumplicidade 'virtual' entre os sentimentos tão comuns à maioria das pessoas. Achei muito bom esse negócio de auto ajuda. É prático. Clarice Lispector é minha auto ajuda preferida. Ela me entende, parece que somos confidentes. Eu sinto algo, a danada vai, e o descreve perfeitamente. E quando leio...ah, enfim, alguém que me compreende! E quase sempre ela não me dá a solução, apenas me ajuda a me sentir melhor. Os poemas da Adélia Prado também me auto ajudam. Eu pego o livrinho "Oráculos de Maio" e declamo com ela "Ai, meu Deus, meu Pai, me cura de ser grande!". A Cecília Meireles também é outra amiga que escreve sobre meus dramas de uma forma ímpar. Vai ali, quietinha, e só de ler "A vida só é possível reinventada", penso que é preciso seguir em frente, dando novos passos...Ah,Meireles,obrigada.Vou seguir seu conselho!

Também tenho amigos que me auto ajudam. É só saber que eles estão ali, que, por mim mesma, já me sinto melhor. E as músicas então? Hoje escutei, depois de um bom tempo, os Titãs ensinando..."Quando não houver esperança,quando não restar nem ilusão, Ainda há de haver esperança, em cada um de nós, algo de uma criança"...e claro que, ouvindo, me auto ajudei (retundante,né? mas é assim mesmo) .

Bem, agradeço de coração o adjetivo. Pelo menos, aqui, eu sou o que me permito ser. Com todas as minhas limitações, sendo, entretanto, sempre inteira, como já me alertava o Fernando Pessoa (´sê inteiro em tudo o que fazes') .Não copio nada de ninguém, não me meto a pseudo-intelectual, não posto coisas que eu não sei discutir sobre. Pra quê? Para cavar elogios ou respeito? Quem sabe instigar alguém a se interessar por mim? Não, não. Preciso não.O nome do blog já confirma meu propósito. Afinal, como diria um grandioso "auto-ajuda", Renato Russo: "O que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém..."

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

"Brabuletas"


Acredito que Deus nos tem como uma larva. Ele sabe exatamente no que iremos nos transformar, para onde devemos ir, para seguir nossa missão no mundo.Mas para transformar-se em uma linda borboleta, cheia de cores, a larva precisa se desenvolver aos poucos. Como isso leva tempo, Deus traz uma larvinha para junto da gente(não esqueçam que ainda somos larvas), para ajudar a nos desenvolvermos juntas. As larvinhas vão dividindo as aflições, as dores e as alegrias juntas uma da outra, sendo cúmplices, e começam a gostarem tanto de estar perto, que descobrem aquele sentimento que batizamos de amor. Só que Deus percebe que elas não foram criadas para deslizarem juntas, e sim para voarem! Então Ele começa a metamorfose. Uma asinha aqui...um olhinho ali...as larvinhas não percebem, mas as mudanças exigem mais espaço...mais espaço...até que a mudança acontece....e enfim, elas viram borboletas, lindas, grandes, cheias de nuances que as distiguem uma da outra e das demais.. elas são únicas. Não há ninguém igual. Cada uma carrega sua história, suas marcas, sua própria mudança. Só que agora, não há como continuarem juntas. Cresceram demais. Precisam seguir seu próprio caminho...mas como? Deus esqueceu que aquele sentimento que ambas nutriam uma pela outra tinha adquirido um significado, uma importância tal que elas agora nem sabiam se queriam seguir o seu rumo...Mas Deus sabe que elas vieram com um propósito, e precisam seguir adiante. Mas, sensível a dor daqueles seres enamorados, resolve dar um consolo, e lhes coloca na mente lembranças que jamais serão apagadas.E cada vez que lembrarmos,haveremos de sorrir e lembrar de um tempo feliz...de deslizes, de aconchegos...que nos fizeram ser o que somos hoje: seres mais bonitos, mais livres e mais conscientes do sentido da vida. As larvinhas que Deus manda na metamorfose são essenciais para nos fazer descobrir nosso valor, o que podemos e devemos ser. A esse alento que Deus nos coloca no coração, chamamos de "saudade". Ela é irmã do amor, mas dele se difere porque não precisa mais do contato físico para lembrar. Ela aparece como uma certeza de que jamais morreremos.Porque estamos gravados na mente e no coração de alguém. Nem que seja da larvinha que hoje é borboleta e voou....voou.....